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A dama e os vagabundos

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Chegou ao conhecimento dos membros do PET Ciências Sociais que, em “aula” da disciplina de Antropologia Brasileira, ministrada na última terça-feira (26/11/2019), uma certa professora do Departamento de Antropologia desonrou não apenas o programa, mas também especificamente o nosso atual grupo. Ainda que não tenhamos sua fala na íntegra – os gravadores então emudecem! – sabemos por testemunhos dos presentes que a referida docente teria afirmado que o programa de ciências sociais é inútil, composto por vagabundos que nada fazem, uma pequena “elite” que não justifica o dinheiro público investido. Se seguirmos as entrelinhas da argumentação da professora, seremos tentados a ver em sua fala uma afirmação de que investimento educacional é, na verdade, desperdício. Ainda mais curiosa é a situação por se tratar de uma professora que, em redes sociais e no palanque da sala de aula, arvora-se como defensora do investimento em educação.

Sem mencionar a falta de ética por comentários deste tipo dentro do horário de aula, a situação é intrigante por outros motivos. O primeiro deles é que a tal professora é bastante conhecida por suas capacidades em sala. Acusa os estudantes do PET Ciências Sociais de nada fazerem, de vagabundagem, mas uma rápida e superficial pesquisa sobre suas aulas mostraria que aquilo do qual ela nos acusa não passa de uma simples projeção. A disciplina é de Antropologia Brasileira, mas ela prefere propor aos alunos uma “terapia coletiva”, como gosta de chamar: trata-se de uma saída bastante comum inventar nomes bonitos para justificar a incapacidade de ministrar uma disciplina de verdade, com bibliografia e objeto definidos. Quem dera, entretanto, se fosse o caso isolado de uma única disciplina, em um único semestre. Sua fama corre pelos corredores – aí se as paredes falassem!

O segundo motivo que causa estranheza é este ataque ao grupo acontecer em um momento de transição da tutoria do programa. Não se pode deixar de mencionar que a banca de seleção montada para a definição desta tutoria contou com ninguém mais ninguém menos que esta mesmíssima senhora. Não contente com o resultado que ela mesma ajudou a produzir, resolveu não assinar o documento final. Ainda não contente em manter-se nas disputas institucionais apenas com os professores (gente do seu tamanho), resolveu apontar sua metralhadora de calúnias e difamações para o programa e os alunos, que nada têm a ver com estas disputas. Os transtornos irresponsáveis causados nesta seleção ameaçam prejudicar não este ou aquele professor, mas todos os bolsistas, uma vez que, sem tutor, não há homologação de bolsas.

Desperdício de dinheiro público são os alunos e suas bolsas – que aliás não são reajustadas há muito tempo! –, não os altos salários de alguns professores que nem para honrá-los servem! Isso sim é um grande desperdício. Em tempos de cortes educacionais – e de ataques aos cursos de sociologia e filosofia como “investimento inútil” – repudiamos profundamente as afirmações desta que se pretende docente. Inspirados em Giorgio Agamben, defendemos que muitos alunos recebam muitas “bolsas inúteis”, em “cursos inúteis”, para que vivam “inutilmente” como estudantes em um mundo que tanto preza pela “utilidade”.

Natal, 01 de dezembro de 2019.

 

Gabriel Pereira Matos, José Waldeyr, Leonard Domingos e Renan Souza.
Membros do Grupo PET Ciências Sociais