Cansei, durante toda a minha graduação – 2000 a 2003 -, de aplicar questionários para outros institutos da cidade e para atividades acadêmicas em geral.
Naquele período, uma questão ficou clara para mim. Os institutos não esclarecem para a população a diferença entre pesquisas eleitorais e de opinião em pontos de fluxo, que apresenta diferenças significativas em relação às sondagens produzidas a partir da visita domiciliar.
Ainda hoje, não é incomum, de acordo com pesquisadores de outros institutos, a empresa aplicar o questionário em grandes pontos de aglomeração (shoppings, supermercados, centros comerciais, etc) e mencionar no registro no TRE, obrigatório em ano eleitoral, como pesquisa completamente feita em domicílio.
Além de desonesto do ponto de vista intelectual e jurídico, a ocultação desse detalhe traz implicações importantes para a análise de uma pesquisa. O levantamento em ponto de fluxo tende a pegar mais a classe média e pessoas com uma rotina mais urbanizada. O levantamento domiciliar tende a ser mais preciso, na medida em que capta o sentimento da população de maneira mais bem distribuída geograficamente e respeitando a proporção dos perfis sócio-econômicos.
Mas por que o instituto aplica o questionário num ponto de fluxo, em vez de visitar cada eleitor/cidadão casa por casa? Porque é mais barato. Não é fácil executar às entrevistas em áreas mais ricas. O contato é mais difícil e, não raro, o cidadão é ríspido com o profissional que bate a sua porta. O ponto de fluxo também dribla os apartamentos, que, na maioria dos casos, são inacessíveis. A efetivação de um levantamento na Zona Sul de Natal e em alguns bairros da Zona Leste não é nada fácil. O ponto de fluxo facilita o acesso ao cidadão e possibilita maior velocidade e menor custo de locomoção.
Porém, há adversidades. De acordo com que explicita o bom texto exposto abaixo, a pesquisa em ponto de fluxo, principalmente quando a questão não é bem conhecida entre os respondentes, sobrevaloriza a opinião daqueles diretamente interessados na líder. É o que acontece na sondagem em ponto de aglomeração de cunho eleitoral.
Quando for ler uma pesquisa não esqueça de ver se ela foi aplicada em domicílio ou se deu em ponto de aglomeração. A diferença metodológica pode ajudar a explicar o resultado da sondagem.
Do Ex-Blog do Cesar Maia
UMA NOTA TÉCNICA! DATAFOLHA: PESQUISAS EM INÍCIO DE CAMPANHA ELEITORAL!
1. O Datafolha -instituto acima de qualquer suspeita- faz pesquisas em pontos de fluxo –corredores comerciais. O aconselhável, segundo estatísticos, é que duplique ou triplique a amostra em relação a uma pesquisa residencial. A teoria indica que nos corredores de fluxo a opinião pública converge e se concentra. Certo. Mas isso vale sempre para avaliação de fatos de conhecimento geral.
2. Numa pesquisa eleitoral não é assim no início da campanha eleitoral, pois as pessoas ainda não estão conversando entre elas (jogo de coordenação, na linguagem técnica) sobre as eleições com vistas a amadurecer e decidir seu voto.
3. Com isso, as favelas e comunidades periféricas não são alcançadas pela pesquisa neste início de campanha, nem direta nem indiretamente. Os candidatos que têm uma proporção maior de votos entre os mais pobres ficam abaixo do que têm. E os candidatos que têm uma proporção maior de votos na classe média ficam acima do que têm.
4. Todas as pesquisas que o Datafolha divulgou no sábado (21) devem ser corrigidas por estes fatores. Fácil de fazer para quem faz pesquisas sistemática e simultaneamente.
5. A partir da entrada da TV, o “jogo de coordenação” entre os eleitores se acelera e ganha intensidade e a metodologia do Datafolha se torna mais precisa, e precisa na parte final da campanha.