Disse certa vez ao meu amigo David, que se ele escreveu o “ser chicleteiro”, eu iria replicá-lo com o “ser grafitheiro”. O tema surgiu num momento despretensioso em que a gente produzia a infame, mas muito comum, “sociologia de buteco”. Resolvi executar o projeto.
O grafitheiro, dada a sua condição “periférica” e menos abastada, se notabiliza por lutar contra um conjunto de visões de mundo preconcebidas (vou estrapolar um pouco também para me fazer entender).
Ser grafitheiro significa ser “´pinta”, modo como aqueles que não seguem a conduta “tradicional” instituída são enquadrados de maneira pejorativa. O grafitheiro é fortemente criminalizado. É conceituado como alguém menor, rude e destituído de qualquer senso estético. A suposta concretização do non sense.
Prova disso é que quando morrem 5 pessoas no carnatal, as “autoridades” afirmam ser algo normal e intrínseco ao evento. Porém, uma briga no carnaval de Macau, cidade em que o Grafih já tradicionalmente toca, para facilmente nas páginas policiais. Há uma forte desproporção na maneira como o Grafith é muitas vezes apresentado.
Mas aí é fundamental questionar: o que o chiclete tem que o Grafith não tem? Bell, cantor da banda chiclete, canta melhor que Joãozinho, vocalista do Grafith? Se levarmos em consideração toda a versatilidade de Joãozinho, chegaremos a conclusão que não. Neste gênero musical não é possível estabelecer diferença qualitativa entre as duas bandas.
A relação é de enquadramento social. Enquanto o Grafith começou sua carreira alegrando as massas, o chiclete conseguiu atrair as camadas médias da sociedade. Grafith ficou mais a mercê, neste aspecto, de determinados preconceitos de classe.
Porém, o Grafith não é pior do que a banda chiclete com banana. Se você que é chicleteiro tem alguma dúvida, então vá, sem pé atrás, para o carnaval de Macau. Verás que nem o fã de Grafith é o que você pensa, como também a banda de Natal não deve nada para o barbudo líder do grupo bahiano em questão.