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O estado de calamidade na saúde do RN e o problema do jornalismo-release

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Os veículos de imprensa divulgaram a decretação de estado de calamidade na saúde do RN por parte da governadora Rosalba Ciarlini. Porém, alguns se limitaram a apresentar às informações que constam no release (comunicado) da assessoria do governo. Tal atitude, que não se restringe a esse caso específico, leva, muito comumente, a construção de um texto que tende a ocultar a análise dos fatos, que é fundamental para uma demonstração mais crítica da realidade.

Um release, sobretudo governamental, não vai mencionar os pontos negativos do passado e que desencadeou a ação que ele deseja descrever e transmitir. Releases não costumam ter história.

O caso de Rosalba Ciarlini é exemplar. A sua assessoria de imprensa, cumprindo o seu dever, apenas disse que o Governo do RN vai investir 25 milhões na saúde e reequipar e estruturar unidades hospitalares da rede estadual. Ora, se aquele que mexe com informação só reproduz esse ponto de vista, não considera o fato, imprescindível para o entendimento da situação, de que a administração rosada está, na verdade, reagindo à ação do Ministério Público, que promoveu intervenção no hospital Walfredo Gurgel pelo caos ali instalado e estabeleceu um conjunto de sanções, caso não ocorra alteração no serviço prestado.

A mera reprodução de um release também secundariza que a verba apresentada como investimento, não passa de uma reposição do corte no orçamento geral do estado para 2012. Em que pese os recordes mensais de arrecadação estatal, a saúde, educação, segurança pública a área de recursos hídricos sofreram diminuição de verba para 2012 em relação a 2011.

Estas informações são imprescindíveis, se o jornalista quer pintar um quadro adequado do contexto. Mais. Muda completamente o olhar: ao invés de investimento, o posicionamento da governadora mostra que ela corre atrás dos acontecimentos, que não planejou e que está corrigindo erro que cometeu no início do ano, ao retirar verba da saúde. Talvez até não seja intenção do jornalista, mas o control-c control-v no release produz uma relação chapa branca com o poder governamental.

A alta modernidade, que alastra cada vez a reflexividade entre os agentes e instituições, não admite mais o jornalismo release. Quer opinião e uma informação que se preocupe em estabelecer uma análise sincrônica e diacrônica dos acontecimentos. É a diferença entre o que (des)informa e o que leva o interlocutor a pensar a realidade criticamente.