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Não me chamem de trabalhador

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Eu não sou trabalhador, trabalho e sustento sozinho minha família, mas trabalhador?

Não sou!

Dou o melhor de mim onde trabalho, mas meu trabalho não me define. Já trabalhei por quase 1 ano em um call center, com jornada de 8 horas e 45 minutos, enquanto cursava a graduação, onde o café era racionado, a ida ao banheiro fiscalizada, e a tela do computador monitorada, mas trabalhador?

Nunca fui!

Me chamem antes de vagabundo, preguiçoso, mas me livre dessa vergonha de ser mero trabalhador. Smith e Marx são mais parecidos do que parecem, idólatras do valor do trabalho. Talvez mudassem de ideia se lhes tirassem o ócio, tão comum a eles.

Não esqueço o diálogo entre dois vendedores em uma loja de importados no centro da cidade:

— Fulaninho não gosta de trabalhar

— Ninguém gosta de trabalhar, as pessoas gostam é do dinheiro

Esse discurso da dignidade do trabalho saem dos gabinetes, burocratas estatais, intelectuais, escritórios pomposos, é coisa de gente feita na vida. Mas eu nunca vi um trabalhador, sabe, um trabalhador mesmo, levantar logo cedo, junto com o sol, saudar a aurora e dizer: “que belo dia para se trabalhar”.

Ninguém nasce trabalhador, ao contrário do que dizem os sacerdotes da Igreja do Trabalho, as pessoas não querem trabalhar, querem sobreviver. O trabalho é um meio de sobrevivência.

Viver é mais do que sobreviver.