Todos os dias faço algumas leituras que considero obrigatórias. Dentre elas, acesso o ex-blog do Cesar Maia. Lá é possível encontrar de tudo um pouco. Análise de dados, tradução de artigos internacionais e uma oposição sistemática ao governador Sergio Cabral. Você queria o que? O cara é político e está jogando o jogo.
Porém, concordando ou discordando das teses do ex-prefeito do Rio de Janeiro, o fato é que ele se movimenta, estuda e não estabelece uma dissociação entre “teoria” e “prática”. Fundamenta seu discurso e sua atuação.
Ora, poderia servir de exemplo para muitos militantes que hoje produzem uma separação rasteira entre o que chamam de “engajamento prático” e “ciência de gabinete”, gerando a afirmação da (sua) ignorância como meio de vida e subsídio válido para a prática política. O resultado é a gestação de um ressentimento que é direcionado contra quem estuda, ler os livros e participa das disciplinas e bases de pesquisa com afinco.
No movimento estudantil que vejo aflorar na UFRN, ambiente que convivo com maior imersão, não é incomum ouvir acusações do tipo: seu “intelectual de gabinete, você se rende ao microfascismo da sala de aula”. Ou: “deixe essa leitura e venha para a prática”. Como se estudar fosse sinônimo de auto-alienação.
Mas é preciso subsidiar toda essa munganga com um quê de “intelectual”. Duas estratégias aparecem: a dos militantes “socialistas”, que se contentam com a leitura do Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels; e a dos “anarquistas” – porra-loucas – com uma “passada de olho”, como a gente costuma dizer, em alguns capítulos das obras de Foucalt e Deleuze.
Nessa lógica o que importa é salvar o mundo – o que significa, na maioria das vezes, em salvar a própria pele. E a resistência se processa em deixar de ir para a aula e lutar contra o “poder disciplinador microfascista do professor e do ambiente acadêmico”, o que se materializa na reprovação por falta nas disciplinas de graduação e até o abandono do curso. Marx, Foucault e Deleuze se reviram no túmulo.