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Ficar sozinha não é pra quem tem coragem, Ana Carolina!

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Envelhecer sozinho é meu maior medo. A solidão me causa mais horror que a própria morte – e falo como quem ama viver!

Outro dia, conversando com minha irmã, comentei que eu tenho medo de ficar sozinho. Falávamos sobre amor, mas não estritamente o romântico. Falávamos sobre os vínculos que criamos ao longo da vida.

No diálogo, eu comentei que a gente só plana o que colhe – acho que é o contrário, né? Comentávamos como é estranho que alguém – um parente nosso – queira, já ao fim da vida, que pessoas estejam perto de si, quando nunca fez por onde – leia-se: nunca deu amor!

Amar é, como ensina o velho Cristo, uma ação. Lembrei-me, consternado, de que não aprendi amar quando criança era, porque não recebi amor, ou não percebi o tipo de amor que recebera – o que dá quase no mesmo, dentro da lógica dos afetos, ainda que consideremos que os pais e parentes negros amam de sui generis pelas razões sócio-históricas e psico-políticas que não cabem aqui dissertar.

A cultura do amor só pode ser cultivada quando se planta amor. Como não tive referencial acerca do amar, tive de aprender, depois de adulto, que é possível amar.

Hoje, tal qual uma criança, dou meus primeiros passos nessa caminhada afetiva.

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, já dizia o poeta, senão, cultivaremos cem anos de solidão, já dizia outro ser de luz

Ana Carolina, uma artista que me faz um devoto, tem uma belíssima canção cujo nome é “voz e violão”. Em dado momento ela diz que “ficar sozinho é para quem tem coragem”. Com todos os respeitos à querida Ana, penso que ficar sozinho é para quem não cultivou o amor.

Digo isso porque podemos não terminar a vida com uma companhia, mas viver e estar sozinho não deveria ser opção. Deve ser muito ruim. Eu, aliás, já sinto as fisgadas de meu futuro. Tenho medo de terminar meus dias sendo o vizinho de minha irmã que precisa de cuidados geriátricos. Tenho medo ter de torcer para que meus parentes mais próximos vivam mais tempo do que eu – apesar de serem mais velhos – para poderem cuidar de mim.

Não sei qual será meu destino – não sou uma das moiras –, por isso, tenho procurado amar, sabendo que o amanhã não há.

Apesar de um pouco calmo, ando preocupação, porque, por incrível que pareça, amar é uma arte. Não é fácil aprender a amar, depois que velhos ficamos. Não é fácil amar sem referencial. Eu preciso sempre pôr água no fogo. Às vezes o ascendente toma de conta do signo, ainda mais depois da idade da razão.

Tudo que aprendi do amor negro foi minha avó branca que me “ensinou”.

Mas, sabe, eu tenho fé de que um dia aprenderei a amar e não terminarei sozinho.

Se filhos eu terei, isso eu não sei, se companheira até o fim da vida eu terei, isso eu também não sei. Sei apenas que eu não quero envelhecer sozinho.

Se estar sozinho é ter coragem, eu sou o homem mais covarde do mundo!

Isso que parece exposição, não é catarse, nem é constatação… digamos que é um sentimento compartilhado por quase todos degradados da Terra, quando passam dos 30, pois sabem que viver e morrer faz parte da vida e sabem também que a cada aniversário se comemora, dialeticamente, um ano vivo e um ano para morrer.