O texto “Eleição em Natal repete ‘dinastias’ familiares do Rio Grande do Norte”, publicado pelo site UOL e no nosso portal, empolgou o centro-esquerda do RN. Muitas curtidas e tuittadas pelas redes. Êxtase em torno de um tema que serve para ocultar outras questões não abordadas entre os vermelhos. O fato é que a esquerda também precisa se abrir para novas lideranças. Hoje, há pouco espaço. No máximo, candidaturas para o legislativo municipal.
Fico me perguntando sobre o estrago – positivo – que uma pessoa com o perfil de Linderberg Faria, senador carioca pelo PT, seria capaz de fazer na política do RN. Geraldo Forte, com uma cara nova, teve votação significativa para prefeito de Natal por um partideco. Imagine um rosto diferente, com carisma e projeto consistente?!
Natal e o RN querem gente nova, perspectivas diferentes do tradicional. O problema é que Rosalba, Micarla, etc, foram mais capazes de atender ao anseio social de mudança.
O cenário consolidado denuncia certa incapacidade da esquerda no RN de aumentar a base de diálogo e de fugir do seu “normal”. Fernando Mineiro e Fátima Bezerra são bons nomes, mas precisam abrir o PT. Não dá mais para se contentar com a ligação apenas com os seus tradicionais estratos políticos da sociedade – alguns sindicatos, movimento estudantil, UFRN, etc.
O vácuo poderia ser ocupado pelo PSOL. Porém, falta também visão política. O discurso “contra as oligarquias”, base das falas de Robério, candidato pelo PSOL-PSTU, cria uma barreira do postulante e dos seus partidos com a sociedade natalense. A ênfase nos diplomas – “eu sou doutor”, não cansa de dizer o professor da UFRN – descamba para uma visão hierarquizadora e consagra a política como o espaço dos “iniciados”. E o conservadorismo rouba a cena.
O militante de esquerda também parte de uma posição de superioridade ideológica, bastante compartilhada entre os filiados do PT, PSOL, PSTU, etc, que só gera resistência em relação aqueles que tem boa vontade cultural para com as bandeiras de esquerda. O paradoxal – ou não? – é que, em muitos momentos, a direita da cidade apresenta maior capacidade de ouvir e convencer do que a esquerda.
É fundamental deixar o discurso das oligarquias de lado, estabelecer amplo diálogo com a sociedade e não ter medo de ser de esquerda, como Mineiro, candidato pelo PT, demonstra no caso da Via Costeira.
Leio o panfleto do candidato a vereador Fernando Lucena e penso, a partir de suas propostas fortemente voltadas para a classe média tradicional da cidade, que se trata de uma candidatura do DEM e não do PT. Zero no quesito diálogo com o povo. Enquanto isso, Dickson Nasser não tem medo de entrar na casa das pessoas e ouvir, conversar, sem “querer ensinar as pessoas como elas devem viver”. Sem chamar os cidadãos de “conservadores”.
Natal quer ser empolgada e sair do marasmo que toma conta da política. Vide o curto período de re-democratização natalense. Sobra habilidade para o velho colonizar o novo e falta competência para a esquerda.