Search
Close this search box.

Pontos em defesa do texto “Morte aos gatos!”

Compartilhar conteúdo:

Publiquei semana passada um artigo intitulado “Morte aos gatos”, que foi postado na série “Da correção política à censura”, capitaneada pela Carta Potiguar. Tinha a consciência de que iria provocar uma determinada visão de mundo politicamente correta. Porém, jamais imaginei que o referido texto teria tanta audiência. Num pequeno espaço de tempo, o site recebeu comentários apaixonados em defesa dos animais, ofensas morais contra a minha pessoa e até ameaças de morte. Diante de tamanha repercussão, resolvi responder às críticas, os elogios e as manifestações que foram direcionados contra o meu texto.

Apresentarei meus argumentos ponto por ponto:

SACRIFÍCIO DE ANIMAIS COMO CONTROLE POPULACIONAL

No texto, afirmei, basicamente, que defendia o controle populacional de animais, através (mas não apenas) do uso do sacrifício sistematizado por parte do Estado. Ora, defendi apenas uma ação de saúde pública, que já se encontra consagrada em várias cidades do Brasil e do mundo (a maioria das capitais americanas, na França, Londres, Chile, etc). Natal, inclusive, também pratica sistematicamente o sacrifício (cerca de 60 animais são mortos por semana). Falei da necessidade de abordar o problema sem fundamentalismos, pois a situação em que Natal se encontra, em decorrência da superpopulação de gatos, requer o enfrentamento da questão.

Em nenhum momento utilizei a palavra “EXTERMÍNIO” (a palavra foi empregada por comunidades vegans/defensoras dos animais para me desqualificar). Nunca falei em perseguição dos gatos, ou mesmo defendi qualquer medida de espancamentos de tais animais (basta lembrar que eu, nesse mesmo site, afirmei que a vaquejada, por trazer sofrimento desnecessário para um animal, não tinha sustentação ética e que, portanto, precisava ser extinta). Ainda assim, nos comentários fui acusado disso tudo que expus anteriormente, ficando a impressão de que essas pessoas não se deram ao trabalho, sequer, de ler o meu texto. Se contentaram com os patrulhamentos e conclusões de terceiros.

Ora, na prática, a falta de enfrentamento da questão está levando a adoção de medidas extremas por parte da própria população. Conforme relatos, no bairro de Ponta Negra, uma parte dos moradores envenenou, mas também matou de outras formas (em sacos plásticos, queimados, pauladas, etc), todos os gatos da região para promover o controle (há suspeitas de que isso venha acontecendo em outras partes da cidade). Sou contra tais atitudes. Penso que cabe ao Estado, através de suas instâncias qualificadas e com política pública clara, a organização da questão. Sem, óbvio, trazer sofrimento para o animal (Segundo o Centro de Zoonoses da cidade, Natal, em 2001, acabou com a câmara de gás e passou a fazer uso de injeção letal, método de sacrifício mais utilizado e considerado menos desencadeador de dor).

Não me mostrei a favor ou contra os gatos. Não fiz essa apreciação de valor. Tento debater uma questão, que é de saúde pública.

Despertei para o tema quando presenciei a condição de extrema penúria em que se encontrava uma criança de oito anos (segundo os médicos, quase foi a óbito), que vi internada em hospital da cidade com a famigerada toxoplasmose, além do cenário que se estabeleceu na UFRN em decorrência dos felinos.

ZOONOSES

Enfatizei também que, ainda que não tenhamos acesso a dados precisos, nossa cidade vive, conforme relatos de profissionais da saúde (enfermeiros e médicos), um crescimento de doenças como a toxoplasmose, calazar, leptospirose, etc, e que o controle de animais era necessário, inclusive, também para combater tais doenças.

Procurei as estatísticas no centro de zoonoses, mas encontrei certa dificuldade burocrática para acessar os números. Entretanto, em conversa com os funcionários (agradeço a solicitude dos mesmos), tive a percepção de que o entendimento dos profissionais de saúde explicitado acima procede: há um crescimento da toxoplasmose em Natal (a dificuldade de conseguir os números, acredito eu, está relacionada com o período eleitoral, pois o dado, pelo que entendi, é mais negativo do que os cidadãos, em seu cotidiano, imaginam), tendência seguida por todo o RN (ainda há a subnotificação, que é alta).

Conversei com veterinários, médicos e biólogos e todos foram unânimes em dizer, ao contrário do que foi afirmado por alguns comentaristas do site, que locais em que há muitos gatos, cria-se, sim, ambiente propício para a difusão da toxoplasmose. O alimento mal lavado não é a única forma de contágio, conforme foi enfatizado também nos comentários do texto anterior (nessa reportagem http://www.correiodatarde.com.br/editorias/correio_natal-53214, é possível ver o relato de dois surtos de toxoplasmose em Natal [2010 e 2011] e as formas de contágio). O contato com o gato, ou o uso comum dos ambientes/utensílios pode também levar ao alastramento da doença. Um biólogo (temendo manifestações grosseiras, como podem ser fartamente encontradas nos comentários do texto “Morte aos gatos!”, ninguém quis ter seu nome mencionado), que fez graduação e mestrado na UFRN, lembrou o que é comumente visto pelos alunos daquela instituição: gatos dividindo bebedouros com alunos e professores (água contaminada também representa uma forma de contágio).

Outra informação. Nesse artigo http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed_web_atual_lv.pdf do ministério da saúde, também é possível ver que o calazar (leishmaniose visceral), doença já bem conhecida dos natalenses (já passamos por alguns surtos pelas nossas bandas), que tem o cão como principal vetor e mata, quando não tratada, em 90% dos casos, cresce em centros urbanos brasileiros, inclusive, na conhecida cidade do sol.

ALIMENTAR ANIMAIS DE RUA COMO PRÁTICA CRIMINOSA

Defendi também no texto que a prefeitura, encarregada de capitanear medida de controle de zoonoses e legislar sobre o assunto, deveria multar quem alimenta animais de rua e fui severamente atacado por tal afirmação, apesar de enfatizar que já é política adotada por outras cidades (me baseei no exemplo francês [naquele país, a reincidência pode gerar processo criminal]).

Tive a oportunidade de refletir sobre o assunto recentemente com um membro da polícia ambiental do RN, também formado em biologia. Segundo o profissional me relatou, a minha medida está correta e atenderia, inclusive, a uma melhor organização do meio ambiente da cidade.

Isto porque, ainda continuando no seu relato, pessoas que vêm alimentando gatos em praças e parques da cidade, estão gerando um desequilíbrio preocupante. No parque das dunas, por exemplo, espaço onde a superpopulação de gatos também pode ser notada, é comum encontrar (mas também no parque das cidades) cidadãos deixando ração ou restos de comida para os felinos. Resultado: os gatos se proliferaram e começaram a matar outras espécies, tais como o tijuaçu e alguns passarinhos que põem seus ovos no chão, ou em locais atingíveis pelos gatos (os gatos comem os pássaros e os seus ovos).

“Além de sujar as praças, avenidas, universidades, etc, permitindo a proliferação dos animais, insetos e doenças, eles ainda geram um desequilíbrio no ecossistema”, disse o profissional do meio ambiente.

Outros profissionais que trabalham no parque falaram que já tentaram conscientizar os visitantes, mostrando que eles não estão gerando um bem, mas trazendo um problema para a cidade. No entanto, segundo os trabalhadores, os pedidos costumam ser em vão. “Nós, que só queremos o bem do parque, ainda escutamos que somos desumanos”, me contou o rapaz chateado. Há espécies ameaçadas que, na nossa cidade, só existe na região do parque das dunas, mas que estão sofrendo com o excesso de gato.

O felino, que tem aparência bondosa, quando introduzido em determinados ambientes, têm a capacidade de interferir fortemente no ecossistema, me contaram os dois biólogos.

Em resumo, também, se a gente respeitar uma visão mais macro, menos pontual e menos apaixonada do processo, não defendi nenhum absurdo.

O HUMANO COMO CENTRO DO MUNDO

Enfatizei que o homem é mais importante do que o animal não humano. Porém, em nem um momento afirmei que a gente poderia matar a tudo e a todos, conforme comentaristas quiseram me enquadrar. Ora, a política de controle de zoonose também parte dessa premissa para pensar a população de animais. Até porque, sem o controle, a transmissão de doenças ocorre sim. E, em determinados casos, o sacrifício se faz necessário (qual o absurdo nisso tudo?).

CASTRAÇÃO, ESTERILIZAÇÃO E ADOÇÃO RESOLVEM?

Conforme os profissionais que consultei, as medidas são, inegavelmente, importantes. Porém, não retiram a necessidade do sacrifício. Até porque, conforme relatos dos profissionais da área, a adoção de gatos é, por exemplo, baixíssima. “Raro ver alguém adotando um gato”, me falou o funcionário do centro.

Já a castração e a esterilização são ações de longo prazo e, ainda assim, não anulam a necessidade de sacrificar alguns animais. Os centros de zoonoses também não apresentam condições materiais (recursos e espaço) e humanos (pessoal preparado) para fazer essa castração e esterilização em massa.

É preciso pensar ainda com a cabeça do administrador público. O centro de zoonose não recebe grande quantidade de recursos. Até porque a prefeitura prefere investir em outras áreas, o que dificulta ainda mais a conjugação de todas essas ações.

DESQUALIFICAÇÃO COMO (PÉSSIMA) PRÁTICA ARGUMENTATIVA

Alguns discordaram de mim com respeito, o que acho legítimo. Ninguém é obrigado a concordar com aquilo que o outro fala. Faz parte da democracia e das regras de um debate público, pautado por uma política comunicativa na esfera pública minimamente reflexiva. Porém, outros me desqualificaram num claro movimento – se não concordo com você, então, não vou atacar seus argumentos, mas acabar com a sua própria pessoa, com sua imagem, sua reputação.

Afirmaram que o meu argumento levava a crer que eu também poderia pedir a morte de pessoas com doenças crônicas (HIV, HEPATITE C, etc). Ora, nada poderia ser mais absurdo. Até porque, na verdade, o meu argumento tende, inclusive, a proteger os portadores de doenças crônicas, que são os que mais morrem, juntamente com idosos, grávidas e crianças, com as patologias adquiridas com o contato com um animal.

Pior. Afirmaram que eu era defensor da “eugenia”, como se a “eugenia” tivesse alguma relação com controle de animais.

Esta tática, além de desonesta do ponto de vista intelectual, é fascista, pois caminha pelo sentido do enquadramento com o objetivo de macular, de rebaixar o interlocutor moralmente para lhe apresentar a oportunidade de contradizer.

FUNDAMENTALISMO TOTALITÁRIO

Em nenhum momento ataquei quem quer que seja. Sempre caminhei pela via dos argumentos. Porém, alguns, que se afirmaram como “defensores da vida”, pediram a minha cabeça, falaram que sabiam onde eu trabalhava e que queriam ver a minha morte (tudo se encontra nos comentários do texto anterior). Ora, que pacifismo é esse que, além das ofensas pessoais, parte para as ameaças e ataques?

Eu, que fui pintado como o demônio, dialogo e tento debater. Enquanto isso, os opositores mais ferrenhos, acreditando que estão do lado do bem, falam em morte, ataque e perseguição? Não há uma inversão de valores?

O fundamentalista costuma ter uma causa, mas não é isso que o caracteriza. O que lhe atribui coloração especial é a tentativa de impor, de qualquer forma e por todas as vias, a sua convicção. O fundamentalista tenta eliminar tudo o que não se enquadra naquilo que ele acredita.

Como estabelecer o debate com uma pessoa assim?

O fundamentalismo é tão forte que, nos sites em que fui atacado, é possível encontrar textos criticando o uso dos animais como cobaias de pesquisa, algo imprescindível para testar a eficácia dos remédios, tratamentos, etc. Fico me perguntando se essas pessoas utilizam remédios, shampoos e sabonetes que foram testados por esse método.

O discurso é fortemente anticientífico e primitivista.

VISÃO IDÍLICA DA NATUREZA

A defesa dos animais é, em certo sentido, seletiva. Será que estariam me criticando, se eu tivesse pedido o controle de ratos e baratas?

Mais uma vez. O gato tem aparência bondosa, mas conforme os biólogos consultados, tem a capacidade de bagunçar todo um ecossistema.

CONSELHO

Os funcionários do centro de zoonoses me aconselharam a não mais argumentar, pois, por mais que eu tivesse certo ou apenas com a intenção de debater o problema, o diálogo com alguns (não todos) defensores dos animais é impossível.

Eles reclamaram das pichações e de ofensas a que já se acostumaram. O centro de zoonoses é chamado de “casa do inferno”, “centro de extermínio”, etc.

O que pensar de uma pessoa que sataniza um centro de pesquisa e controle, que melhora as nossas condições de vida e, inclusive, a dos próprios animais?

A interferência em alguns centros de zoonoses espalhados pelo Brasil foi importante para gerar um atraso naquilo que vinha dando certo. São Paulo apresentou revés em sua política de zoonose em decorrência da imposição por parte de grupos organizados de defesa dos animais do fim da prática de sacrifício, assim me relatou um veterinário consultado.

POSTURA DA CARTA POTIGUAR

Mesmo com os ataques mais baixos, o site em nem um momento, mas nem um mesmo, censurou o contraditório. Todos os comentários foram aprovados.

Além disso, veiculamos um artigo de um ativista, que se posicionou frontalmente contra o meu texto.

VEGETARIANISMO

Outra coisa. Não sou contra o vegetarianismo. Sou contra a um tipo de fundamentalismo vegetariano, que se coloca como superior a tudo aquilo que não segue a sua cartilha. Alguns vegans afirmam que “comedores de carne” cometem assassinatos em massa. Na internet, o discurso pode ser encontrado. Um claro exagero obscurantista, além de etnocêntrico.

BIOLOGIA

Fui criticado por ter afirmado que a carne foi fundamental para a evolução de nossa espécie. Ora, qual o erro teórico aí?

Em seu texto (resposta ao texto “morte aos gatos!”), Robson tenta negar a assertiva, mas acaba afirmando a importância da proteína da carne para a nossa evolução.

Segundo ele, não foi a carne, mas a proteína que foi importante (ele mostra corretamente que a proteína se encontra em outros alimentos que não apenas a carne).

Claro, sem dúvida. Porém, na noite dos tempos a grande quantidade protéica necessária para o homem se desenvolver só poderia ser encontrada, do ponto de vista prático, na carne. Tanto que foi assim que ocorreu.

PEDIDO

Espero que os argumentos e comentários sejam respeitosos.