O ciclo de vida humano é bem simples: nascer, crescer, reproduzir e, ao final, morrer. Isto é assim desde que o mundo é mundo, sem que algum chato de plantão possa contestar sua validade. Evidentemente que existem acidentes no caminho a macular essa ordem natural; o sujeito pode ser abortado e não nascer; atrofiar e ficar nanico; crescer, virar um eunuco e não procriar; ou mesmo ter uma morte prematura que rompa toda a cadeia. Não importa. Até mesmo esses acidentes fazem parte da vida, desde que não provocados, e sim ocorridos de forma espontânea.
Pois bem. Isso se aplica aos animais também? Sim, também aos animais. E aos vegetais? Também aos vegetais essa lei é válida. E aos protozoários? Até aos protozoários ocorre a mesmíssima coisa. Às bactérias, idem.
Agora pergunto: e às redes sociais? É um caso a se pensar. Vejamos.
Todas elas nascem da mente de algum nerd que sofreu bullying na escola ou na faculdade. Não sei o que se passa na cabeça de um cara desses. Afinal, ele é humilhado e hostilizado por seu jeito diferente, mas mesmo assim cria uma “rede social” que serve para a integração virtual entre sujeitos como ele e os que lhe maltrataram. Bom, o fato é que elas nascem e vêm ao mundo, pequenas e desamparadas, carentes de atenção como todo bebê. Daí, é necessário fazê-las crescer.
E elas crescem, ah!, como crescem. Propagandeadas inicialmente pelo velho boca a boca, ou melhor, email a email, elas vão aos poucos ganhando espaço e adquirindo boa reputação entre ou usuários, ávidos por interação e bisbilhotice virtual. Várias nasceram – algumas não vingaram – mas a primeira que vimos crescer com desenvoltura foi o Orkut. Nos seus primeiros anos foi uma verdadeira febre mundial, e logo amealhou milhões de adeptos em todos os recantos do mundo, entre todas as faixas sociais e etárias, sendo invadido mesmo por pessoas que sequer sabiam manusear um computador. Presenciamos o crescimento vertiginoso de uma ideia que teve sucesso, enriquecendo rapidamente seu criador (está aí a justificativa para sua criação), e como toda ideia que tem sucesso e traz caminhões de dinheiro, ela foi copiada. Foi então que procriou.
Ora, se não fosse o velho Orkut, será que teríamos as demais redes sociais como o Facebook, Twitter, My Space, Google+, Badoo, o Hi5 etc.? Na Wikipédia temos listadas mais de cinquenta redes sociais espalhadas pelo mundo. Diga-me se isso é ou não uma reprodução altamente eficiente? Aliás, já não é nem mais reprodução, e sim uma proliferação! Qual ser humano é capaz de gerar cinquenta filhos? Só mesmo aqueles caboclos sertanejos que têm quatro mulheres e sessenta filhos, e se alimentam à base de rapadura, jabá e feijão preto; aí, amigo, nem Viagra supera e não há televisão que impeça.
Mas não pense que a reprodução vertiginosa é sucedida da imortalidade. Vejamos, por exemplo, o caso do antiquíssimo mIRC: nasceu, cresceu, reproduziu (dando à luz ao MSN) e hoje jaz sepultado, dormindo o sono eterno.
Hoje, decrépito, caminha para a sepultura o Orkut. Melancólico e abandonado, é povoado apenas por quem ainda não conhece as maravilhas do Facebook e propagandeadores de festas que ninguém quer ir, a entulhar os inativos scrapbooks alheios com spams e desejos de bom fim de semana. Agoniza no seu leito de morte tentando recuperar o prestígio de outrora criando novos recursos. Em vão. Só não desceu à cova ainda porque é uma boa agenda para lembrar os aniversários dos amigos, outro vício adquirido com o advento das redes sociais.
Hoje, as várias redes sociais estão em diversos estágios desse ciclo: o Facebook é um adolescente vigoroso que está conhecendo o mundo, dominando com seu ar jovial o púbico das redes, embora já apresente sintomas de orkutização, um novo vocábulo a ser inserido no dicionário (se não for ofensivo a ninguém, claro); o Twitter já é um homem feito, maduro, que curte com tranquilidade o sucesso sem se deslumbrar com os confetes, sabendo que ainda pode crescer mais, porém, já imaginando que seu reinado está a perigo e, em breve, poderá ser chamado a seguir seu destino fatal.
Portanto, parece evidente que a lei natural aplica-se com perfeição às redes sociais: nascem, crescem, enriquecem alguém, reproduzem e morrem. Enquanto não chegam ao final de sua jornada, elas vão adquirindo prestígio e proliferando, viciando as pessoas e fazendo-as esquecer, por alguns momentos, do seu próprio ciclo vital.
Imagem: Smarnad