Desistência de bandas por falta de pagamento de cachês e passagens, falta de estrutura, falta de segurança, cinco horas de atraso e uma desorganização generalizada marcaram o início do festival no dia 20 de abril. Além de tudo isso, ainda pairava a possibilidade de um cancelamento no dia da estreia.
O Metal Open Air é um festival de heavy metal que aconteceu em São Luís do Maranhão nos dias 20, 21 e 22 de abril. Organizado pela Lamparina Produções e Negri Concerts que haviam cofirmado a participação de mais de quarenta bandas internacionais e nacionais. Dentre elas Venom, Blind Guardian, U.D.O, Saxon, Megadeth, Anthrax, Grave Digger etc. mais o Rock & Roll All Stars que têm membros como Gene Simmons do Kiss e Sebastian Bach (Skid Row) e é acompanhada por Charlie Sheen como mestre de cerimônia, assim como as nacionais Korzus, Ratos de Porão, Headhunter D. C., Dark Avenger, Expose your Hate (daqui do RN), dentre outras.
Nos dias que antecederam sua estreia e a partir dele várias bandas anunciavam suas desistências. Algumas nacionais por falta até mesmo da emissão das passagens, como o Headhunter D.C. da Bahia e Expose your Hate do Rio Grande do Norte. A banda inglesa Venom afirmou ter tido problemas com o visto, mas na maioria delas o motivo foi falta de pagamento e falta de estrutura e segurança para os shows. Além do Venom, anunciaram o cancelamento Anthrax, Saxon, Rock & Roll All Stars e o Blind Guardian que divulgou a seguinte declaração: “Devido a enormes problemas técnicos e administrativos, fomos forçados a cancelar. Parece que a produção local não tem sido capaz de garantir a estrutura de um festival. No futuro, teremos mais cuidado ao confirmarmos os shows.” Entretanto, faltando um dia para o encerramento oficial, o evento foi cancelado. No último dia, a empresa responsável pelos equipamentos e pelos palcos começou a desmontar tudo por falta de pagamento.
Apesar de tudo isso, o Megadeth, Korzus, Destruction, Exciter, Anvil, Exodus, Almah, Dark Avenger e outras bandas brasileiras e internacionais tocaram no primeiro e no segundo dia.
A falta de estrutura (e respeito) foi tanta que a área reservada às barracas era, na verdade, um estábulo. Um dos acontecimentos mais graves foi a de um fã de Natal ter a câmera fotográfica roubada por um dos próprios seguranças do festival. Além do mais, como relatou alguns participantes, algumas pessoas pulavam o muro para dentro do festival. E essas pessoas não eram fãs, podendo até haver o risco de assaltantes entrarem e roubarem facilmente o público sem que houvesse nem mesmo um policiamento dentro do evento para evitar tais situações. O que de fato aconteceu. Soube recentemente (as informações bizarras vão surgindo durante a semana) que alguns participantes tiveram suas carteiras roubadas e se encontravam ainda acampados depois do cancelamento do show sem ter como voltar, nem se alimentar.
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Mas, por que o festival que prometia ser o maior festival de metal do país se mostrou seu maior fracasso?
Acredito que parece obvio a falta de um bom planejamento para um festival megalomaníaco desses, com um agravante dele ter sido (mal) planejado em apenas seis meses. Outros motivos poderão surgir durante a semana. Alguns deles apontados por uma das produtoras do evento, que acusa a outra. E nesse jogo de acusações, o maior prejudicado é o próprio público ao qual resta o direito de procurar no mínimo ser ressarcido por serem vítimas dessa propaganda enganosa. Embora o Procon de São Luís já esteja pressionando os produtores deste fiasco internacional. Acredito que também seja o caso de buscar indenização por danos morais pela forma humilhante em que muitos foram tratados, tendo que armar suas barracas sobre o esterco do estábulo em que foram “alojados”, por terem que usar a água destinada aos cavalos para sua própria higiene, pela fome e por todo o risco de vida pelo que passaram.
Sugiro que todos que participaram desse fiasco internacional exigissem seus direitos, e que o Ministério Público, ou qualquer órgão competente, tomasse providências para que o público fosse devidamente indenizado pelo hediondo descaso em que foram tratados.
Preconceito
Entretanto, alguns não pensam de forma racional para apontar os verdadeiros motivos desse fracasso. O preconceito contra o norte/nordeste, que já se anunciava antes, quando o festival foi divulgado, nesses últimos dias se revelou novamente através de comentários de leitores em sites que citavam o ocorrido. Mas, os mesmos autores desses comentários se esquecem ou simplesmente não sabem que São Luís do Maranhão já teve outros show internacionais como shows da alemã Doro Pesh, do Blind Guardian etc., sem que houvesse nenhum problema semelhante ao que ocorreu com o MOA (Embora produzir um show de apenas uma ou duas bandas seja algo menos complicado do que produzir um festival de mais de quarenta durante três dias).
Mas aqueles que têm preconceito com o norte/nordeste do país nunca levam em conta tais sucessos. Pois o que importa para eles são motivos para sustentar seu próprio preconceito. Como se fosse a região a maior causadora do fracasso do festival. Eles esquecem que, embora a mídia insista numa “Bahia terra do axé”, num “norte de Calypso”, num “nordeste de forró”, eles frequentemente esquecem (ou não querem saber) que nessas regiões se concentra um bom número de fãs carentes por heavy metal (Embora esse número seja bastante inferior aos não ouvintes de tal estilo musical). Até mesmo por causa do monopólio das rádios e tevês locais que alimentam essa fama e o mercado pelo forró, axé etc.
Entretanto, muitas bandas nacionais de heavy metal despejam elogios e mais elogios ao público dessas regiões por lotarem seus shows. Prova disso, aqui em Natal temos shows lotados como foi no último Dosol em que tocaram bandas do cenário metal nacional. Sem esquecer Recife, onde acontece todos os anos o bem sucedido April pro Rock, que teve o próprio Exodus como uma das atrações nesta última edição.
Então, apontar o fracasso do MOA como um problema de região é o recurso de uma mentalidade tão medíocre que não consegue ver muita coisa além do próprio umbigo. Mas é interessante que eles saibam também que os próprios organizadores são da região sudeste, um de São Paulo e outro do Rio de Janeiro.
Vídeo do protesto no show do Korzus:
O que fica de tudo isso?
O que se pode esperar disso tudo? Vai ser difícil agora acreditar em outros eventos desse porte? Haverá mais dificuldade em conseguir recursos para festival de heavy metal no nordeste? Só o tempo para responder tais questões. Resta o sentimento de decepção, a revolta e a busca por diretos. Alguns talvez vão dizer que, apesar de tudo, valeu a pena ter visto alguns shows no primeiro e segundo dia. Mas acredito que isso é se contentar com pouco quando se merecia e se pagou por muito mais. Talvez isto seja até falta de respeito próprio. Pois ninguém foi lá pagando passagem, hotel ou camping (estábulo) e um ingresso de 450 reais para passar pelo que passaram.
Fica então a revolta, a humilhação, a decepção, os bolsos vazios e a lembrança das dificuldades e o descaso em que o público foi submetido. Mas uma coisa é certa, como diria um trecho de uma certa música do Iron Maiden:
“You’d better get away,/To fight another day”
(“Vocês devem fugir,/ para lutar outro dia” – Tradução livre)
Fotos e vídeo: Larissa Abreu e Hellangelo Pedregal do blog Rock in Natal