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Ipês amarelos III: sinais

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Não tardou para que eu e Tirius sentássemos à mesa para conversar. Todavia, entre dizer que queria conversar e sentarmos à mesa, passaram-se três longos meses. Meses esses que me foram perturbadores; não sei pelo ímpeto de fofoqueiro, ou se por medo de ter sido apanhado em algo que eu sei que fiz.

Como eu disse, morávamos no mesmo apartamento. O que não impeliu ou constrangeu Tirius a conversar comigo. Na verdade, por sempre ter nos dados bem, sempre estávamos a conversar, entretanto, nunca sobre o combinado.

Toda vez que conversámos à mesa ou mesmo quando jogávamos, eu ficava tentando entender o tom de sua voz. Sem sucesso, eu procurava perceber alguma gravidade ou agudez que evidenciasse que ele iria começar a falar sobre o misterioso assunto. Não obtive sucesso em nenhuma das vezes!

Certo dia, entre a alimentação de Beta e a contemplação dos ipês amarelos, Tirius pôs-se a falar, entre um gole de café uma mordida na batata doce:

— Sabe, que bom que podemos tocar café só eu e você hoje. Acho que é hora de falar daquele assunto lá.

— Sim, claro — assenti.

— Cara, sem rodeios: eu ando muito angustiado com uns rolés aí, visse?!

— Tipo o quê, Tirus? Pode falar.

— Sei lá, ando muito confuso.

— Você disse que falaria sem rodeios, mas…

— Verdade, verdade. Então, já tem um tempo que algumas coisas não me fazem sentido. Me sinto deslocado das demais pessoas. Na verdade, eu já não me sinto jovem normal como antes, e isso já tem algum tempo; isso tem anos, aliás.

— Mas, assim, deixa eu te entender melhor. Quando você diz que não se sente ‘normal’, você quer dizer o que com isso? Eu preciso entender.

— hum… Sei lá, cara… Sabe, é esquisito, é como se eu não tivesse suportando estar em meu corpo.

— Acho que eu entendo. Mas isso é normal, Tirius. Eu sinto isso também. Às vezes dá uma agonia tão grande, que a vontade é mesmo sair do corpo. É como se um calor insuportável emergisse de nós, impossível de ser contido.

— Então, é quase parecido com isso. Acho que é isso, mas em relação a outra coisa.

— Que outra coisa? Pode falar, irmão.

— Então, aí é que tá a questão: eu não sei de que se trata.

—humm… É, aí é mais difícil….

— Sei lá, é como se eu me sentisse preso.

— Rapaz, eu acho que essa é uma excelente oportunidade para eu dizer algo que já estava aqui comigo há algum tempo: eu acho que você precisa relaxar, cara, e fazer muito sexo; é isso.

— Até ri com essa. Bem, pode ser, pode ser. Não sei umas férias resolveriam, mas quem sabe transar me arrefeça.

— Quem sabe, quem sabe! Você ri, mas sabe que o sexo destenciona as coisas.

— É verdade. Bem, valeu pela conversa. Agora tenho de ir ao trabalho. Valeu, irmão.

— Valheus, tmj.

Bem, esse curto diálogo com Tirius não me pareceu suficiente, mas pelo menos eu estava ali para conversar. Talvez eu devesse ter dito alguma coisa mais psicológica, não sei. Para ser honesto, eu não estava preparado para aquela conversa. Não sei se porque sou fofoqueiro ou se porque sou egoísta, mas pensei que ele iria comentar alguma bobagem que eu tivesse falado junto a alguém. Lembro-me muito daquele diálogo. Apesar de eu não falar mais daquela forma, eu tenho até saudades, mas isso é outra história, que nada tem a ver com a figura aqui relatada.