O debate da Band com os candidatos a prefeito de Natal foi sonolento. Não pela emissora, que soube organizar bem a discussão, mas pelos muitos momentos do uso da chamada “pauta negativa”, ou seja, pela tentativa de quase todos de aproximar os oponentes de símbolos que retiram voto.
CARLOS EDUARDO
Tentou colar Micarla em tudo e em todos, principalmente em Rogério Marinho e Hermano Morais. Surfou bem na reprovação da atual administração verde. Mencionou sua gestão sempre em oposição ao caos gerado pela atual prefeita Micarla de Sousa. Em time que está ganhando não se mexe e, liderando todas as pesquisas, Carlos Eduardo manteve a sua linha argumentativa.
ROBÉRIO PAULINO
Robério vestiu muito bem o discurso de rompimento com “às oligarquias”. Atacou a tudo e a todos. Apesar do apelo para receber o voto “do novo”, acabou caindo no estigma do esquerdista extremista. Criticou as privatizações na saúde, a upa e a ame. Rechaçou o financiamento privado de campanha. Foi também o que mais trouxe a pauta nacional para o debate. Detalhe: sempre falou com o dedo apontado para o rosto do telespectador, algo, às vezes, desconfortável para o receptor da mensagem.
ROGÉRIO MARINHO
Rogério Marinho trouxe uma postura técnica. Munido de muitos dados, abordou questões como o atraso na educação e saúde. Porém, não deixou de jogar cascas de banana, principalmente, para Carlos Eduardo. O PSDBista fez alguns bate-bolas com Hermano Morais, que fizeram acordo tácito de não-ataque durante o debate. Ambos sabem que dependem do fortalecimento de todas as candidaturas para que o segundo turno ocorra.
FERNANDO MINEIRO
Foi o único que fugiu da pauta negativa e não se emaranhou em ataques sobre quem apoiou o que no passado. Mineiro apresentou domínio das questões levantadas, buscou postura mais propositiva. Enfatizou, sobretudo, o planejamento de longo prazo, sem imediatismo, e a necessidade de uma democracia participativa para mudar o modo como as políticas públicas são construídas e para retirar Natal do caos micarlista.
HERMANO MORAIS
O PMDBista tratou de desfazer a sua aproximação com Micarla e buscou sempre bater nos últimos 20 anos de gestão da prefeitura municipal do Natal, um jeito de incluir Carlos Eduardo e sua Vice, Wilma de Faria, na situação desfavorável politicamente e administrativamente que a cidade se encontra. Hermano demonstrou nevorsismo em alguns momentos. Tônica do discurso: defesa enfática do seu partido para buscar recursos, o PMDB, e abordou assuntos como mobilidade urbana, saúde, capacidade de investimento, transparência e melhoramento técnico da gestão pública. Outra coisa chamou atenção: não utilizou gravata, tentando trazer uma imagem informal e mais fácil de entrar na casa do telespectador. A gravata também é identificada, muitas vezes, como o símbolo da vestimenta política, algo que ele tenta fugir para se apresentar como o novo, livre dos estereótipos.
ATUAÇÃO DOS JORNALISTAS
Jornalistas fizeram perguntas para os candidatos. Jornal de Hoje, Diário de Natal, Tribuna do Norte, Novo Jornal e 98FM foram escolhidos.
Tribuna do Norte – a representante fez pergunta embasada e qualificada sobre as obras de mobilidade urbana, o chamado legado da copa. Ana Ruth Dantas produziu a melhor atuação jornalística da noite.
Diário de Natal – questionou sobre o financiamento privado de campanha e a relação com possíveis favorecimentos em contratos com a máquina pública.
Jornal de Hoje – indagou os candidatos sobre como irão captar recursos para os projetos defendidos.
98FM – o representante fugiu do tradicional e fez uma questão local. Perguntou sobre como resolver os problemas do bairro Salinas (Zona Norte), algo interessante para medir o conhecimento dos prefeitáveis sobre cenários específicos.
Novo Jornal – a questão produzida foi absolutamente infeliz. O jornalista indagou a Fernando Mineiro o que ele achava de mais hotéis na via costeira e se ele abriria mão de mais empregos na região, claramente tentando defender mais edificações para a região, que foi considerada uma Área de Preservação Permanente. Levou um fora daqueles. O perguntado mostrou que o gestor não pode, simplesmente, escolher se constroi ou não edifica, pois há uma legislação que regulamenta o uso e a ocupação da Via Costeira. “Há premissas falsas em sua pergunta”, disse o debatedor indagado.
Em resumo, o representante do novo jornal aproveitou para fazer lobby em favor de construções irregulares na Via Costeira.
MAIS DEBATES
Outros virão por aí. O da Band foi só o começo. É aguardar e não deixar de conferir.
SAINDO DE CIMA DO MURO
Mineiro venceu o primeiro. Conforme enfatizei acima, foi o que menos partiu para a pauta negativa e o que mais trouxe a necessidade de alterar o modo como Natal é gerida, não só administrativamente, mas também politicamente.
Uma prefeitura não é uma empresa e o líder político eleito deve dialogar com a sociedade e fazer com que os cidadãos, de mãos dadas com a máquina governamental, construam uma cidade melhor. A necessidade de um discurso técnico não dispensa a atividade política. Não há outro modo de produzir um projeto democrático inclusivo. Me parece que Mineiro foi o que mais se aproximou dessa perspectiva.