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Wilma e vice receberam R$ 1,1 milhão em propina, diz delator

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Victor Leão
Jornalista

Os ex-governadores Wilma de Faria (codinome Cobra) e Iberê Ferreira de Souza (codinome Hospital) receberam ilegalmente um total de R$ 1,1 milhão da Construtora Normando Odebrecht segundo dois ex-funcionários do alto escalão da empresa. Conforme os depoimentos, o acerto possibilitou o início da obra da Estação de Tratamento de Esgosto do Baldo (ETE Baldo), já que a propina era proporcional aos repasses de dinheiro do governo para dar andamento aos trabalhos. Mesmo com contrato assinado em 1990, a construção começou a sair do papel em 2006 depois do pacto ilegal entre agentes públicos e privados.

Wilma e Iberê receberam ilegalmente um total de R$ 1,1 milhão da Construtora Normando Odebrecht segundo dois ex-funcionários do alto escalão da empresa (Foto: Reprodução)

O pagamento da propina teria ocorrido entre 2006 e 2010.De acordo com os ex-funcionários, os dados necessários para sacar o dinheiro eram passados para o então secretário do Gabinete Civil e irmão de Wilma, Carlos Faria, e o secretário adjunto, Carlos Castim. Hoje como Procurador-geral do Município de Natal, Castim é o cérebro do prefeito Carlos Eduardo Alves para assuntos jurídicos.

Carlos Faria é irmão de Wilma e era secretário do Gabinete Civil (Foto: Reprodução)

Para sacar o dinheiro da propina, era necessário ir à casa de câmbio Mônaco em Recife. De acordo com o ex-diretor superintendente para o Norte e Nordeste da Odebrecht, João Pacífico, o estabelecimento não existe mais. Pacífico autorizava todos os pagamentos de propina, mas o responsável pela operação do esquema em Natal era o diretor de contratos, Ariel Parente. “Naquela ocasião, o então secretário da Casa Civil, o Carlos Faria, solicitou ao Ariel o valor que correspondia a 1% sob valor do contrato [de construção da ETE do Baldo], portanto, proporcional ao recebimento das faturas”, disse Pacífico.

Carlos Castim era secretário adjunto do Gabinete Civil na época, e hoje é o Procurador-geral do Município de Natal (Foto: Reprodução)

Doação ilegal ou propina?

A ETE do Baldo foi orçada originalmente em R$ 84 milhões. Como a obra demorou cinco anos, do início da construção até a conclusão, o valor final passou por reajustes. “A obra era de R$ 95 a R$ 100 milhões. Isso iria corresponder aproximadamente a R$ 1 milhão [em propina]”, calculou Pacífico. No final das contas, o sistema informatizado de propinas registra a “doação” de R$ 1.145.000 à Wilma e Iberê.

O ex-funcionário da empreiteira ainda colocou culpa da demora para o término da obra na Caixa Econômica Federal, em função da rigidez nos trâmites legais. A Estação de Tratamento de Esgoto foi realizada com dinheiro da Caixa Econômica Federal e do governo do Estado. De acordo com Ariel Costa, a propina era paga somente sobre percentuais de pagamento do governo do RN, mas não com o dinheiro que recebia do governo.

A propina seria uma “contribuição a título de ajuda de campanha”. Ariel contou que nenhuma das doações foram declaradas à justiça eleitoral. “Por sinal, nenhum político eu ouvi dizer que não queria [doação] não oficial”, finaliza o depoimento.

ENTENDA RÁPIDO

Quanto foi pago ilegalmente?

R$ 1,145 milhão

Quais os interesses?

A Odebrecht tinha um contrato assinado com o governo do Estado desde 1990 para a área de saneamento, mas até 2006 nada saiu do papel. Em troca do recebimento de 1% para campanha eleitoral, o governo do Estado iniciou os repasses para obra da Estação de Tratamento de Esgoto do Baldo. Até começar a funcionar, ETE ficou cinco anos em construção, o que na avaliação dos delatores é muito tempo.
O contrato global era em torno de R$ 400 milhões para instalar outros recursos de saneamento básico em Natal. Na tentativa de garantir a continuidade do contrato, a Odebrecht decidiu também “investir” em outro grupo político que iria chegar ao poder no Executivo estadual: Robinson Faria, Rosalba Ciarlini e Fábio Faria.

Como funcionava?

Um diretor autorizava o pagamento de propina, o executivo local da empresa passava os dados, como senha e datas para saque, ao secretário do Gabinete Civil do governo do Estado ou secretário adjunto para pegar o dinheiro. A cada liberação de pagamento do governo do Estado para a construção da Estação de Tratamento do Baldo, a Odebrecht dava em troca 1% a pretexto de “ajudar na campanha eleitoral” de Wilma de Faria.

Onde?
O saque do dinheiro era feito numa loja de câmbio (dinheiro estrangeiro) em Recife.

Quem é Quem?

Odebrecht
João Pacífico, ex-diretor superintendente da Construtora Odebrecht para Norte e Nordeste
Ariel Costa, ex-diretor de contrato da Construtora Odebrecht para Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí e subordinado a João Pacífico

Políticos

Wilma de Faria, ex-governadora e atual vereadora de Natal
Iberê Ferreira de Souza, ex-governador falecido
Carlos Faria, irmão de Wilma e ex-secretário do Gabinete Civil
Carlos Castim, secretário adjunto do Gabinete Civil e Procurador-geral do município de Natal