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16 de Julho de 1645, Cunhaú-RN

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Por Thiago Oliveira

(Pesquisador, Militante e Estudante IFRN, Facebook.com/OliveirThiago)

CANGUARETAMA/RN

Há no Engenho Cunhaú, “uma exploração turística pela fé. […] [Porém] Não há ainda, uma intenção por parte das autoridades locais [Poder Político do Município de Canguaretama/RN], em investir no melhoramento de um “turismo dupla face”, [Turismo Cultural] nem ao menos, incentivos[1] aos pesquisadores do assunto”[2], devido ao passado religioso da região, revelado anualmente na Festa dos Mártires do Cunhaú[3]. Assim cabe a composição de um grupo específico para a atuação da confecção de um projeto que organize eventos no curto e médio prazo que versem sobre a “interação entre a cultura local e a comunidade, posteriormente, essa integração deve ocorrer com os visitantes ao inserir os produtos turísticos culturais em roteiros do município.[4]

Isso posto, deveria haver por parte dos mandatários do Executivo Municipal e Câmara de Vereadores, o empreendedorismo na gestão pública local, cujo principal percussor é a iniciativa do gestor público eletivo, onde fará o desenvolvimento do Município de Canguaretama/RN[5]. Desse modo, cabe à classe política e à sociedade civil municipal, a confecção de projetos e políticas públicas numa das principais fontes econômicas da cidade, o turismo, que hoje se limita ao turismo de sol e mar no distrito de Barra do Cunhaú-Canguaretama/RN, e em raras oportunidades o escolar e o religioso na Capela do Engenho Cunhaú, e que não veem o excursionismo cultural como um forte incremento turístico local.[6]

A falta de investimento no melhoramento num “turismo dupla face” no Engenho Cunhaú, decerto é pelo efeito de que “A data de 16 de julho de 1645 [ficou] assinalada no calendário histórico e religioso de Canguaretama como suprema consagração de resistência cristã contra a maldade sacrílega e hedionda de Jacób Rabbi e a fúria assassina da indiada tapúia, janduís e potiguares.”[7] E que busca “fomentar à fé dos peregrinos e a formação de um turismo religioso para o local […] nas paredes reconstruídas da capela dedicada a Nossa Senhora das Candeias […] [e] que ‘capitalizam’ o evento histórico como atração turístico religiosa.”[8]

Dito isso, é bom salientar que o Engenho Cunhaú “é muito mais amplo [no] tempo. Seu valor histórico vai desde o início do século XVII até o século XIX, rico de eventos de grande importância para o Rio Grande do Norte. Foi, por exemplo, o primeiro e mais importante engenho de açúcar da Terra Potiguar, constituindo sua estória uma verdadeira epopeia, motivo de orgulho para todos nós. Usando as palavras do Historiador Nestor dos Santos Lima: foi em Cunhaú “que se fixou o Solar dos Fidalgos Albuquerque Maranhão”, tornando-se esse engenho “o centro das atividades desse família, Jerônimo Albuquerque que dali saiu em 1614, para conquistar o Maranhão” de onde lhe veio o sobrenome, transmissível à sua descendência”.[…] Cunhaú é também “o berço de André de Albuquerque Maranhão (Andrezinho do Cunhaú)., […], comandante das tropas milicianas do sul da capitânia, Patriota e márty da Revolução Pernambucana de 1817 na capitânia”, foi preso no Forte que seu antepassado Jerônimo Albuquerque mandou construir, sendo morto no calabouço entre a madrugada de 25 pra 26 de abril de 1817.”[9]

 CAPELA DO ENGENHO CUNHAÚ

 Verifica-se a unanimidade da grande maioria dos historiadores potiguares em proferir que a atual Capela do Engenho Cunhaú foi a que presenciou o 16 de julho de 1645: “As ruínas da capelinha guardaram os massacrados incontáveis daquele domingo trágico.”[10]Essa capela foi palco do Morticínio de Cunhaú, em 16 de julho de 1645 […].”[11]“Não existem dúvidas à respeito do local onde foram martirizados o Pe. André de Soveral e seus 69 companheiros. […] A capela, que por mitos anos ficou em ruínas, foi restaurada pelo Patrimônio Histórico, e pela Fundação José Augusto, de Natal”[12].A capela onde ocorreu o massacre de 1645 foi recentemente restaurada, graças à ação conjunto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da Fundação José Augusto.” [13]

Todavia, esse discurso se configura como um “falso histórico”, no argumento de que nenhuma réplica ou simulacro teria o valor histórico da obra original[14], visto que “essa capela foi reconstruída, assim a que presenciou o 16 de julho de 1645 foi a passada, na original”. Dito isso, é questionável que a ermida atual foi a do evento, como explicado em “Indagações espaciais sobre a Casa Grande do Engenho Cunhaú”[15], que relata que a capela foi edificada “com a reconquista, [do Cunhaú por] Matias de Albuquerque Maranhão, [que] voltou a Cunhaú onde restaurou o engenho e consertou a capelinha e aí faleceu em 1685. [16] Já a que presenciou, estaria atualmente soterrada no lado esquerdo da extinta Casa Grande do Engenho Cunhaú, cujo alicerce é o baldrame da residência do gerente da Fazenda Cunhaú, Sr. Ademar Rodrigues.

 O trabalho Indagações espaciais sobre a Casa Grande do Engenho Cunhaú se fundamenta em três pilares: a prospecção bibliográfica de arquitetura colonial “Em sua grande maioria, essas famílias eram católicas e para demonstrar sua devoção e respeito pela Igreja e por determinado santo, eram construídas capelas, que podiam estar ou não ligadas à casa-grande.”[17] Apoiada igualmente pela contraposição da “[…] alegoria [de Frans Post sobre o Engenho Cunhaú que] aparece no mapa de Jorge Marcgrave (1643), relativo à Capitania do Rio Grande, […] incluído no livro de Gaspar Barlaei. Rerum per Octernnium in Brasilia (1647)”[18] com uma fotografia tirada em 01 de maio de 2015.

Octernnium in Brasilia (1647)” com uma fotografia tirada em 01 de maio de 2015.

A alegoria mostra uma Casa Grande no centro, e uma capela contígua à esquerda, já a fotografia o que seria trezentos no futuro. E há de salientar que a Capela de Nossa Senhora das Candeias estava com seu frontão sobreposto ao que aparenta ser uma Casa Grande holandesa, todavia se fosse portuguesa, haveria a preservação do frontão[19]. Ou da autorização dos donos do engenho de 1641, de aumentar a ermida, ao invés de ser edificada uma nova como desejo dos colonos.[20]

Conjuntamente alicerçada na arquitetura da Casa Grande do Engenho Cunhaú “[…] [que tinha] 45 metros de comprimento e 30 centímetros por 9 metros e 62 de largura. De altura ia dois metros de e 60 apenas. Restam 15 metros e 30 centímetros […] Tinha um janelório baixo, aberto a oeste. A leste nada. […] Ao sul duas janelas. […] Servida por uma porta para o pátio, diante da Capela histórica.”[21] “[…] Após a matança invadiram a casa contígua à capela.”[22]

Assim há a pergunta: “Será que a diferença de 30m antes da destruição total da moradia senhorial do Engenho Cunhaú teria sido a Capela do 16 de julho de 1645?” 

 SIMBOLISMO

O antigo Engenho Cunhaú é rico em histórias para a História Norte-rio-grandense e por consequência ao Município de Canguaretama/RN. “Foi aqui que o massacre na primeira invasão holandesa ao Cunhaú […] Foi aqui que o holandês subiu de bote armado em guerra o rio Cunhaú”[23]. Contudo não são exploradas/aproveitadas em sua

plena capacidade, no contexto turístico e acadêmico[24] devido a um padrão de apreciação da matança de 1645 introduzido pela Sé Metropolitana da Província Eclesiástica de Natal, oriunda do livro “Os Holandeses no Rio Grande”, do Padre Paulo Herôncio, que influenciou diretamente[25] os historiadores sem formação acadêmica na área de História e que estavam ligados ao Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), que segundo a historiadora Denise Mattos Monteiro corresponde à produção dos primeiros 70 anos do século XX, a intitulada historiografia clássica, sendo composta por historiadores que estavam no Rio Grande do Norte ou fora do estado, sendo os mais conhecidos: Desembargador Vicente de Lemos (1850-1919), Augusto Tavares de Lira (1872-1958), José Francisco da Rocha Pombo (1857-1933) e Luís da Câmara Cascudo (1898-1986)[26]

Esse período, segundo a historiadora Marlene da Silva Mariz, é a chamada historiografia “tradicional” do Rio Grande do Norte, cujas obras são bastante conservadoras, e facilmente encontradas nos livros didáticos sobre o estado potiguar.[27] Isto é, “[…] um tipo de História sobre o Rio Grande do Norte que procurava conectar o seu passado com aquele do Brasil [Governo Federal], onde valores como a unidade nacional e a cultura ocidental, cristã e católica, de matriz europeia e ibérica, estavam presentes […] quase sempre envoltos em pesquisas focadas na classe política da época e fatos consumados na versão lusitana. [28]

O padrão de estudo sobre a matança de 1645, se originou num empreendimento das autoridades locais coloniais em legitimar a guerra contra a grande sociedade indígena existente, já que rendia terra e escravos para o avanço da atividade pastoril, levando assim para o campo moral e religioso um conflito de origem muito mais complexa.[29]

Com tal característica as fontes do período, que são escassas, foram fundamentadas numa civilização cristã-católica como o panfleto de Lopo Curado Garro, comandante das armas da Paraíba[30], onde mesclava o relato com elementos fantásticos: “certo presságio que foram os Anjos que acompanhavam as almas destes mártires para o Céu[31]. Ignorado que “[…] Confrontos com índios, foram muitos naquela época. O massacre dos mártires não foi um fato exclusivo e único que envolveu indígena[32], sendo que milhares foram mortos violentamente no início da “colonização” portuguesa, e durante a Guerra dos Bárbaros, onde houve uma carnificina dez vezes maior, mortos em uma única batalha contra homens do colonato local, e o Terço dos Paulistas, na Serra da Rajada, entre Acari e Carnaúba dos Dantas. [33]

A consequência mais expressiva do padrão de apreciação, foi que “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”[34], na eleição das vítimas “[que pediram] […] lhe cada qual, com grande contrição, perdão de suas culpas […]”[35], lembrados num feriado estadual, monumento e uma série de festividades, e os vilões “bárbaros, sanguinários e canibais […] [e] apresentados como traidores.”[36], sem menção na historiografia potiguar que são apresentados na historiografia clássica, na forma de um arquétipo, a repetição progressiva de geração em geração, da história da incomensurável fé dos massacrados pelos holandeses calvinistas e indígenas, devido à intolerância religiosa do momento, transmitida na fala de um aluno do 9ª ano da Escola Estadual Fabrício Maranhão: “O Morticínio foi a morte de nossos padres pelos índios[37]

E no imaginário popular num simulacro[38] a representação mais atraente do que o próprio encenado, uma vez que a simbologia é mais importante, do que a verídica história vista antigamente com a extinta escultura ao Padre André de Soveral morto pelo índio Jerereca, financiada pela igreja local, dirigida pelo Padre Gilvan Miguel Pereira, em prol da Beatificação dos Mártires de Cunhaú e Uruaçú[39], duramente criticada pela Comunidade Indígena Potiguara Resistente do Catu dos Eleotérios, Município de Canguaretama/RN, por representar uma imagem negativa e preconceituosa dos índios.[40]

Além da disseminação por parte de algumas autoridades eclesiásticas e até civis de que a imagem primitiva de Nossa Senhora das Candeias presenciou a matança de 16 de julho de 1645, uma vez que “[…] Registros históricos indicam [apenas] que a imagem ocupava o orago da capela do Engenho Cunhaú […]”[41], e não que ela assistiu o evento, além de que “alguns moradores mais velhos [de Canguaretama] dizem que a imagem foi trazida de Mamanguape/PB, por um Padre [possivelmente o vigário Leôncio Fernandes da Costa ou outro] e depois divulgada com essa história.”[42]

DISCORDÂNCIAS

Assim o 16 de julho de 1645 guarda em si uma dualidade de visões, vista na historiografia clássica e no imaginário popular, pela religiosidade tradicional potiguar “os fiéis portugueses mortos pelos índios brutais e os holandeses calvinistas por um reflexo das lutas religiosas na Europa do século XVII”, e na História cronológica “a grande civilização indígena existente na terra dos potiguaras foi fisicamente eliminada pela colonização ibérica seja pela força ou pela religiosidade predominante católica”.

Todavia, há em alguns meios acadêmicos/populares alternativos uma versão contrária, ao “ato de invasão dos brutais, selvagem, ímpios, todos que restavam na igreja rezaram com muito afinco, era domingo, 16 de julho de mil seiscentos e quarenta e cinco. A um sinal do alemão, índios cruéis atacaram defendendo interesses massacraram e imolaram por amor de Jesus Cristo muitos cristãos se entregaram. […][43], intitulada nesse ensaio como, Retaliação Indígena no Cunhaú, na qual se ratifica que matança de 1645 não é diferente de outras no Brasil Colonial: “O que se chama de massacre dos mártires de Uruaçu e Cunhaú (mártires católicos! pois do outro lado estavam protestantes holandeses e indígenas) é fato ocorrido no século XVII e não difere de outras situações que o território brasileiro conheceu, em todas as partes, no período colonial. […] No fundo, o que se visa exaltar é a fé católica que, nesse mesmo período histórico, foi responsável pela morte de milhões de indígenas. […] Multinacional capitalista, que enriquece com a mais-valia da fé alheia explorada, mas continuamente sedenta de criar santos e milagres para a conservação do seu domínio sobre uma população pobre e abandonada à sua própria miséria e o Estado [Rio Grande do Norte] não pode ser cúmplice do absurdo que é tornar feriado um dia da semana para culto de uma narrativa que insulta os indígenas de ontem e de hoje.”[44]

Como dito acima, há uma interferência da religiosidade predominante católica no Poder Executivo e Legislativo do Rio Grande do Norte contrariando a laicidade ratificada pelo Decreto Nº 119-A de 07 de setembro de 1890, na Constituição Federal de 1988, nos artigos 05, 19 e 150, pela criação da Lei Nª 8.913 de 06 de dezembro de 2006, do Deputado Estadual José Dias/PSDB, que institui o dia 03 de outubro, como feriado estadual à memória e a culto público e oficial dos Protomártires de Uruaçu e Cunhaú, aprovado por unanimidade. E sanção da mandatária do Executivo Estadual Wilma Faria/PSB: “Isso ajudará os fiéis a comparecem em massa aos lugares dos massacres”, e proferiu o Arcebispo Dom Matias: “O feriado contemplou uma aspiração da Igreja e favorece a presença dos fiéis na festa dos mártires[45]

Logo cabe uma nova reflexão: “Não seriam os indígenas também mártires de sua cultura? Não foram eles os mais atingidos durante a colonização, que tiveram de abandonar seus costumes e crenças em favor de um projeto político e religioso de outro?[46] Com a sanção da Lei Nª 8.913/2006 houve a desvirtuação da universalidade de valores obrigatoriamente preservados pelo Estado em suas decisões, necessitando assim “A retomada, o resgate dessa identidade, se faz necessária, sobretudo, no espaço público, seja na concretude das praças, na semiótica das mídias, ou no discurso dos livros. Sendo assim, é crucial que esse processo de retomada da questão indígena no espaço público passe também por uma revisão historiográfica.”[47]. Uma vez que “Somente na medida em que a história serve à vida queremos servila”[48], tendo isso em mente, o resgate não é para ser nostálgico, e sim propor uma nova historiografia clássica do Rio Grande do Norte.

Dito isso uma das melhores e mais rápida ação de resgate seria a elaboração de um Anteprojeto de Lei que declara

um Dia Estadual à Memória dos Índios Massacrados na “Colonização” do Rio Grande do Norte,

onde os estudos seriam iniciados numa Audiência Pública, conforme fundamentada na Constituição República Federativa do Brasil de 1988, no Art. 1 § único “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, na Lei Nª 12.527/2011, art. 9, item II, além do artigo 43, inciso 2, item  II da Constituição do Estado do Rio Grande do Norte, bem como no artigo 316 do Regimento Interno da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte: “As Comissões podem, inclusive em reuniões conjuntas, realizar audiência pública com cidadão ou entidade da sociedade civil para instruir matéria legislativa em trâmite, bem como para tratar de assunto de interesse público relevante, mediante proposta de qualquer Deputado, ou a pedido da entidade interessada”.

Uma vez que, se analisarmos o período holandês, percebemos que as relações nos mais diversos aspectos dos grupos formadores da sociedade brasileira na tríade proposta por intérpretes do Brasil: negros, indígenas e portugueses[49] no período anterior e concomitante ao 16 de julho de 1645 diferem da historiografia clássica: “Na realidade, na fase colonial, sobretudo nos primeiros tempos, a Igreja, com a catequese, prestava um grande serviço de colonizador; propondo-se a converter os indígenas à fé católica, com o fim salva as suas almas […] Os padres usavam métodos diferentes dos colonizadores: eles tinham menos pressa, procuravam poupar os índios da morte, aldeando-os, delimitando suas áreas de cultura, embora explorando-os, em seus engenhos, em suas fazendas, os chamados, na época, de currais. Os colonos preferiam agir pela força das armas, combatendo-os, os dominando-os, passando pela força das armas os principais chefes, a fim de atemorizar os demais, tomando-lhes as terras e escravizando-os”[50] Além de que “A permanência do senhor lusitano no meio rural era uma oportunidade para que ele continuasse exercendo sua autoridade e influência, pois enquanto no Recife a intolerância calvinista proibia as missas a portas abertas e as procissões; no interior os senhores exerciam a liberdade religiosa nas capelas que os engenhos dispunham. A relativa autonomia do senhor lusitano no campo ocorria pela pouca penetração holandesa no interior.”[51], no “No Brasil Holandês, a permanência de cristão-Romanos era garantida, não só de Júri, mas de fato. […] A população católica romana, no auge da colônia (1640), deve ter sido no topo cerca de sessenta por cento. Embora a ocupação holandesa houvesse criado situações difíceis para os lusos brasileiros (culminando com o massacre de 25 portugueses na capela de Cunhaú, RN, pelos tapuias em represália à morte dos 23 índios após a rendição de Sirinhaém), a população portuguesa romana foi protegida pela Lei e, às vezes também pela força, como quando os brasilianos [índios] quiseram matar todos os lusos em 1637, na conquista do Ceará.”[52] E “Os selvagens se guerreiam não é para conquistar países e terras uns dos outros, porquanto sobejam terras para todos; não pretendem tampouco enriquecer-se com os despojos dos vencidos ou resgate dos prisioneiros. Nada disso os move. Confessam eles próprios serem impelidos por outro motivo: o de vingar […].”[53] 

Logo deveria haver na historiografia clássica e no imaginário popular a seguinte interpretação: No domingo, de 16 de julho de 1645, 200 índios tapuia e janduís, do sertão, coadjuvados por 70 soldados batavos desertores, liderados pelo intérprete Jacó Rabe, sem a benesse dos Potiguares do litoral. Se aproveitaram que os moradores do Cunhaú, estariam na missa da Capela de Nossa Senhora das Candeias contígua à Casa Grande do Engenho, perpetuaram a Retaliação Indígena no Cunhaú, aos colonos presentes na igreja e aos aldeãos que desceram pela escada da moradia senhorial ao ouviram os gritos da ermida à direita. Para vingar a redução de três milhões da população nativa, chacinados nos primeiros 300 anos de “colonização” portuguesa, oriunda da aculturação catequista predominante católica e das matanças dos portugueses, e pela notícia da violência gratuita dos portugueses aos índios após a rendição de Sirinhaém. Além da conquista de tesouros do primeiro e mais importante engenho da Capitania do Rio Grande, diante o comércio pacífico aos moradores do Rio Grande, e sem a anuência do Alto e Secreto Conselho Holandês do Recife, devido às suas Leis e armas protegerem os portugueses como 1637, na conquista do Ceará.  

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[1] COSTA FREIRE. Hortência Gomes, Morticínio em Cunhaú. [s.n.d]. pág. 11

[2] FILHO, Alípio Souza. FERIADO DE 3 DE OUTUBRO É INSULTO A INDÍGENAS. Diário de Natal. p. 2, 25 de set. de 2007.

[3] OLIVEIRA, Thiago Antonio de. Abundância de vale com matas à verdejante Canguaretama/RN/Thiago Antonio de Oliveira – Natal: Editora do IFRN, 2016. 187p, pág. 93

[4] DUARTE BRAZ, Andrielly Karolina; SILVA DIAS, Nara Lidiana; LOPES, Fátima Martins. REFLETINDO SOBRE O OUTRO: LEITURA E RELEITURA DOS MASSACRES DE CUNHAÚ E URUAÇU. Disponível em: http://ojs.fe.unicamp.br/ged/FEH/article/view/6784/5612 Acesso em: 19 de abr. de 2017

[5] MADSON; 2017.

[6] Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900. Segunda consideração intempestiva: Da utilidade e desvantagem da história para a vida/Friedrich Nietzsche; tradução Marco Antônio Casanova. – Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003  – (Conexões; 20)

[7] RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

[8]ANDRADE, Manuel Correia de. A Agro Indústria Canavieira e a Organização do Espaço: Contribuição à História das Usinas de Açúcar de Sergipe/ Manuel Correia de Andrade- Natal: Cooperativa Cultural da UFRN, 1990. 84 p.: Il. (Coleção sala de aula. 15) pag. 08

[9] MENEZES, Sezinando L.; SANTOS, Thiago C. dos. “Os holandeses e o nordeste brasileiro: 1630-1654”. Anais do XIX Encontro Regional de História: poder, violência e exclusão. p. 1-9. ANPUH/SP-USP. São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2008. Disponível em: http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XIX/PDF/Paineis/Thiago%20Cavalcante%20dos%20Santos.pdf. Acesso em: 29 mai. 2017

[10]SCHALKWIJK, Frans Leonard. Igreja e Estado no Brasil Holandês, Pref. de José Antônio Gonçalves de Melo, Recife: FUNDARPE. Diretoria de Assuntos Culturais, 1986, il (coleção Pernambucana 2ª fase) pag.  248

[11] LOPES, Fátima Martins. Missões religiosas: índio, colonos, missionários na colonização da Capitania do Rio Grande do Norte. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal de Pernambuco: Recife, 1999. pág. 35

[12] SILVA, Claudia Maria Moreira da. “…Em busca da realidade…”: a experiência da etnicidade dos Eleotérios (Catu/RN) / 2007. 271 f. Dissertação (Antropologia Social). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal/RN, 2007. pág. 126

[13] GUERRA, Jussara Galhardo Aguirres. Mendonça do Amarelão: os caminhos e descaminhos da identidade indígena no Rio Grande do Norte- Recife: O autor, 2007. 217 folhas: Il..fotos, tab., mapas Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Pernambuco. CFCH. Programa de Pós-Graduação em Antropologia. Recife, 2007. pág. 32

[14] Fundação José Augusto. Instituto de Formação e Gestão em Turismo do Rio Grande do Norte. Patrimônio Sacro. Fundação José Augusto/Instituto de Formação e Gestão em Turismo do Rio Grande do Norte. Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia e Tricia Rosado Maia (org.). Giovanni Sergio Rego (il.) Natal (RN): Fundação José Augusto, 2006. (Coleção Patrimônio Cultural Potiguar, 2) 12 p. il. Tradução de: Elisa Cunha, Valerie Arevalo Angus. pág. 06

[15] OLIVEIRA, 2016. pág. 127

[16]CAVIGNAC, Julie Antoinette. Caboclas brabas e tapuias amansados: uma história mal contada. Perigo iminente, v. 2, p. 57-63, 2012

[17]LIMA, Heitor Rodrigues de. Os nativos e o massacre de Cunhaú, Canguaretama. 2009. UVA pag. 34

[18]Originalmente escrita no tratado filosófico “Simulacres et Simulation” em português Simulacros e Simulação, de Jean Baudrillard que discute a relação entre realidade, símbolos e sociedade.

[19]OLIVEIRA, T. H; LOPES, B. R.L. NOVAS ABORDAGENS DE PESQUISAS SOBRE O ENGENHO CUNHAÚ. In: Congresso de Iniciação Científica do IFRN, XI, 2015, Santa Cruz. Anais. Natal: Editora do IFRN, 2015.

[20] PEIXOTO, Renato Almeida. “Duas Palavras”: Os Holandeses no Rio Grande e a invenção da identidade católica norte-rio-grandense na década de 1930. Revista de História Regional 19: v. 1, p. 35-57, 2014

[21] MACEDO, Helder Alexandre Medeiros de; NETA, Olívia Morais de Medeiros. Curso Técnico Nível Médio Subsequente de Guia de Turismo: História do Rio Grande do Norte; Aula 01; Rio Grande do Norte, História e Historiografia. Natal/RN: IFRN-e-E-Tec Brasil. 2010. 21 p. pag. 08-10.

[22] MACEDO, NETA, IFRN-e-E-Tec Brasil. 2010

[23] CARLOS, Conrado. APOCALIPSE INDÍGENA DEVERIA SER LEMBRADO PARA ALÉM DOS MASSACRES EM CUNHAÚ E URUAÇU. Disponível em: http://www.substantivoplural.com.br/apocalipse-indigena-deveria-ser-lembrado-para-alem-dos-massacres-em-cunhau-uruacu/ Acesso em: 22 de jun. de 2017

[24] MADSON, Túlio. Mesa abordará o resgate da identidade indígena no RN durante o FlipAut! em Pipa Disponível em: https://https://https://https://https://https://https://https://cartapotiguar.com.br//wp-content/uploads/2024/05/temp-podcast-05-2.png.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/05/temp-podcast-05-2.png.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-1.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca.jpg.com.br/novo/2016/12/03/mesa-abordara-o-resgate-da-identidade-indigena-no-rn-durante-o-flipaut-em-pipa/ Acesso em: 28 de mai. 2017.

[25] SPENCER, Walner Barros. Capela do Engenho Cunhaú [mensagem pessoal] Mensagem recebida por: <thiagooliveirarn@gmail.com> em 09 de jun. de 201

[26]MADSON, Túlio. Os Mártires. Disponível em:  https://https://https://https://https://https://https://https://cartapotiguar.com.br//wp-content/uploads/2024/05/temp-podcast-05-2.png.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/05/temp-podcast-05-2.png.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-2.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca-1.jpg.com.br/novo/wp-content/uploads/2024/07/morro-do-careca.jpg.com.br/novo/2013/10/01/os-martires/. Acesso em: 28 de mai. 2017.

[27]NORTE, Tribuna. Feriado estadual dos mártires divide as opiniões no RN. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/feriado-estadual- dos-martires- divide-as-opinioes-no- rn/54203Acesso em: 10de abr. 2017

[28]CARLOS; 2017

[29] Proferido por Joseph Goebbels- citado em “The Sack of Rome” – Page 14 – por Alexander Stille e também citado em “A World Without Walls: Freedom, Development, Free Trade and Global Governance” – Page 63 por Mike Moore – 2003

[30]PEREIRA, 1999, p. 16

[31] GOMES TAVARES, Ronald Ferreira dos Santos. Quadro de Frans Post [mensagem pessoal] Mensagem recebida por:  <thiagooliveirarn@gmail.com> em 18 de fev. de 2017

[32] LYRA, Anderson Tavares de. Engenho Cunhaú: resumo histórico. Disponível em: http://www.historiaegenealogia.com/2017/05/engenho-cunhau- 413-anos- de-historia.html. Acesso em: 05 de mai de 2017

[33] CASCUDO, 2008 p. 114.

[34] PEREIRA,1999. pág. 16.

[35] Homero Homem de Siqueira Cavalcanti in “Hino do Centenário de Canguaretama”, veja mais em: http://coletivomestrepadre.blogspot.com.br/2014/10/homero-homem.html

[36] MEDEIROS FILHO, 1993, p. 22

[37] LIMA, Auricéia Antunes de. Terras de Mártires. 2. ed. Natal: Ed. da autora, 2001, 268p. pág. 245

[38] CASCUDO, Luís da Câmara. A Casa de Cunhaú: história e genealogia/ Luiz da Câmara Cascudo; prefácio, notas, quadro genealógico glossário de Paulo Fernando Albuquerque Maranhão. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008. 182 p.–(Edições do Senado Federal; v. 45) pág.12

[39]GALVÃO NETO, Francisco Alves. O Martírio do Rio Grande do Norte/ Francisco Alves Galvão Neto. – Natal, (Projeto das Sementes) 2013. 68 p. pág. 47

[40] PEREIRA, Francisco de Assis, Protomártires do Brasil: Cunhaú e Uruaçú-RN/ Francisco Assis Pereira. –Aparecida, SP: Editora Santuário, 1999. pág. 42.

[41] MEDEIROS FILHO, Olavo de. O Engenho Cunhaú à luz de um inventário/ Olavo de Medeiros Filho. -Natal: Fundação José Augusto, 1993. 86 págs. p. 19

[42] DPH. A reconstrução do Pátio do Colégio e o conceito de “falso histórico” – Disponível em: http://patrimoniohistorico.prefeitura.sp.gov.br/patio-do-colegio-e-o-conceito-de-falso-historico/ Acesso em: 11 de mai. de 2017

[43] OLIVEIRA, Thiago Antonio de.; MAIA, Marcio Monteiro. Indagações espaciais sobre a Casa Grande do Engenho Cunhaú. In: Congresso de Iniciação Científica do IFRN, XII, 2016, Parnamirim. Anais. Natal: Editora do IFRN, 2016

[44] CASCUDO, 2008, p. 49

[45] MENESES, Catarina Agudo, MUNIZ Bianca Machado; SILVA, Maria Angélica da. OS ENGENHOS DE AÇÚCAR E A CONSTRUÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL ALAGOANO. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/VI_coloquia_t5_engenhos_acucar.pdf Acesso em: 29 de mai. de 2017

[46] De acordo com o Artigo 175 Inciso 2, Item II, da Lei Orgânica do Município de Canguaretama: “As atividades universitárias de estudo, pesquisa, e extensão podem receber apoio financeiro do Município, através de auxílio direto ou pela concessão de bolsa de estudo concedida ao acadêmico, observado o disposto no parágrafo anterior, parte final, deste artigo.”

[47] OLIVEIRA, Thiago Antonio de..(IC); SILVA, Helânia Pereira da. (PQ). RESGATE HISTÓRICO-CULTURAL E SOCIOECONÔMICO DO ENGENHO CUNHAÚ DA CIDADE DE CANGUARETAMA/RN In: Congresso de Iniciação Científica do IFRN, X, 2014, Pau dos Ferros. Anais… Natal: Editora do IFRN, 2014.

[48] FERREIRA, Flávio Rodrigo Freire. A cidade em festa: Nossa Senhora do Ó contado a sua história. / Flávio Rodrigo Freire Ferreira. – – Natal, RN: NAP/UFRN, 2011. 86 p. : il. pag. 15)

[49] VIRGINIO, Darlyne Fontes. Plano municipal de turismo (2015-2025) : Canguaretama/RN. / Darlyne Fontes Virginio, Renata Paula Costa Trigueiro –Natal: IFRN, 2016. 81 p ; il. color.  pág. 62

[50] FONTES, Vanielly. EMPREENDEDORISMO NA GESTÃO PÚBLICA. Disponível em: http://www.cfa.org.br/acoes-cfa/artigos/usuarios/empreendedorismo-na-gestao-publica Acesso em: 29 de mai. de 2017

[51] OLIVEIRA, T. H; AZEVEDO, P. G. ESTÓRIAS E A HISTÓRIA (OFICIAL) DA GRUTA DO BODE. In: Congresso de Iniciação Científica do IFRN, XI, 2015, Santa Cruz. Anais. Natal: Editora do IFRN, 2015.

[52] BARRETO, José Jácome. Canguaretama Centenária. Natal, Fundação José Augusto, 1985. 149 p.  págs. 65

[53] OLIVEIRA, Luís Antônio de. O martírio encenado: memória narrativa a teatralização do passado no litoral sul do Rio Grande do Norte/Luís Antônio de Oliveira. -Recife: Edit. do autor, 2003. 153 p.: il. tab. fotos. págs. 40-41