Vaidade e política
A vaidade na política é um fármaco, pode ser remédio ou veneno. Envenena quando dissimula, quando seu resultado visa apenas a persona, a máscara, quando vincula a ação política à construção de uma imagem pessoal. Cura quando leva a realizações que tragam um bem comum, quando move o agente político para um bem público. A vaidade só é bem-vinda na política quando há uma esfera pública onde haja isonomia, onde sujeitos diferentes possuam pesos iguais, a vaidade sem este contrapeso dado pela esfera pública envenena, gera Calígula. Quando a política é vista como a esfera pública do mundo, onde sujeitos singulares podem alcançar grandes feitos para o bem comum através da ação e da fala, quando a imagem projetada por cada agente político representa projetos coletivos, o prazer na vaidade de ser-para-outros poderá ser bem-vindo.
Quando o orgulho emancipa
A vergonha é um meio de dominação. Quando minorias ou regiões periféricas envergonham-se do seu modo de ser, tornam-se facilmente subjugadas. Nestes casos o orgulho emancipa, liberta. Um orgulhoso é sempre mais difícil de ser subjugado. O orgulho quando cura a vergonha de ser quem se é, emancipa, fortalece.
Quando o orgulho se torna presunção
A presunção é um orgulho dissimulado, representado, quando fingimos que não estamos fingindo. A tentativa de simular uma vaidade como orgulho. Quando criamos uma imagem acima do que somos e simulamos um orgulho de algo que não somos. O orgulhoso, para não ser presunçoso, precisa do autoconhecimento para distinguir se o seu orgulho se baseia em méritos próprios, ou se é tão somente uma projeção do que queria ser.
Orgulho e política
Para que as pessoas se disponham a participar de um sistema político elas precisam se orgulhar dele. Quando elas estão envergonhadas da política, quando encaram a política como algo sujo, menor, o sistema político representativo corre o risco de ser apropriado pela vaidade de alguns poucos. A política que não orgulha a todos se torna um palco esvaziado para o exercício de vaidades pessoais. A falta de representatividade e participação é um reflexo da falta de orgulho. Quando um grupo político se utiliza de meios vergonhosos para atingir finalidades nobres, está em última instância estimulando o esvaziamento da política, envergonhando-a. O político orgulhoso é aquele que não se envergonha de seus meios, por isso não teme a transparência, já o vaidoso, para não se envergonhar, precisa sustentar a imagem que construiu e geralmente isso envolve meios vergonhosos.
Fica a questão: quando o modus operandi de uma coletividade que chegou ao poder é revelado, isso causa vergonha ou orgulho nos seus representados?
Façam a pergunta