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O diploma é conhecimento?

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Por Carlos Henrique Araújo [1],

Conhecimento e diploma não são sinônimos, sequer tem correlação positiva, mas para os brasileiros o diploma vem, sempre, em primeiro lugar, o conhecimento pode vir depois. Pode-se afirmar sem medo de errar que este é um dos principais traços de nossa cultura que condenam a educação nacional ao fracasso, tão bem retratados e mostrados pelos diversos sistemas de avaliação e testes internacionais de desempenho. Nos amamos, profundamente, os diplomas. Não temos o mesmo sentimento para o conhecimento, para o saber. Não são poucos os que confundem diplomas com conhecimento. E, pior, valorizam mais os diplomas e títulos. Há um verdadeiro abismo, no Brasil, entre se ter um diploma e ter tido as chances reais de desenvolver habilidades, competências e perícias para o exercício de uma vida produtiva e prospera.

Mesmo ultrapassando os obstáculos do sistema, sobreviventes do funil educacional chegam ao ensino superior e, mesmo sendo diplomados, não adquirem os pré-requisitos para o exercício da profissão. São apenas bacharéis, não podem exercer a profissão para a qual foram diplomados. Um exemplo conhecido deste fenômeno são os baixíssimos percentuais de aprovação no exame nacional da OAB. A grande maioria dos diplomados, que responde ao exame, não demonstra os conhecimentos mínimos para o exercício da profissão de advogado. Em tempo, para quem duvida de que o sistema educacional brasileiro ‘e um severo funil, estreito em sua saída, basta lembrar deste fato: de cada 100 crianças matriculadas na primeira serie do ensino fundamental, somente 56 delas completarão esta etapa e menos de um terço chegara a completar o ensino médio, 11 chegam a universidade, nove para as particulares e dois para as publicas.

Durante os anos 1990 houve uma grande ampliação da matricula no ensino fundamental, muitas escolas foram construídas, muitas crianças foram incorporadas ao sistema. `Aquela altura, a nova forma de financiamento da educação, o FUNDEF, atrelou o financiamento ao aumento da matricula no ensino fundamental. Esse crescimento registrado exaustivamente se refletiu no ensino médio, elevando também suas matriculas. O crescimento quantitativo das matriculas não foi acompanhado por um aumento de aprendizagem, de conhecimento.

Os resultados auferidos do Prova Brasil, do INEP, são claros em mostrar que há pelo menos 50% de crianças de 4 serie do ensino fundamental em situação de analfabetismo, literal ou funcional. Os resultados da oitava serie são ainda piores do que os da quarta serie. De que vale um diploma de ensino fundamental sem ao menos os estudantes terem a capacidade de se informarem com competência por meio da leitura? Pois é, a realidade do ensino médio é ainda mais desoladora.

Os últimos resultados publicados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação básica mostram que a media mínima auferida pelos testes do Saeb para o ensino médio são desempenhos típicos de oitava serie. Os estudantes que saem do ensino médio e não pretendem entrar em uma faculdade, simplesmente obtém um diploma que não serve para o sistema produtivo, eles não têm profissão e, ao menos pelos resultados dos testes, não possuem conhecimentos adequados de português e de matemática.

Em resumo, diplomamos, mas nos recusamos a educar. Esses resultados medíocres na educação basica sequer chegam a assustar a sociedade. Ora, estamos produzindo pessoas que não tem os mínimos conhecimentos exigidos em uma sociedade moderna e tecnológica. Este fato em si não promove a intenção de uma reforma da educação. Não estamos interessados nisso. Não há responsabilização pelos péssimos resultados, só os louros pelos diplomas e aumento de matriculas.

O amor ao diploma e a rejeição ao conhecimento estão na base do entendimento e do comportamento do brasileiro. O mérito é valorizado somente em seus aspectos formais, a questão ‘e possuir um diploma ou não. Para avançar é preciso reiterar o esforco, os métodos, a disciplina necessária para aprender. O Brasileiro acha que é possível aprender sem estudar. Isto esta em nossas raízes, em nosso comportamento frente ao conhecimento e aos diplomados. Idolatramos o diploma, detestamos o conhecimento e fugimos do esforço e da responsabilidade por resultados educacionais. Esta mentalidade é de todos, pobres, remediados ou ricos. Por incrível que possa parecer, os pais de estudantes da rede publica de ensino fundamental aprovam o ensino ministrado aos seus filhos e, ainda, tascam um oito como nota para a qualidade das escolas publicas, segundo pesquisa do INEP, de 2005.

Em outros termos, os pobres, em particular, percebem a importância da educação, mas não tem condições de avaliar o que os seus filhos estão aprendendo, pois eles mesmos não tem escolaridade para tanto. Não há pressão social suficiente por mais qualidade na educação. Esta pressão é, ainda, embrionária em todos os setores da sociedade. Na pesquisa do Inep, os pais deixam absolutamente claro que o maior critério para a escolha da escola dos filhos ‘e o da proximidade da escola em relação a residência. Definitivamente, devemos superar a idéia de diplomar sem educar, lutar contra este comportamento e valorizar quem sabe e o saber, pois, do contrario, o sistema educacional pode desmoronar como um castelo feito de cartas.

 

[1] Mestre em Sociologia , consultor para políticas de Educação, Ex-Diretor do INEP/MEC, autor de 7 livros. chfach@gmail.com