Por Marília Gonçalves
Não sei se vocês sabem, mas o conceito de motel no Brasil é diferente do conceito de motel utilizado por outros países. Motel lá fora não passa de uma pousada de beira de estrada que viajantes/caminhoneiros usam para dormir, enquanto no Brasil ele é um estabelecimento no qual casais procuram a fim de praticar o ato sexual “em paz”. Depois de toda essa explanação baseada nos conceitos de Meios de Hospedagem, os quais absorvi em minha graduação, vamos ao que interessa: o lado cômico-prazeroso dos motéis.
É bem típico do homem convidar uma mulher para ir conversar no motel. Fico imaginando se alguma ainda acredita nesse papo. Por que ele te levaria para conversar em um motel se há bancos gratuitos na praça?
Isso também me faz lembrar dos convites de almoço e/ou jantar, nos quais o homem esquece de avisar que o prato principal é você! Até chegar ao motel ele vai lhe “cozinhando” com uma lábia (que ele julga ser) bonita. Ridículo! Tudo bem que esse lance de “se colar, colou”, na maioria das vezes cola. Mas, e se um dia esse Transão pegar uma mulher mais “galada” que ele, que por pirraça realmente entre no motel só para comer almoço (como diria o @gadelhajunio)? Ele vai pensar duas vezes antes de chamá-la outra vez!
Quem anda por interior já foi freguês do famoso Motel Calango. É aquele onde a luz das estrelas dão efeito ao cenário, a grama é o edredon, e o espinho de algum cacto (que você vai se arranhar) é o brinquedinho erótico para inovar na hora do prazer.
Quando um homem chama uma mulher para sair e pergunta aonde ela quer ir, muitas (querendo ser educadas) respondem “cê que sabe”. Fico me questionando se elas já não respondem isso de caso pensado, objetivando que o homem interprete “vamos ao motel”. Certamente essa foi a origem do nome dos motéis “Cê que Sabe”. Vamos aonde? Cê que sabe. Onde vamos comer? Cê que sabe. Pense bem antes de responder isso novamente!
Acho que todo virgem é louco para conhecer o motel. E depois de “experiente” ir variando, procurando outros motéis tenham estruturas diferenciadas, escadas, sofás, banheiras, móveis que lembrem um cavalinho, suítes temáticas, etc. Pessoas casadas há algum tempo utilizam dos motéis quando querem sair da rotina, no caso dos casados com filho, procuram o motel quando além de inovar estão querendo fazer sexo selvagem regado a gritos.
Algumas coisas me incomodam nos motéis mais sofisticados, tipo banheiro com paredes e porta de vidro. E se der vontade da gente fazer o 2 na hora H? Do mesmo jeito que pessoas vão “apenas” conversar, almoçar ou roubar sabonetezinhos no motel, elas também cagam (e não é nada cômodo cagar na frente do parceiro)!
Apesar de nunca ter participado, lembro de uma resenha que pré-adolescentes sempre gostavam de fazer, e contar entre os amigos: beber no motel! Imagino que devia ser super divertido, as brincadeiras de jogo da verdade, o descobrimento do canal erótico, o susto com a mamba negra do Kid Bengala e posteriormente com o preço abusivo dos produtos oferecidos no cardápio do motel.
Uma das coisas mais atrativas que existem em motel deve ser o espelho no teto. E isso levanta uma questão muito importante a ser discutida entre os interesses da academia sexual: o quanto o espelho proporciona a sensação de “sou ator pornô”. Assistir todo seu desempenho ao vivo, bastando apenas ser o parceiro de baixo. Espelhos nas paredes também são legais, mas é o do teto que causa a diferença do quarto de motel para o seu quarto em casa.
Já ouvi histórias engraçadíssimas sobre motéis, tanto de clientes como de pessoas que trabalham lá dentro. Esposa que pastorou o marido sair com a amante do motel e depois encheu o carro dele de paulada; o príncipe encantado que foi ao motel com sua princesa à cavalo, e que passou a noite pedindo para conferirem como estava o bicho, uma vez que este teve de ficar em um terreno baldio ao lado do motel, por não ser permitida entrada de animais. Talvez nunca se esqueça do meu amigo que foi de “caroninha” para o motel e voltou de moto táxi. Ô coisa para mover o mundo e gerar dinheiro é esse tal de sexo…
Sabe que meu sonho é montar um motel em Tangará? A querida cidade do pastel não tem motel, até rima, né? E olhe que cliente não falta lá, nem que seja aqueles que estão só de passagem. Daria para bolar slogans super sugestivos, do tipo: “Não pare em Tangará só para COMER pastel!”.
Se um dia eu realmente montar um negócio vai ter que ser assim, voltado para comida, como me disse uma amiga uma vez “a gente só leva da vida o que a gente come, em todos os sentidos”. O sábio Câmara Cascudo também apostava que o binômio alimento e sexo sempre movia o mundo. Por que vocês acham que motéis com promoção de almoço/jantar/café da manhã grátis fazem tanto sucesso? Quer coisa melhor que encher o bucho e esvaziar o saco?
A idéia de criarem site de compras coletivas exclusivos para produtos e serviços de fins sexuais foi ótima. Principalmente para os rapazes que ainda moram na casa dos pais e precisam gastar muito dinheiro em motéis (e não querem fazer feio, afinal, não vai se levar sua gatinha para um motel de 5ª categoria, né?). Sorte mais uma vez da galera do interior que além de gastar pouco no bar, também faz o mesmo no motel, pois quando não usam do Motel Calango, pagam menos de 20 reais em 3 horas de estadia numa suíte no melhor motel que existir na cidade (isso em baixa estação, se for em períodos como Vaquejada de Currais Novos, ou Carnaval de Caicó, desconsidere o que acabei de dizer).
No último dia 11 (11/05/2011) houve um arrastão foda num motel da Zona Norte, que acabou com a foda de muita gente. Fiquei pensando nessa situação, talvez a mais broxante que pode haver na vida. Atrapalhar a foda alheia chega a ser mais deprimente que o próprio assalto. Avalie o psicológico dessas pessoas que estavam lá, como deve estar? Todas com medo de transar novamente. E o instrumento traumatizado, se não subir mais, como faz?
O tema motel rende muito, mas quero encerrar esse post fazendo o leitor refletir sobre duas coisas: a) a figura do porteiro do motel, aquele cara que tá por dentro de tudo. De quem entra, quem sai, quem foi o chifrudo. E que certamente se excita no meio da madrugada, pensando no que está acontecendo dentro daqueles quartos; b) o comprovante de pagamento, aquela nota que nunca vem com o nome do motel, mas sim de um lugar fantasia, afinal, quando a fatura chegar sua esposa não pode saber o verdadeiro local que você andou frequentando sem ela.
No mais, lembro aos apreciadores das festas/orgias/bacanais em motel que já existem casas específicas para isso (é, finalmente vocês conseguiram abrir os olhos do mercado para esse novo segmento), só falta um corajoso para investir no empreendimento nessa sociedade moralista na qual vivemos. Alguém se habilita?
[Do Closet para a Carta]