O brasileiro adora se colocar como o povo bonito por natureza, alegre, festeiro, receptivo, averso a contradições. Esta auto-imagem, além de esconder outros preconceitos, tente também a camuflar a xenofobia que nos atravessa. Em Natal, há um discurso compartilhado e direcionado contra o estrangeiro que pode muito bem se enquadrar nessa perspectiva.
O turista, alias, vive uma caracterização ambígua – ao mesmo tempo em que as ditas “autoridades” e membros da chamada “indústria limpa”, hoteleiros, pequenos comerciantes, donos de restaurante, etc, vibram com os vôos charters vindos de outros países, parte da sociedade se ressente por por “perder a cidade” para os “gringos”, como os estrangeiros que nos visitam são enquadrados… pejorativamente.
Nessa ótica, o italiano, finlandês, português, etc, chegam a ser vistos quase como maniacos sexuais. “Eles vêm aqui prostituir nossas mulheres”, natalenses não se cansam de repetir.
É uma discussão aparentemente crítica, que só esconde inclinações anti-cosmopolitas, que turva o medo do outro cultivado como uma neurose coletiva.
Os projetos políticos, sempre renovados em períodos eleitorais, que pedem “Natal para os natalenses”, ou o “resgate da cidade”, ou ainda o “turismo familiar”, numa clara oposição hierarquizadora contra os “gringos”, só reforçam a tentativa de retorno a uma tradição que não existe mais. O desejo de um espaço puro e livre do outro, que denuncia certa aversão alimentada contra o diferente. Uma valorização essencialista do local, arianismo natalense!?, que se assemelha ao preconceito perpetrado contra pobres, nordestinos, negros, homossexuais, etc. Algo que merece reflexão…