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O buraco nosso de cada dia

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A gritaria é geral, os prejuízos são imensos, o desconforto é patente, a imagem é vergonhosa: os buracos tomam conta da cidade!

Sim, meus amigos, desta vez, desta única vez vou me somar à voz corrente para falar das crateras que corroem os pneus, sacolejam cocurutos, desalinham as rodas e provocam solitários brados retumbantes no interior dos veículos.

Todas, eu disse todas as pragas rogadas em ato contínuo à queda em uma imperfeição da via pública têm um destinatário unânime: nossa queridíssima e competentíssima prefeita Micarla de Souza, a Borboleta.

Será um julgamento apressado? Estaremos errados? Ora, mas é claro que não! Entro nessa de cabeça e vou mais fundo, tão fundo quanto nossos buracos de estimação. Sim, eles já são tão familiares que creio que quase todos têm o “seu” buraco de cada dia.

De minha parte elejo como meus buracos de estimação uns que estão elegantemente postados na Av. Ayrton Senna. Uma belezura, vocês precisam ver! Eles estão estrategicamente localizados depois de uma alta ondulação na pista, de modo que quando você passa pelo obstáculo e lasca o papo-de-fogo do seu carro, logo em seguida o buraco lhe sorri, abrindo toda sua extensão para seus pneus novinhos em folha e recém alinhados. Este já está tão humanizado que possui filhos, pequenos buraquinhos que o rodeiam para garantir que em alguma coisa você vai cair caso tente imbecilmente desviar.

Embora não nutra uma relação filial, arrolo outro por quem guardo um carinho imenso. Refiro-me àquela maravilhosa cratera da Av. Prudente de Moraes, antes de chegar na Av. Alberto Maranhão, no Tirol. Aliás, não só ele, outros que o acompanham ao longo da avenida formam uma família, tão unida que se juntam numa cadeia de acidentes geográficos, excluindo quase por completo a pequena rama de asfalto que medeia todos eles.

Estes já estão em vias de tombamento pelo patrimônio histórico municipal.

Há também aqueles que partiram desta para melhor sem que a saudade tenha deixado rastro.

Sim, lembro-me bem daquele vulcão extinto que estava postado em frente ao Aero Clube no sentido da Midway-AABB. Bons tempos aqueles em que a faixa da esquerda da Av. Hermes da Fonseca próximo ao 16º RI nos dava aquela emoção de ter que desviar subitamente, quase colidindo com o incauto que transitava pela faixa do meio, ou subindo o canteiro central. Hoje, defunto, jaz sepultado por uma camada de asfalto negro, negro como os pneus que um dia se enamoraram com suas beiradas cortantes.

Para você ver como até na péssima administração municipal é possível enxergar poesia. Os buracos da cidade, por abundantes e persistentes em seu existir, tornaram-se íntimos, quase parentes, leais companheiros de infortúnios e borracheiros.

É isso. Praguejo contra a prefeita, mas não deixo de lembrar do buraco nosso de cada dia, dentro do qual cair já é tão rotineiro quanto o café da manhã, o almoço e a cerveja no fim de semana.

E você, qual o buraco que já faz parte da sua família?