Em matéria publicada no dia 04 de julho de 2010, nosso famoso jornal, a “Tribuna do Norte”, publica uma matéria que aborda a questão do consumo de drogas dentro da cidade de Natal e nas universidades em especial.
Sempre que se debate este assunto fico de orelha em pé, é comum confundirem problemas com “drogas” com problemas de ordem social. Explico melhor. A exemplo do que quero falar, um professor do departamento de serviço social da UFRN faz o seguinte comentário no artigo do referido jornal: “Ainda há muito preconceito da sociedade em relação ao usuário. Muitos acham que o consumo de drogas tem a ver com a moral da pessoa, a ética. Embora já tenha se visto que se trata de uma doença, não é encarada assim para a maior parte das pessoas, que ainda consideram um desvio de conduta”. Uma afirmação como esta pode ser interpretada de diversas formas (tendo em vista a generalidade com que se tratou o assunto). Existe a primeira interpretação, que é aquela que comumente se faz, ao associar SEMPRE o uso de droga (seja qual for) à algum tipo de patologia. Todas as pessoas que consomem algum tipo de droga seriam, segundo alguns, pessoas doentes que precisariam de tratamento para livrar-se deste mal. Trata-se do que chamo de preconceito às avessas.
Inverte-se as causas, transformam-nas em consequências e cria-se um monstro teórico que nada responde e nada resolve. Em primeiro lugar é preciso lhe dar com um fato “trágico”: Não importa o que se faça, as pessoas continuarão a usar drogas. E o fazem não por serem doentes ou viciadas, o fazem por gerar prazer, por tirá-las da rotina e proporcionar uma outra forma de sentir o mundo à sua volta. Colocar no mesmo saco um alcoólatra e uma pessoa que bebe nos fins de semana (após trabalhar 8 horas por dia todos os dias) é definitivamente um absurdo e mais atrapalha do que resolve. A “patologia” está nos níveis e não “à priori” em uma prática.
A segunda interpretação possível para a ilustre frase do professor doutor em Sociologia seria justamente a de compreender que existem pessoas que podem usar drogas e outras não. Existem aqueles que se colocarem um copo de cerveja na boca não saberão a hora de parar, como também este copo pode conduzi-lo a um baseado, depois a uma carreira de cocaína, quem sabe um LSD e “por fim” ao crack. É preciso compreender que o “destempero” no uso de drogas deve ser tratado com cautela para não culpar aqueles que fazem um uso saudável daquilo que denominamos como “droga”. Milhares de exemplos podem ser dados a este respeito. Eu particularmente conheço centenas de pessoas que bebem sua cerveja, cachaça ou fumam seu baseado e são pessoas maravilhosas, emocionalmente estáveis, economicamente bem sucedidas, inteligentes, que criaram bem seus filhos, etc… e ao contrário do que já devem estar pensando, afirmo: Não! Elas não são jovens, são “senhores” de 50, 60 anos e que fazem o uso “saudável” desde sua juventude. Como dizer então que é “essencialmente” ruim? Se tais pessoas são saudáveis (isso mesmo! Seus exames de saúde não apresentam ou deixam a desejar em nada em relação as pessoas que não consomem nenhum tipo de droga), assim como conheço aqueles que não bebem, que praticam esportes diariamente e são completamente destemperados, violentos e verdadeiras párias sociais.
O uso ou não de uma substância não pode ser o atestado para dizer que uma pessoa é “doente” ou não. Na realidade esta trata-se tão somente de uma visão conservadora que mais atrapalha do que ajuda no processo de tratamento daqueles que realmente precisam.
O que se precisa ser dito com todas as palavras é que “algumas pessoas podem usar drogas, outras não” (assim como algumas pessoas podem usar armas e outras não, assim como algumas pessoas podem ser promotores e outros não, etc. Existem perfis psicológicos que permitem determinados tipos de comportamentos, generalizar é a maneira menos inteligente de se resolver a questão). Existem artigos científicos e neuro-cientistas com fama internacional que botam abaixo tudo o que foi colocado no artigo da tribuna. A exemplo disto ler “Maconha, mente e saúde” do neuro-cientista (com vários artigos publicados na maior revista brasileira de neuro-ciência, a “Mente e Cérebro”) de Sidarta Ribeiro..