Será Titina Medeiros, atriz potiguar que participa da novela da Globo “Cheias de Charme”, uma aspirante a Miguel Nicolelis? Deixe eu me explicar melhor…
Em que pese ter operado algumas revoluções no RN, o cientista Miguel Nicolelis foi perseguido por parte da imprensa local por ter dito o óbvio: as gestões Micarla de Sousa e Rosalba Ciarlini são ruins. Foi severamente desrespeitado, inclusive, no seu fazer científico, que é inegavelmente brilhante, por não ter batido continência aos ditames do poder, conforme o establishment local está acostumado.
E é nisso que a atriz Titina Medeiros pode se assemelhar ao cientista. Após ter feito críticas ao modo como o governo do estado e a prefeitura do Natal tocam a cultura (ver entrevista concedida à folha), já está sendo alvo de ataques e desqualificações desmedidas.
Pior. A discussão, nos dois casos, saiu rapidamente da esfera dos argumentos. Sem condições de contrabalançar as críticas, já que qualquer cidadão minimamente inteligente diria o mesmo, os defensores do governo e da prefeitura utilizam a estratégia de desqualificação pessoal da atriz. É aquela velha e sórdida estratégia (pseudo) argumentativa: quando não há contra-respostas, ataque a fonte.
Tanto que emissoras de rádio, blogueir@s e colunistas já começaram a desqualificar a atriz. Enquanto que alguns vão pelo caminho mais “suave”, tentando pintá-la como uma pessoa distante da cidade e desinformada, outros dizem que ela faz tais apontamentos por questões políticas mais obscuras. Em resumo, por ter sido filiada ao PT e ter uma irmã trabalhando no gabinete da deputada federal Fátima Bezerra. Como se filiação partidária impedisse a capacidade de julgamento das pessoas.
Entrevista concedida pela Atriz ao jornal Folha de São Paulo
Estreante em novelas, mas há 20 anos se apresentando pelos palcos do país, nem a própria Titina Medeiros, 35, imaginava que faria tanto sucesso na pele da incorrigível Socorro em “Cheias de Charme” (Globo).
Ao “F5″, a atriz revelou que acredita numa reviravolta de sua personagem e contou como está sendo a primeira experiência em televisão.
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
“F5″ – Você se inspirou em alguém para compor a Socorro?
Titina Medeiros – Me inspirei em duas pessoas, mas uma não quero falar o nome porque é da minha família, uma pessoa muito íntima, mas que reconhece que tem umas coisas dela na Socorro. E a outra é de um vídeo que vi na internet –que eu adoro–, que se chama “Duelo de Titãs – Travesti Gisela”. Meu sonho é conhecer essa pessoa. É um transexual que tem a autoestima como a da Socorro, que sempre acha que se sai muito bem. Mas nenhuma dessas pessoas tem o mau-caratismo da Socorro, apenas os trejeitos.
Uma vidente falará para a Chayene [Cláudia Abreu] que uma pessoa tomará tudo dela, mas a cantora acredita que é a Rosário [Leandra Leal]. Não seria a Socorro?
Eu acho que é a Socorro. Não sei muito ainda, mas acho que a Socorro vai dar uma reviravolta. No dia que a Rosário apareceu na casa de Chayene e fez comida para ela, foi a Socorro que a serviu. E a Chayene não lembra disso. E a Socorro já disse algumas vezes que ela vai ser dona de tudo aquilo. Isso me confunde, me faz pensar se ela é bobinha, ingênua, ou se mostra como ingênua pra depois dar o bote. Acho que ela é iludida, só quer o sucesso. Acho que ela vai se revelar.
E o que você está achando do texto dos autores?
Acho a novela muito dinâmica, com cenas curtas. Os autores deixaram muito espaço para o público criar. Eles não precisam explicar muito. No teatro tem muito isso. E essa coisa da leveza, da caricatura. Eu adoro.
Como está sendo essa experiência na TV?
Pra mim ainda está sendo bem difícil. Estou fazendo com alegria, estou muito feliz, mas é difícil por ser o primeiro trabalho, por ser um personagem de muita responsabilidade pra quem faz pela primeira vez. Mas estou me jogando. Não fico criando dificuldades.
Como você começou na arte?
Sou do sertão do Rio Grande do Norte, de uma cidade muito pequena chamada Acari, e até os 16 anos não conhecia o teatro. Eu queria ser musicista, estudava trompete, e jornalista, que é a minha formação acadêmica. Quando assisti a Maria do Céu Guerra no espetáculo “O Pranto de Maria Parda”, na capital, eu saí dali com a certeza de que queria fazer o que ela fazia. Então comecei a estudar teatro e com 19 anos já ganhava dinheiro com isso. Encontrei o [grupo] Clowns de Shakespeare e é onde estou até hoje.
Mas você ainda pertence ao Clowns de Shakespeare?
Esse ano a gente está com espetáculo “Sua Incelença, Ricardo III”. Como vim fazer novela estou sendo substituída, porque me avisaram de cara que não dava para conciliar teatro e TV, mas já estou morrendo de saudade.
E como está o circuito cultural em Natal?
Está muito sofrida a cultura do meu Estado. Quando há festivais as casas de espetáculo têm, em media, 80% de público, mas estamos num lugar muito triste porque a prefeita destruiu nossa cidade. E ainda entrou uma governadora igual. O Rio Grande do Norte está no momento de falência muito grande. O que nos mantém são os editais públicos, e como o grupo já tem uma história a gente consegue sobreviver. Essa coisa de eu estar na Globo bate para o potiguar como um motivo de orgulho. Eles dizem “pelo menos ela”. Sou muito apaixonada pela minha terra, mas falta aquele incentivo. O público potiguar nem sabe que existe tanta gente boa. Temos muita qualidade.