Micarla de Sousa teve ascensão meteórica na política. Diria até, parafraseando o bom filósofo, que foi como um trovão em um dia de céu azul. Em 2004 se tornou vice-prefeita, 2006 deputada estadual e 2008 chegou ao palácio Felipe Camarão.
A rápida projeção se devia, principalmente, a um programa que mantinha diariamente em sua emissora de Tv, filiada do SBT no RN. No programa, que passava por volta do meio dia, momento de maior audiência da Tv Ponta Negra, criticava políticos e se mostrava habilitada para desempenhar uma gestão eficiente, mas com sua sensibilidade de mulher e apresentadora do povo.
Ajudada pelas trapalhadas do PT, que conduziu estratégia para ser esquecida, Micarla de Sousa ganha ainda no primeiro turno da deputada federal Fátima Bezerra. A prefeita eleita explorou, sobretudo, o seu suposto papel de mãe sensível e de empresária de sucesso. Com ela, sua propaganda dizia, “Natal pode muito mais”.
A história, no entanto, apresenta outros ingredientes. A trajetória verde esconde algo que para o natalense hoje é fundamental: se não fosse o apoio de José Agripino, Micarla não teria ganho aquelas eleições.
Ora, foi José Agripino o principal entusiasta da candidatura da borboleta. O DEMOCRATA trouxe toda a “estrutura” necessária para sua vitória. Outros caciques também contribuíram decisivamente: João Maia, Robinson Faria e Rosalba Ciarlini também estiveram na linha de frente de sua campanha.
Micarla de Sousa, ainda que inexperiente politicamente, sabia, no entanto, quem sem apoio de peso, seu carisma não daria nem para o começo. Ainda que a gente viva tempos de “político celebridade”, simpatia não vence uma campanha e Micarla, como ficou mais claro do que o sol na frente da prefeitura, não possuía cabeça de político.
José Agripino e adjacências planejaram toda a campanha de Micarla: arrecadação de campanha (teve até um carecão presente, distribuindo o pão, o que muita gente hoje quer esquecer… numa estratégia do “se fazer de doido”, como a gente costuma falar por essas bandas), tempo de tv, recursos partidários, gente qualificada para as atividades eleitorais, etc. Até as ruas que Micarla visitiva eram marcadas pela equipe do DEMOCRATAS. Não há nem uma novidade no que relato.
Com uma pauta moralista (eu sou mãe, casada e tenho dois filhos, dizia a atual prefeita em um tom claramente populista e tentando chamar os eleitores “à realidade”), o resultado, como disse, foi apoteótico.
A expectativa gerada batia no céu de tão grande. Rosalba Ciarlini, então senadora, fez caminhadas e pediu voto para ela. Já via na borboleta uma possível aliada para o seu projeto de se tornar governadora do estado em 2010, o que, da parte de Micarla de Sousa, foi cumprido.
A prefeita, durante as eleições de 2010, cedeu secretários e o pessoal de sua equipe para que a governadora pudesse se eleger. Como esquecer da reunião, que segundo notícias da época, reuniu mais de oito mil comissionados em que a prefeita pedia voto para o seu marido Miguel Weber, sua irmã Rosy e sua parceira Rosalba Ciarlini?
Micarla de Sousa, apesar de não ter aparecido na eleição rosada, deu forte apoio a “Rosa”, como chama o jornalismo bajulatório, e contribuiu para a sua vitória. A promessa era de que Rosalba iria retribuir com fortes parcerias administrativas e até, possivelmente, com a continuidade do alinhamento político. Micarla, já pensando em sua reeleição e não aceitando as investidas de Iberê, selou o acordo.
Depois do resultado e com avaliação negativa acachapante, Rosalba Ciarlini começou o processo de escanteamento de Micarla de Sousa. Além de não efetivar as sonhadas parcerias administrativas com o município de Natal, conforme Micarla de Sousa sonhou, fez de desentendida com a borboleta.
A amnésia de última hora cultivada por Rosalba Ciarlini se estendeu por todo o seu partido. José Agripino, após ter comandado a secretaria de planejamento, através do seu indicado Augusto Viveiros, fez que a condição de penúria administrativa e política da prefeitura do Natal não era com ele.
O esquecimento foi tão significativo, que hoje, José Agripino e Rosalba Ciarlini, em que pese terem ajudado a eleger a atual prefeita, fazem pesadas críticas a ela e agem como se fossem oposição a borboleta desde pequenininhos.
Esqueceram do apoio financeiro, logístico e de inteligência dado ao partido verde em 2008. Não se lembram mais das muitas indicações que fizeram nos dois primeiros anos de governo de Micarla e se fizeram “de doidos” (desculpe pela repetição, mas adoro esta expressão) no que concerne o papel fundamental que os partidários da prefeita, com a máquina na mão, tiveram na vitória da ex prefeita de Mossoró em 2010.
Sem dúvida alguma que Micarla de Sousa faz uma péssima administração. Isto não é segredo para ninguém. Basta andar pelas ruas da cidade para sentir o drama.
No entanto, tenho pena da prefeita, às vezes. Pena? Sim! Pena! Por ver que ela acreditou nas “análises” de uma dúzia de babões, que viam na borboleta uma nova liderança política do RN, que poderia romper com José Agripino, sua cabeça e seus braços, e continuar a administrar tranquilamente dentro de uma condição de total vácuo político.
José Agripino, por sua vez, só rompeu com a prefeita porque se viu contrariado em seus interesses. O fim da relação política com Micarla de Sousa não teve nada a ver com uma avaliação da situação da cidade. Se sentiu contrariado porque Micarla de Sousa, sua cria – “filha”, como certa vez ele a adjetivou -, lhe tirou a chave do cofre da prefeitura, após dois anos de gestão.
Foi somente neste momento que ele acenou com a separação de seu partido com o partido da prefeita. A desculpa do apoio de Micarla a Dilma Rousseff na campanha presidencial foi mero engodo, ou será que ele irá romper também com a governadora Rosalba Ciarlini, que vendo a falta de recursos, implora por uma aproximação com o governo federal?!
Escrevo tudo isso para dizer uma coisa: o natalense não pode se esquecer. José Agripino e seu partido, o DEMOCRATAS, atuaram fortemente para que a prefeita se elegesse. O cenário criado pela administração Micarla de Sousa também teve e continuou, durante muito tempo, a ter o dedo do “Zé”.
É fundamental também lembrar que Rosalba Ciarlini renegou José Serra durante a campanha, apesar de fazer parte de sua base política durante as eleições presidenciais de 2010, assim como faz agora com Micarla de Sousa, a quem sempre deu apoio e recebeu os dividendos políticos durante a campanha de 2010 por parte da borboleta.
Portanto, votar no projeto político de José Agripino / Rosalba Ciarlini em 2012 é o mesmo que, mais uma vez, se render ás condições que fizeram Micarla de Sousa prefeita e apoiar uma administração que amarga 90% de reprovação popular.
Mais um lembrete: as boas administrações públicas de Natal nos últimos 25 anos sempre tiveram um pé nas idéias progressistas capitaneadas pelo bloco de centro esquerda. E isto, meus caros, não é mera coincidência.
PS: Foto retirada do portal nominuto..