O Instituto Certus publicou no jornal de domingo da Tribuna do Norte pesquisa sobre a corrida eleitoral natalense. A sondagem, conforme o Certus, aplicou 700 questionários nos dias 11 e 12 de julho, com uma margem de erro, ainda de acordo com a empresa, de 3% para cima ou para baixo.
Ontem foi a vez do Sinduscon/Consult apresentar mais um levantamento, também concernente a eleição majoritária. Aplicou 1000 questionários durante os dias 13 e 14 de julho. Margem de erro: 3%.
Percebeu algo de estranho? Arrisca um palpite? Ora, acertou quem atentou para a “margem de erro”.
A semelhança na margem de erro das duas sondagens – de 3% – não condiz com os fatos. A pesquisa da consult, muito provavelmente, expõe um número mais adequado com a realidade. Enquanto isso, o Certus traz dado subdimensionado.
Você pode pensar: “ah, isso é uma questão secundária”. Se pensou assim, caro leitor, você está errado.
A margem de erro é fundamental porque ajuda a compreender, entre outros pontos, a oscilação dos números de cada um dos candidatos.
Por exemplo, na pesquisa Certus, Carlos Eduardo apresenta queda, se comparada a uma pesquisa anterior também produzida pelo referido Instituto, de 4 pontos percentuais – de 59% para 55%. Esta queda, não considerada uma simples oscilação, só ocorre porque, em tese, a margem de erro é de 3%.
Isto é, a diminuição no índice não veio de uma alteração dentro da margem de erro da pesquisa (56% <- 59% -> 62%), mas de um decréscimo para além da margem de erro.
Se o levantamento do Instituto Certus, que aplicou 700 questionários, no entanto, apresenta uma margem de erro mais elevada, como acredito – 4% -, não há queda real, mas apenas oscilação.
Um estatístico, ou você, caro e inteligente leitor, pode indagar – Daniel, o número de questionários não é determinante para a geração da margem de erro.
De fato!, astuto leitor, não é. Porém, é preciso que se diga que ninguém no RN trabalha com amostra probabilística. Apesar de ser mais certeira, ela é bem mais cara e demorada. Impraticável por causa da velocidade da disputa.
A grande maioria dos institutos brasileiros (ler Almeida “erros em pesquisas eleitorais”) – todos no RN – trabalha com amostra por cotas, ou mistas (termo detestado pelos estatísticos), como chamam alguns.
Expondo a questão bem simplificadamente, funciona mais ou menos assim: o pesquisador sorteia os setores censitários (grandes pontos de aglomeração mapeados e disponibilizados pelo IBGE) dentro dos bairros e entrevista no espaço estabelecido, respeitando as proporções de sexo, idade e região e fazendo pulo de casas para cobrir todo o território selecionado. Ou seja, reproduzindo a mesma quantidade na amostra de homens e mulheres, jovens e idosos e moradores por região, conforme as características do universo investigado. Natal, no caso.
Se os institutos atuam com o mesmo modo de composição de suas amostras, uma maior quantidade de questionários se torna determinante.
Portanto, alguém erra quando afirma que aplica levantamento com margem de erro de 3 pontos percentuais. Na presente comparação entre as pesquisas do Instituto Certus e Consult, o primeiro que aplicou 700 questionários.
REGISTRO DAS PESQUISAS
A mania tipicamente brasileira de querer a tudo normatizar, herança do nosso amor pelo positivismo, inclusive, o jurídico, conforme diz Sergio Buarque de Hollanda, cria situações inusitadas. Ao invés de democratizar o mercado de pesquisas eleitorais, fazendo com que o eleitor receba os mais variados números de levantamentos de grupos políticos diferentes, o que enfraqueceria o próprio papel desemprenhado pelas sondagens no pleito eleitoral, o legislador fecha o mercado por acreditar que um registro no TRE vai resolver a questão de moralizar a relação entre Instituto e o campo político.
Resultado prático: quem tem maiores condições publica suas sondagens. E quem não tem? que sofra com elas.
Charge: Ivan Cabral