Faz mais de dez anos que eu saí de meu interior de origem para estudar na UFRN. Sempre me senti ume estranho no ninho. Meu sonho era sair de Santa Maria, hoje, tudo o que mais quero é ‘voltar’ ao lugar, pois é lá onde se encontram minhas raízes.
Santa Maria sempre foi um lugar monótono – para ser educado. Nunca me senti bem em morar em um lugar distante de tudo, infestado por pessoas com estreitas visões de mundo. Todavia, eu não posso ser injusto e dizer que eu não tive bons momentos naquele lugar.
Apesar de miserável, eu fui uma criança muito feliz – assim começam os oximoros! Ainda que eu tenha começado a fumar e a beber aos 12 anos, o que veio antes disso foi muita brincadeira, travessuras e imaginações. Por não termos acesso a quase nada e por termos excessos de escassezes, tínhamos de ser muito criativos em nossas brincadeiras.
Lembro-me de que cavei meu primeiro ‘poço de petróleo’ ainda aos nove anos, junto ao meu amigo Nilson. Tudo era usado como brinquedos: manga; papel de cigarro; tampa de garrafa; fios etc. Tudo era brincadeira: pepa-pepa; garrafão; tô-no-poço etc.
Aos 20 anos resolvi me mudar de vez para a cidade do Natal, sob o pretexto de estudar Filosofia. Não, jamais pensei em voltar para Santa Maria! Desses onze anos que passei distante, visitei minha antiga cidade uma vez ou outra. Se eu for contar, não foram 20 vezes. Primeiro, eu voltava para a cidade a cada semana, depois foram a cada 15 dias; de repente, eu só ia a Santa Maria de mês em mês. Por fim, passei a ir à cidade a cada um ou dois anos.
Nunca fui ingrato. Nunca tive problema em si com a cidade ou mesmo com as pessoas. Entretanto, morar em um lugar pequeno, distante de tudo, era muito angustiante para mim – lembro-me de que eu e meus amigos mais próximos ‘disputávamos’ acerca de quem seria o primeiro a sair daquela cidade.
Todos os meus melhores amigos foram forjados nessa cidade, como tinha de ser, afinal, quais pessoas poderiam ser minhas melhores amigas, senão aquelas que cresceram junto a mim?!
Com o passar do tempo, eu me dei conta de que eu, constrangedoramente, já estava esquecendo o nome das pessoas; pessoas essas que me conhecem profundamente.
Ainda que eu tenha feito amizades maravilhosas e sinceras mundo afora, eu jamais encontrarei as raízes de minhas essências em outro lugar, senão entre meus antigos amigos.
O que faz com que os amigos de infância sejam diferentes dos demais é que enquanto os novos amigos te estudam bastante, antes de se aproximar – e se afastam, às vezes com razão, no seu primeiro vacilo –, os velhos amigos nunca te abandonam; os velhos amigos te aceitam com seus erros. Veja – é importante dizer –, não é que seus antigos amigos não te julguem, é que eles não te deixam por isso e quando você faz merda, eles podem se afastar, mas nunca – geralmente – é para sempre!
Outro dia eu fui a Santa Maria. Revi alguns poucos amigos, entre tantos que tenho, e notei que eu precisava mudar minha política.
A partir de agora irei à cidade a cada seis meses ou menos. Voltarei às minhas raízes, antes que estas me deixem – eu descobri que conheço apelido de pessoas que nem mesmo seus irmãos sabiam dessa alcunha; eu não posso perder essa preciosidade do viver.