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Gente Virtual – Dailor Varela (in memorian)

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O poeta se foi. Mas suas palavras permanecem vivas e rebeldes ao descanso de seu autor. Portanto, o Portal Carta Potiguar continuará ao brindar os leitores do poeta Dailor Varela com os seus escritos e poemas, numa série de seis artigos póstumos. Os quais, desde já agradecemos, foram-nos enviados pela filha de Dailor, Máh Luporini. Eis o primeiro:

 

Com a chegada da internet e outras parainfernálias virtuais desta nova era, onde me sinto um analfabeto do tempo de Gutenberg, conheço, convivo com uma nova espécie de raça. É gente virtual, cuja parainfernália toda é uma extensão da própria pessoa. McLuhan nem imaginou que o avanço das novas tecnologias iria mudar por completo o Planeta. No auge do sucesso de McLuhan ele teorizou que a roupa, por exemplo, seria uma extensão do corpo e daí por diante. Hoje é a internet e outros “brinquedos” estão incorporados ao cotidiano desta gente virtual quase 24 horas diárias. Isso só não acontece porque, como nós da era do papel, elas dormem.

Na vida da gente virtual, não existe o bate papo no bar, o telefone fixo é mais derorativo do que útil. O tempo em que, me lembro, havia na calçada das ruas, numa Natal gostosamente provinciana, famílias com cadeiras e muita conversa, é uma distante e nostálgica lembrança. Primeiro veio a TV que acabou aos poucos com este ritual provinciano. Décadas depois, a internet. Um perfil desta gente virtual: passam o dia frente ao computador, olhos vidrados na telinha, num jogo de ações que varia do namoro, amizade, trabalho, compras. Um garoto de hoje não vai mais á bibliotecas, fazer pesquisas escolares. Se o assunto é a pré-história, nada das velhas enciclopédias pesadas. É só apertar os botões do computador e aparecem na tela, imagens e informações sobre o homem das cavernas. Segundo os usuários da internet, a informação que ela transmite é muito pouca. E daí? Dirão os estudantes. Este papo otário de que a internet vai substituir o livro é uma idiotice que a mídia repete. É verdade que a tribo virtual, de modo geral, não tem livros de Fernando Pessoa em casa e nem sabe quem foi Murilo Mendes. Mas não se pode generalizar. Há gente virtual que lê. Poucos. Além da internet, os virtuais não se imaginam sem um celular. Hoje o celular tem TV, internet, máquinas fotográficas e outras mumunhas da tecnologia de ponta. Agora chegou o tablet, que junto com o netebook, andam juntos em qualquer lugar, com a gente virtual. Como sair de casa, sem eles? E lá vai à parainfernália para a beira mar, o avião, rodoviária e quem sabe, entre uma transa e outra. A obsessão dos virtuais não têm limites. Podem até dormir abraçados com um tablet. Não sou desta tribo. Mas não posso deixar de reconhecer que a parainfernália virtual facilitou minha vida. Hoje escrevo meus artigos para vários jornais e minha filha, uma virtual não radical, manda por e-mail. Leio o texto deitado na minha rede nordestina e ela digita e manda para vocês do “CARTAPOTIGUAR” e outros sites, onde este escriba escreve. Ela insiste para este arcaico escriba aprender a mexer com a internet. Mas eu falo como Macunaíma, “Ai, que preguiça”.