Search
Close this search box.

Longe dos bares – Dailor Varela (in memorian)

Compartilhar conteúdo:

Bar é cultura. Mesmo porque o bar sempre foi reduto de filósofos, pensadores, poetas em toda a história. Sartre, Fernando Pessoa, Bukowvski, Vinicius de Moraes, entre tantos outros, fizeram suas obras, em parte nos bares da vida. No tempo da minha adolescência potiguar, eu e poetas da minha geração, vivíamos nos bares entre muita cerveja, querendo “salvar o mundo”. Bares, como “A Tenda do Cigano”, “A Palhoça”, os botecos do Beco da Lama, entre outros fizeram parte da vida cultural natalense e deveriam ser tombados pelo Patrimônio Histórico Municipal, se é que ainda existem. Depois que sai de Natal, continuei minha peregrinação etílica em Sampa. Hoje, faz tempo, estou bem longe dos bares, que perderam seu lirismo e se tornaram, em grande maioria redutos de bêbados chatos e alguns drogados (igualmente chatos). Faz muitos anos que não piso num bar.

Limito-me a um vinho em casa. Diz meu cardiologista que vinho é bom para o coração. Moderadamente. Aliás, desde o tempo de Jesus Cristo é uma bebida inteligente. Afinal Jesus Cristo transformou água em vinho.

Os principais culpados pelo seu afastamento foram os bêbados chatos. Se bem que diz uma amiga minha: não existe bêbado chato. O sujeito é chato e quando bebe fica mais chato. O que é verdade. O bêbado chato é aquele que senta à sua mesa, sem pedir licença e deita falação sobre as últimas vitorias do Corinthians, suas últimas conquistas amorosas e seus últimos porres. Bebendo em casa não corro este risco. Ouço Bob Dylan, vejo um show dos Stones e ainda faço economia. Comprando um bom vinho num supermercado você gasta bem menos do que num bar. O Brasil produz hoje excelentes vinhos e os argentinos, chilenos são ótimos. Li uma entrevista com um destes entendidos em vinhos, onde ele diz que isso de um vinho francês custar muito caro é pura frescura. A Serra Gaúcha produz excelentes vinhos. Mas nós brasileiros temos esta idiotice de não valorizar nossos produtos. Mas isso já passa para economia de mercado, assunto que faço questão de não entender. O boteco é psicanálise do brasileiro, onde ele, em goles de cachaça, esquece sua miséria cotidiana, seu minguado salário, um casamento em crise. Enfim a falta de um horizonte colorido.

Como diz um amigo meu “já não se fazem bêbados como antigamente”. Pensar numa mesa de bar que reunisse Navarro, João Gualberto, Luis Carlos Guimarães, Nei Leandro de Castro, Castinho é pura utopia.