Pessoas desonestas sempre existiram. Em todas tribos, países ou nações. Não existe um só relato histórico onde a desonestidade não apareça em local de destaque. É assim que as estruturas funcionam, a corrupção da moral estabelecida é detestável em todos os locais. Desde antes do surgimento da escrita, os enredos míticos já denunciavam a amoralidade presente nos atos de corrupção. As punições destinadas aos corruptores da boa moral sem dúvida alguma mutam ao sabor do tempo e da cultura. Desde às primeiras leis escritas aos modernos códigos de leis, a história das punições teve local de destaque para a formação moral da população, uma espécie de poder disciplinar que visa sempre mais propriamente educar do que punir.
Nesta perspectiva, existem sempre punições em escalas diferentes de corrupção. Trata-se de uma atitude pouco sensata igualar, por exemplo, um ladrão de galinhas à um ladrão de banco. Notadamente as punições “geralmente” estão associadas ao tamanho do mal causado. Quanto mais sacro for o item corrompido, tão maior será a punição destinada.Em algumas nações modernas, por exemplo, ao cometer um homicídio, um cidadão poderá facilmente ser condenado à prisão perpétua, em alguns casos extremos, à pena de morte. Somos mais tolerantes neste aspecto, isso é positivo, é um passo adiante, é virtude e não vício, é acreditar na recuperação e (re)socialização de um indivíduo. O caso de “Stanley ‘Tookie’ Williams”, no Brasil, teria um desfecho diferente. Porém, ao ser julgado por parricídio, homicídio com requintes de crueldade ou estupro seguido de morte, não importará sua classe social, origem ou poder econômico, lhe será reservada, nas sociedades modernas, sem dúvida, a pena máxima prevista em lei, por tratarem-se de crimes hediondos, ou seja, aqueles que ferem profundamente a moral social.
Os atos criminosos, condutas que levam à corrupção da moral estabelecida, e as punições reservadas a eles parecem, portanto, estabelecer um elo, e uma relação direta de causa e efeito. Tanto maior será a sua punição quanto maior for a sacralidade do item violado.
Como bem podemos ver em várias teorias de sociólogos brasileiros contemporâneos, o Estado brasileiro desde o seu surgimento sempre esteve à mercê do mercado. Surgiu em sua função, e não o contrário, como “seria de se esperar”. Sua posição foi sempre de coadjuvante, em raros momentos ator principal. Não é de se saltar aos olhos, portanto, que o Estado ou a coisa pública não sejam vistos como algo sacro e inviolável, posição que lhe caberia devido à função que ocupa na vida dos cidadãos. Parece-nos então que a moral brasileira sofre assim de um excesso de virtudes em alguns pontos que a conduzem à um destino nefasto. O excesso de humildade conduz à submissão assim como a liberdade sem limites conduz à tirania. E parece-nos que trata-se justamente do excesso de virtude um dos males da nossa moral. Nossa tolerância excessiva transforma-se em descaso, e como o Estado nunca figurou entre os ícones sacros em nossa nação, não é de se surpreender que a corrupção no nosso país seja tratada de uma maneira bem “à brasileira”..