Como se não tivesse de trabalhar e estudar o tempo todo, resolvi aceitar a tarefa de ser cuidador de um filhote de cão. Quando Melisso chegou aqui, só tinha pele e osso – coitado!
Por ser amigo de pet de primeira viagem – depois de adulto –, não tive a capacidade mínima de perceber que ele tinha sido acometido pela sarna e que se tratava de um macho – sim, tive essa lerdeza! Antes de ser Melisso, seu nome era Resistência – jurava que se tratava de uma cadelinha sem rumo.
Eu não sei muito bem a história de Melisso ante de estar comigo. Sei apenas que ele apareceu para uma amiga minha, que quis ficar com ele, porém, não teve condições, então, procurou um cuidador. Eu aceitei a tarefa, mas, juro, não sabia em que estava me metendo.
Após 15 dias aqui comigo, o coitado ainda sofria bastante. Comprei uns remédios, sem ir ao veterinário – não façam isso! Tentei ajudá-lo dentro dos limites de minhas finanças, tempo e boa vontade.
Os remédios ajudaram-no, mas nem tanto. Ele sempre latia, quando eu o deixava só. Pensei que se tratasse de saudade e apego por mim – eu sou lesado, eu…. eu sou inocente, eu, eu sou presunçoso, eu … Na verdade, Melisso latia porque as sarnas o atacavam.
Ainda que eu tivesse aceitado ficar com Melisso, sempre pensei que fosse uma permanência provisória. Pois, eu tinha me prontificado a ficar com ele somente pelo tempo em que minha amiga não encontrava um lar para ele.
Porém, certo dia, eu olhei para ele, ele olhou para mim, então, pensei: está bem, ficarei contigo, seremos amigos para sempre! Ainda que sem condições financeiras, como um bom pisciano, tratei de chamar um veterinário para ver o estado de saúde de Melisso. Ele diagnosticou-ol, passou alguns remédios e disse que ele ficaria rapidamente bem, se eu seguisse à risca a receita, ministrando os remédios – que eu teria de comprar, claro.
Trabalho como freelancer, sou revisor de texto e mentor acadêmico. Apesar de não ter estabilidade empregatícia, essa modalidade de trabalho é a mais conveniente para mim, haja vista que eu faço duas pós-graduações.
Pois bem, de repente, eu já não trabalhava somente para me manter; agora éramos eu e Melisso. Então, esforcei-me bastante para conseguir alguns projetos a fim de financiar o tratamento de Mel.
Como se houvesse um santo padroeiro dos cães, no outro dia, eu consegui arranjar o dinheiro necessário para comprar os remédios de Mel. Pronto, agora ele iria ficar bem. Obrigado, São Roque!
Assim que tomou o primeiro banho, Mel mudou o comportamento. Foi algo tão imediato, que eu fiquei até desconfiado. Pus ele para tomar um banho de sol, a fim de se secar. Dali ele não queria mais sair. Entrei para casa e lá ele ficou. Já não latia mais. Já não queria mais saber de mim – sim, porque um drama é sempre bem-vindo.
Ele toma os remédios sem fazer careta, quase não resiste – tenho para mim que ele sabe que é para seu bem. Por conta do tratamento, tive de reelaborar toda minha rotina de estudo, trabalho e descanso. Rigorosamente, acordo às cinco horas da manhã, ministro os remédios, alimento Melisso e, só depois, escovo os dentes. Tem sido assim esses dias.
Hoje eu percebi algo diferente em Melisso. Além de começar a choramingar, notei que ele está sem ânimo. Ora anda para lá e para cá, ora fica deitado. Desconfio de que seja tédio. Ele não tem passeado, por recomendação médica, e ainda não tem brinquedos – agorinha tentou brincar com bolinhas de papel que fiz, mas logo desisitu.
Eu estava trabalhando, mas parei para compartilhar essa experiência. Fiz desse texto um diário de amigo de pet iniciante. Trabalharei para comprar uns brinquedos para Melisso. À tarde, quando oportuno, brincaremos um pouco.
Ainda estou aprendendo a dividir meu tempo, interesse e cuidado com outro ser. Está sendo interessante. Para mim, é algo inovador, depois da vida adulto.
Bem, agora que sou um homem do lar, tornar-me-ei um amigo do lar. Só penso nos remédios e na alimentação do filhote. Melisso está me ensinando a amar.