No teatro grego Deus Ex Machina era um recurso retórico para dissimular uma falha de roteiro. Quando a história parecia não funcionar, quando o enredo não encaminhava para um desfecho coerente, descia um deus pelo guindaste, isto é, pela máquina, dando uma solução que era sobrenatural e, portanto, não podia ser questionada. Uma forma simples de justificar uma falha de roteiro. Seria o equivalente a uma série non sense com várias temporadas cuja explicação final seria o sonho de alguém, uma forma banal de justificar o desenrolar da trama.
Enquanto afeto, Deus Ex Machina é um tipo de otimismo que acredita que a explicação para a falta de sentido de nossa realidade será dada em um desfecho final, quando tudo fará sentido. Este afeto transposto para a esfera política é a crença de que uma solução política mirabolante aparecerá de repente e solucionará os problemas da sociedade. O problema que envolve a Previdência e o desequilíbrio fiscal não será solucionado em uma única reforma, não virá daí a solução para todos os nossos problemas. Reduzir o debate apenas a esta questão é mascarar a causa deste sintoma: a desigualdade. Não há superávit fiscal que justifique o aumento da desigualdade, este ciclo nunca se mostrou virtuoso. O combate à desigualdade é uma bandeira que une teoricamente diversas posições políticas, até antagônicas entre si. Como a história testemunha, o flagelo da desigualdade não é atenuado por nenhuma solução mágica, mas por políticas públicas e iniciativas privadas que reúnam forças em prol deste objetivo. Ainda assim é uma meta para a próxima geração.
A desigualdade não será erradicada por um Deus Ex Machina, independente de qual astro for.