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Futebol, cerveja e política

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Do blog do Edmilson Lopes 

 

Nas últimas semanas, o mundo político brasileiro foi envolvido pelo debate em torno da chamada “Lei Geral da Copa”. O projeto, em discussão no Congresso Nacional, traduz as exigências impostas pela Fifa para a realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil. Aceitas pelo governo brasileiro, no ambiente de euforia da escolha do país como sede, essas imposições, no seu conjunto, implicam em limitações razoáveis às ações do Estado Nacional.

Imagem: Luiz Fernando

Embora algumas vozes tenham mencionado palavras como “autonomia” e “soberania”, o que domina o debate é mesmo a discussão em torno da liberação de bebidas alcoólicas nos estádios onde ocorrerão os jogos. A Fifa mantém, há tempos, acordos comerciais de monta com a indústria de cervejas e não abre mão do livre consumo do álcool nas arenas futebolísticas. Negócios são negócios. Se o Brasil quer a realização da Copa, então, que arque com os custos sociais, políticos e financeiros de sediar o evento, esse é o recado bem claro da entidade reguladora do esporte bretão.

Muito se tem comentado sobre os custos sociais e financeiros da Copa. E essas não são, de fato, questões menores. Basta lembrarmos o fato de que, na maioria das cidades-sede, apenas as obras dos estádios estão sendo tocadas. Mobilidade urbana? Os projetos ainda não saíram das pranchetas. Na hierarquia das obras prioritárias, depois dos estádios, estão os aeroportos. Apesar disso, pouco se avançou. O que cresce, de verdade, é a angústia de famílias que começam a ser desalojadas para que as incertas “obras da Copa” sejam viabilizadas. Enquanto isso, o debate nacional gira em torno da cerveja…

Fechados no seu mundo e em suas demandas, os políticos não se dão conta de que o seu próprio palco (o terreno da política) está sendo redefinido.

E aí chegamos aos custos políticos da Copa. A Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, esses eventos estratégicos para o reposicionamento de cidades e regiões nas paisagens mundiais do poder, são geridos por forças transnacionais (Fifa, COI), cujo poder crescente é diretamente proporcional ao estreitamento das margens de manobra dos estados nacionais. Grupos políticos farão chantagens e tentarão garantir “reciprocidades” para aprovarem a Lei Geral da Copa, mas, fatalmente, recuarão ante o poder das megaestruturas globais. Até porque, para meio mundo neste país é como se fosse um dado da natureza o fato de que a realização da Copa será um grande ganho. Nesse quadro, quem se disporia a pagar, até o fim, o preço político de ser responsabilizado pela inviabilização do evento?