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Um herói brasileiro

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Por Paulo Afonso Linhares

 

 

Uma folha em branco a desafiar àquele que escreve. Falar sobre o quê? Uma folha e mais um pouco de outra deve ser produzida como obrigação semanal de encontrar o(a) leitor(a) através das páginas deste jornal. Encontro decerto prazeiroso e que já se fez hábito de vida, para mim. Os assuntos, todavia, se mostram cada vez mais despidos de novidades e mesmo de interesse. Escassos até. Depois de correr o olho nas notícias do dia, restou um assunto digno de nota, que se refere à morte de Félix Miéli Venerando, paulista, 74 anos, falecido em decorrência de uma doença pulmonar obstrutiva crônica agravada por pneumonia. E quem seria esse cidadão senão o Félix, goleiro do selecionado brasileiro que conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo da FIFA de 1970, ficando definitivamente com a Taça Jules Rimet (por uma ironia, roubada por um argentino quando exposta no Estádio do Maracanã, em 1983, e jamais recuperada, pois teria sido derretida – eram mais de quatro quilos de ouro – para satisfazer a cobiça dos ladrões)?  No Brasil, quando nos faltam todos os chãos, temos ainda o chão do futebol sobre o qual deitar a nossa escrita.

Para alguns apenas o “gato Félix”, cujas defesas espetaculares foi complemento perfeito à obra de Jairzinho, Pelé, Tostão, Rivelino, Gerson e Carlos Alberto, findou como uma das mais notáveis surpresas do escrete tricampeão de 1970, mormente pela circunstância de que tradicionalmente o Brasil jamais foi pátria de bons goleiros e na memória de todos ainda estava para todo o sempre aquela figura patética do goleio Barbosa, engolira os dois malfadados gols que embargaram a voz de cem mil pessoas numa certa tarde do Maracanã. Aliás, o bom Babosa foi um enorme injustiçado com a pecha de responsável pela derrota para os uruguaios em 1950. Coisas que nem os deuses do futebol podem explicar.

Certo é que o Brasil precisava de um goleiro com personalidade para a seleção que, sob o comando do polêmico Zagalo, tinha o papel histórico de reescrever páginas gloriosas do futebol mundial, mormente o que se passaria no Estádio Azteca, da Cidudad de México,  naquele 21 de junho de 1970, quando impusemos aos italianos uma cachoeira de (quatro) belos gols – a começar pela bela cabeçada de Pelé no cruzamento de Rivelino, aos 18 do primeiro tempo – contra apenas um da dominada Azzura. Nas três fases dessa Copa pontificou na seleção Canarinha aquele goleiro, o nosso sisudo Félix, que embora não fosse capaz de fazer defesas tão espetaculares como aquela que fizera o já então lendário Gordon Banks naquele 1×0 do Brasil vs Inglaterra, na primeira fase, cujo lance mais célebre da partida foi a forte cabeçada para o chão de Pelé que não atingiu o gol graças à impressionante defesa de Banks, que conseguiu com as pontas dos dedos mandar a bola por cima do travessão. O providencial gol de Jairzinho  sacramentou a vitória dos brasileiros pela contagem mínima. Félix também não tinha o prestigio de um Ladislao Mazurkiewicz, o polaco-uruguaio considerado o melhor goleiro da Copa de 1970, ou o do alemão Sepp Meier, mas, ao fim do torneio, deixou os gramados do México como um respeitável goleiro.

Foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em junho passado, a Lei Geral da Copa que teve incluído dispositivo que concedia aposentadoria para os campeões mundiais da seleção brasileira que participaram dos três primeiros  campeonatos mundiais de futebol ganhos pelo Brasil. Essa Lei valeria a partir de janeiro de 2013, cujo benefício não pôde ser desfrutado diretamente pelo goleiro Félix, ele que indubitavelmente foi um herói verdadeiro das gentes deste Brasil. Ave, Félix!