Estava eu andando tranquilamente na rua quando fui abordado subitamente por um conhecido, desses conhecidos que chegam com as mesmas conversas de sempre:
– E aí, rapaz, tudo bom? Tudo! Casa quando? Ah!, que calor danado! Você ainda está trabalhando naquele lugar?
Tantas perguntas assim ao mesmo tempo têm lá suas vantagens. É que você pode escolher qual delas responder. Eu que sou besta, mas nem tanto, respondi a mais fácil e que, de quebra, abreviaria aquela conversa repetitiva:
– Pois é. O calor está grande.
Mas ele é ardiloso e sempre tem uma carta na manga contra interlocutores pouco dados às conversas protocolares de meio de rua e corredores de repartições públicas.
– Insuportável! Cheguei de viagem hoje e não esperava encontrar a cidade tão quente. Aliás…
Quando ouvi esse solene “aliás” já olhei para o relógio e verifiquei quanto tempo faltava para meu próximo compromisso. Por sorte – ou azar – ainda tinha tempo e paciência para me deter naquela conversa maçante. Assim, com minha irrelevante permissão tácita, ele continuou:
– Aliás, passei esse tempo viajando e estou meio por fora dos acontecimentos. Então já que falamos em calor, me diga, caro amigo, qual o assunto quente do momento?
– Não estou acompanhando muito, mas pelo que sei é a aprovação pelo Congresso do novo Código Florestal. Agora só resta saber se a presidente vai sancionar ou vetar.
– Hum! Esse negócio de ambientalismo está bem na moda, né? Você está por dentro do assunto?
– Só sei o que já te falei.
– Mas você, hein? Sempre desleixado! Tenho que me inteirar sobre isso!
– Isso é fácil. Na internet você pode encontrar o texto que foi aprovado, deve ter uns oitenta e poucos artigos e…
– Viiiix! Não tenho tempo para ler tudo isso! Vou é ver o que estão falando nas redes sociais para me informar. Temos que participar, amigo. São os grandes debates do nosso tempo!
Vi quando ele ficou catucando o celular e, poucos minutos depois, já estava postando no seu perfil do Facebook o compartilhamento com uma opinião sobre o assunto, uma tweetada mostrando todo o seu entendimento fundamentado sobre o dito cujo, além de um ataque àqueles que pensam o contrário.
– Já? – perguntei surpreso com a rapidez.
– E eu perco tempo? Sou o Opinador-Geral da República, meu velho!
E saiu triunfante, satisfeito com mais uma opinião abalizada compartilhada com o mundo todo sobre algo que desconhecia. E eu fiquei com cara de trouxa por não tomar parte nessa discussão, mesmo sem saber nada sobre ela.
P.S.: Não perguntem minha opinião sobre o assunto. Estou totalmente por fora dele.