Hoje em dia existem muitas formas de ofender alguém sem que tenhamos que nos valer dos ancestrais palavrões. Sim, a modernidade deu um jeito de nos livrarmos desse incômodo vocabular que se vale das mães, dos animais saltitantes e das partes íntimas, por exemplo, para extravazar uma sensação de ira contra alguém. A verdade é que os bons e velhos “filho da mãe”, “veado”, “caralho”, “porra” etc. estão com os dias contados – pelo menos em alguns ambientes.
Uma dessas novas formas de insultar alguém é o “pseudo”.
O “Pseudo”, conhecido por nós na época da escola quando aprendemos o que é um pseudópode, ou um pé falso, ganha uma vida extra, totalmente ofensiva, quando é seguido de qualquer outro substantivo. Vejamos os exemplos.
O pseudointelectual é o que mais anda por aí. Chamar alguém de pseudointelectual equivale a dizer que o cara é um estelionatário do mundo intelectual, um criminoso, portanto. Não tanto um meliante no sentido penal, é verdade, mas denota um sujeito sem predicados intelectuais suficientes, mas que pretende ser tido como um, sem o sê-lo de fato – pelo menos no conceito do que profere o insulto. Aqui ainda há uma vantagem! É que rotular alguém de pseudointelectual afasta seu pronunciante de pensar que é um, além de evitar problemas com a etiqueta e de ser acusado de baixar o nível do “debate”, enquanto o que recebe a honraria fica estrebuchando de ódio sem poder dizer o que realmente quer – um palavrão-, limitando-se a ostentar um ar de superioridade tipo “o que vem de baixo não me atinge” ou no máximo devolver proferindo um:
– Pseudointelectual é você!
Parece bom? Pois ainda temos outro exemplo.
No campo da cultura temos o pseudoartista, que é aquele que produz a pseudoarte. Sua aparição é restrita, por evidente, ao campo artístico por se tratar de um insulto, digamos, valorativo. Por isso não é qualquer um que pode sair por aí chamando alguém de pseudoartista, a não ser que você seja um crítico de arte ou tenha alguma atividade neste campo, mesmo que seja um, um quadrinho pintado, por exemplo, cuja qualidade não pode ser jamais discutida – pelo menos dentro do seu conceito de arte. Quando ocorre de alguém ser chamado de pseudoartista, produtor de uma pseudoarte, o dito cujo não se faz de rogado e sai com essa:
– E você não passa de um pseudocrítico.
E tudo volta à normalidade.
Na mesma linha temos os pseudocantores, os pseudoatores e os não menos notórios pseudofilósofos e pseudoescritores. Todos integrantes deste novo gênero de insultos elegantes e autoglorificadores, que ficou muito melhor depois da maravilhosa reforma ortográfica que tirou o hífen que antes separava o “pseudo” de seus complementos, deixando-os agora juntinhos e inseparáveis para enfatizar a falsidade.
A mim isso parece uma evolução, pois pensando bem, acho que não é tão mal assim. Afinal, no nível em que anda o debate público sobre qualquer assunto, notadamente na internet, muito melhor ser chamado de pseudoaquilo, pseudoisso, do que de “fascista” e “reacionário”, que cabem hoje em dia em toda e qualquer situação, até se você simplesmente não concorda com algumas opiniões imaculadas.