Recentemente tive a alegria de conhecer um campus avançado do IFRN, situado no município de Canguaretama. Na ocasião, fui convidado para fazer uma fala sobre o significado dos direitos humanos e suas implicações no Brasil e no mundo. Sobre o tema sugerido, inicialmente, falei sobre as múltiplas fontes (religiosas, filosóficas, políticas e sociais) do sentido moderno de dignidade humana que se encontra codificado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em seguida, destaquei o caráter “aberto” e sujeito a revisões da semântica dos direitos humanos. Uma delas, pontuei, foi a inclusão do direito universal à educação. Mais, demonstrei com o exemplo do próprio IFRN que o compromisso coletivo com o ideal de educação universal não é apenas um sonho distante. Mas que os IFs do RN são a materialização institucional deste que é hoje um direito humano fundamental.
Em Canguaretama, além de reencontrar velhos amigos dos tempos de graduação na UFRN, também encontrei uma infraestrutura de primeiro mundo e profissionais de educação com elevados níveis de qualificação. E o mais importante, esse “capital” material e humano servindo ao trabalho pedagógico de educar um corpo de estudantes constituído em sua maioria por moradores de pequenos povoados rurais e urbanos de cidades e distritos do interior do RN. Entendi com mais clareza “etnográfica” o que algumas pesquisas sobre a educação básica brasileira queriam dizer exatamente quando classificavam a educação dos Institutos Federais como pequenas “ilhas finlandesas” no meio do mar de miséria educacional do país. Entendi e me emocionei com aquela experiência. Como muitas e muitos de minha geração, quando adolescente, desejei ter cursado minha educação secundária no IF (antes, conhecido pelo nome de Escola Técnica Federal do RN ou simplesmente ETFERN). Não realizei esse sonho de trajeto escolar, mas me senti contemplado ao encontrar jovens das classes populares de meio rural realizando aquele meu sonho de adolescente. Por essa razão, entendo a importância estratégica da conservação dos IFs para o desenvolvimento do Rio Grande Norte. Nessas instituições, novas gerações são educadas e formadas para contribuir com o futuro de suas cidades de origem. Jovens que não vivenciam apenas experiências de educação escolar nos IFs, mas também experiências de sociabilidade, lazer e aprendizados intersubjetivos orientados para o compromisso com a diversidade e alteridade.
No dia em que eu fui ao campus de Canguaretama, por exemplo, encontrei uma senhora muito simpática que comercializava frutas, legumes e outros produtos orgânicos fabricados em assentamentos rurais das localidades. Também fui abordado por uma jovem estudante negra que conversou comigo a respeito das dificuldades em se abordar os direitos humanos a partir das vivências “concretas” das populações negras, LGBTs e indígenas daquela região. Concordei e acrescentei que se tratavam de dificuldades duplamente vividas também por educadoras e educadores que nem sempre tem ou raramente tem a “intimidade” com experiências de diversidade. Que justamente nessas circunstâncias, o mais acertado seria assumir o protagonismo compartilhado: de um lado, estudantes experientes compartilhando seus “saberes práticos” sobre a diversidade e, do outro lado, professores compartilhando seus “saberes teóricos” sobre a diversidade. Num diálogo simétrico e complementar, todas e todos, em comunhão, aprendendo a expandir seus horizontes de significado compartilhado da diversidade. Sem hierarquizações a priori de saberes, mas também sem impor autoridades/autorizados de fala. Sorrimos juntos e aprendemos juntos. Naquele dia, deixei um campus do IFRN com outro sonho, não mais adolescente. O novo sonho é o de um dia assistir ao IF se tornar o marco normativo e horizonte objetivo de toda a educação básica do Brasil. Não precisamos importar fórmulas educacionais de outros países, pois temos a nossa melhor e mais bem sucedida fórmula educacional bem próximo de todas e todos nós. Basta aprender a ouvir, olhar e sentir.