Por Paulo Afonso Linhares, Professor da UERN
Um bordão que fez muito sucesso em antigo programa de humor televisivo foi aquele que o sujeito dizia, para comentar qualquer situação: “É culpa do governo!” Essa situação foi lembrada quando vi pessoas a comentar irritadas sobre a atuação dos atletas brasileiros nas Olimpíadas de Londres, nos últimos dias, onde têm ganhado umas poucas medalhas, quase todas de bronze. E o comentário é sempre acompanhado com o inevitável sarrafo nas costas do governo, “que não investe em educação e em esportes”; “que não patrocina as nossas melhores vocações desportivas”; “que não constrói espaços para a prática de esportes” etc. Claro, essas questões não se resolvem simplesmente apontando o governo como único vilão dessa história.
A falta de financiamento estatal pode ser um dos fatores do nosso insucesso olímpico, mas, não pode ser tido como causa última e definitiva; muitas são as explicações para o baixo desempenho dos atletas brasileiros nas olimpíadas, que vão de questões histórico-culturais às de financiamento das atividades esportivas e formação de atletas, seja pelos entes públicos seja mesmo pelas empresas e instituições da iniciativa privada. Claro, à exceção do futebol dito “association” (ou apenas “soccer”, nos países de língua inglesa), que continua a ser uma mania nacional, embora a Seleção Canarinha esteja no 13° lugar no ranking da FIFA.
O sucesso de alguns países nos jogos olímpicos tem como base políticas estatais abrangentes e bem estruturadas, como é o caso da China. Ou, a formação de novos atletas se dá a partir de uma enorme rede de instituições de ensino – do fundamental ao universitário – que investem vultosos recursos em centros de treinamento das mais diversas modalidades esportivas, além da realização de muitos eventos e competições, como é o caso dos Estados Unidos da América. Não sem razão os EUA e a China ocupam, neste momento, os dois primeiros lugares na conquista de medalhas nos jogos de Londres. Os investimentos de médio e longo prazos têm sido plenamente recompensados e traduzidos em muitas medalhas de ouro e, sobretudo, na quebra de recordes olímpicos e mundiais. Obviamente que não se pode imaginar esse crescimento fora de uma relação como o desenvolvimento social e econômico da comunidade.
No Brasil, uma coisa é bem certa: já é hora da sociedade brasileira abandonar essa muleta paternalista, de achar que todas as soluções dos seus problemas devem estar na esfera dos governos. O desenvolvimento sócio-econômico pressupõe a atuação conjunta dos setores públicos e
privados, nos diversos campos e domínios das atividades humanas. Por isto é que não dá mais para reclamar a toda hora que “a culpa é do governo”.