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O revanchismo e a caixa preta do Seturn

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60 anos explorando, sozinho, o transporte público de Natal. Destes, pelo menos 24 com base em ações judiciais para impedir a licitação do serviço na capital.

A última ação que garante o Seturn como o único pool de empresas que exploram o transporte público venceu em meados de 2010. Ou seja, exploram o serviço de forma ilegal.

Em resumo, um delicioso capitalismo sem riscos, nem concorrência para os empresários do setor de transporte. E, como se não bastasse, um dos maiores financiadores de campanhas de prefeito e vereador.

Esses fatos talvez expliquem a arrogância de Augusto Maranhão em entrevista dada à TV Cabugi nesta quarta-feira.

Nela, diz ele, vão diminuir as linhas e suspender o serviço de integração, garantido por lei municipal, por conta da revogação da tarifa de R$ 2,40, concedida pela Câmara dos Vereadores.

Revanchismo ou sensação de que manda em tudo?

É bom lembrar que o serviço de integração não é uma “boa ação” dos empresários, mas um dever, garantido por lei.  Não é simplesmente “fiquei com raivinha e parei de brincar”, é coisa séria, que afeta milhares de natalenses.

Imagino que mais que arrogância, uma espécie de ganância desenfreada define melhor o sentimento do Seturn em relação à população.

Quando cobri transporte em Natal, um dado sempre me chamava à atenção: descumprindo a lei orgânica do município, as empresas nunca apresentaram uma planilha de custos que justificasse qualquer aumento dado nas passagens de ônibus.

Aliás, a prefeitura simplesmente não sabe quantas pessoas pegam ônibus em Natal e quais são os lugares de maior e menor demanda.

Não há nenhum controle público sobre a atividade de transporte urbano, nenhum tipo de fiscalização independente. Nada.

O resultado disso: as empresas aproveitam o seu monopólio para fixar preços mais altos, maximizar lucros e, com isso, comprar apoios políticos que lhe garantam a permanência no poder.

Por outro lado, a população é prejudicada com tarifas abusivas e um péssimo serviço prestado.

E quando há qualquer derrota política, o Seturn vem com um teatrinho que beira o ridículo.

O mais recente deles foi a pseudo falência da empresa Riograndense.

Ninguém se perguntou em Natal, mas como uma empresa fecha as portas, com todos os salários em dia e as dívidas pagas? Isso não existe aqui nem na China. É fake, como dizemos na internet.

Soa muito mais como uma jogada para tentar fixar a tarifa em preços mais altos, do que como um sinal de que o negócio “ficou inviável”, como dizem.

Valeria um bom exercício se o judiciário potiguar, antes de dar qualquer decisão sobre a tarifa de ônibus, exigisse a realização de uma auditoria independente em todo o serviço de transporte prestado pelo Seturn.

Abrir a caixa preta de um monopólio de mais de 60 anos, em tempos de lei de acesso à informação pública, seria um excelente serviço que a justiça prestaria para a sociedade potiguar.

E revelaria, dentre outras coisas, detalhes sobre o bom negócio que é o transporte público de Natal.