O debate sobre a atual conjuntura política do Brasil inevitavelmente nos levará à seguinte questão: afinal, foi golpe ou não foi golpe? A República Federativa do Brasil sofreu ou não um golpe de Estado? Existe a aparência de que tanto a resposta “sim” quanto a resposta “não” necessariamente devem colocar as pessoas em categorias opostas. Porém, como escrevo para todos os brasileiros – não apenas para aqueles que já concordam com o “sim” (sou dessa opinião) –, devo dizer que, a essa altura, não há mais qualquer necessidade de tentar demonstrar nada: está tudo aí. Na verdade, sempre esteve. Para aqueles que acompanharam de perto, analisando as movimentações do congresso não apenas pela rede globo e afins, ficou muito clara as diversas atitudes não-republicanas de nossos “representantes” no processo de impeachment.
Hoje, porém, a questão do golpe tem o potencial de unir muitos daqueles que realmente acreditaram estar combatendo a corrupção e lutando por um país melhor. Deste modo, a esses cidadãos, minha pergunta é praticamente a mesma – só que agora no presente: estamos sofrendo um golpe de Estado? Com toda a sinceridade que este artigo me permite demonstrar, eu realmente acredito que, a essa altura, poucos duvidarão de que, sim, estamos sofrendo um golpe atrás do outro.
Para isso, meus caros leitores, basta que meditemos um pouco sobre os últimos acontecimentos e façamos algumas perguntas honestas a nós mesmos. Comecemos, por exemplo, com a questão da previdência. Independentemente do partido ou do político de sua preferência, pergunto: o povo brasileiro autorizou, nas urnas, o atual programa de governo? Enquanto brasileiros, nós autorizamos, nas urnas, essa reforma da previdência – digo, do jeito que está? Se a sua resposta for “não”, então, sim, estamos sofrendo um golpe.
Outra questão importante é aquela da PEC 55, que virou Emenda Constitucional 95 e congelou os investimentos em saúde, educação e políticas públicas por 20 anos. Você, servidor público federal, empregado público e militar das forças armadas; você, que teve seu salário congelado por 20 anos, autorizou isso nas urnas? Foi esse o programa de governo pelo qual você saiu para votar nas eleições de 2014? Faço a mesma pergunta, desta vez, para os usuários desses serviços públicos. Você, brasileiro usuário da educação pública (escolas, universidades e institutos federais), das políticas sociais, autorizou, nas urnas, esse tipo de medida jamais vista em qualquer outro país do mundo? Novamente, se a resposta para tais perguntas for um belo “não”, então, sim, você sofreu um golpe.
Infelizmente, o golpe não para por aí. Não podemos deixar de mencionar o PLC 30/2015, que trata da terceirização plena, e também os ataques à legislação trabalhista. Caro leitor, você que sonhava em prestar concurso público e fazer uma carreira no serviço público e que, provavelmente, terá os planos frustrados com essas novas medidas; você que foi enganado por votar em um programa de governo e ter outro forçado pela goela; você que, mesmo desconfiado do poder de seu voto, ainda se deu ao trabalho de escolher entre “A”, “B” ou “C” e agora se depara com isso, autorizou, nas urnas, tais medidas? Golpe…
Ah, claro, tem também a questão da corrupção! Imagino que, agora, o país está menos corrupto, que não há investigados da lava-jato em ministérios, nem no senado, nem na câmara, nem na presidência… Peraí? Quê? Ainda há? E eles estão nomeando colegas para ministro do STF? Eh.. Bem… Se esse for o caso, então, sim, estamos sofrendo um golpe…
Eu nem sei quem é você nesse momento, leitor. Eu não sei de onde você vem, o que faz, o que quer da vida ou quais são suas opiniões políticas. Isso não importa agora. Se você leu este artigo até aqui, existe uma altíssima probabilidade de você ter sido, sim, vítima de um golpe. E se você tem a consciência de que, sim, ninguém que você conhece – incluindo você próprio – escolheu esse programa de governo que está aí, então, meu caro, faça alguma coisa! Pois, quando a questão é golpe, mais um ou menos um faz, sim, toda a diferença!