Atenção! Este texto só será inteiramente compreendido por quem ama melancia. Portanto, se por acaso não curtir essa fruta, não precisa lê-lo. Porém, se quiser realmente lê-lo e compreendê-lo, mas ainda não se deliciou com a melancia, recomendo, veementemente, que a coma, assim que possível; desta forma, entenderá a essência dessas linhas. Entretanto, se você é um ser que aprecia a melancia, como eu… só vem!
Meu cunhado comprou uma melancia ontem, para comermos hoje. Quando fomos abri-la, tivemos uma decepção: ela estava madura demais. Na verdade, ela estava estragada. Ainda tentamos salvar alguma parte, mas foi em vão, ela já estava em estado de decomposição.
Diante do fato, eu fiquei pensando sobre o quanto que eu gosto de melancia; pensei sobre minha relação com essa fruta. Então, decidi que já era hora de falar sobre ela, afinal, ela é, para mim, um portal místico – já explico!
Para mim, só existem três tipos de pessoas no mundo: i) as que amam melancia; ii) as que a odeiam e iii) as que nunca a experimentaram. Sim, eu essencializo as pessoas a partir do que elas comem. Alguém disse – acho que foi Feuerbach – que somos o que comemos… é verdade!
Alhures, eu disse que bolo-da-moça, vinho, Filosofia e o Palmeias me essencializam. Cometi o sacrilégio, vejam vocês, de esquecer-me de mencionar a maravilhosa melancia. Sim, para mim isso é algo muito sério, apesar de parecer gracejo.
Desde a mais tenra idade, tenho para mim que, ao comer melancia, entramos na mística da vida. Essa fruta tem 90% de água em sua composição, nós temos entre 70% e 40% de água no corpo – quanto mais velho, menos água há no ser humano, daí a embriaguez dos mais velhos, ao tomar um trago de pinga: quanto menos água no corpo, mais difícil de metabolizar os álcoois ingeridos; por isso, sempre digo para beberem água, ao começar uma homérica dionisíaca.
Trata-se de um encontro de um mundo separado pelos átomos! Tales estava certo: tudo é água.
Experimente e observe: ao comer uma melancia, você pode sentir o líquido lavando seu o corpo. Depois, diga-me se há algo mais místico e divido que isso. É, simplesmente, algo lindo de se sentir.
Toda vez que como melancia, eu sinto a glória divina. Não minto nem blasfemo.
Minha relação com a melancia está fundamentada na minha reverência à natureza. Sim, ao comer a melancia, sinto-me mais natural, sinto minha natureza!
Talvez, um dia, eu deva escrever um tratado dedicado à melancia. Sinto que eu devo fazer essa ode a essa fruta. Ela merece!
Por isso, convido-o a todos a comerem melancia, se quiserem sentir mais a mística do cotidiano.
Por fim, assinto: quem não gosta de melancia, bom sujeito não é! – estou brincando, mas é verdade; é verdade, mas estou brincando.