“Houve um golpe de classe no Brasil para retirada de direitos dos trabalhadores e rasgar a Constituição de 88”. (Lindberg Farias – Senador PT/RJ)
Entre gritos de “Fora Temer”, o senador Lindbergh Farias (PT/RJ) esteve nessa última semana em Natal, participando de um debate sobre o movimento de “Diretas Já”, no auditório da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Norte (FETARN). O convite para a participação do evento veio da senadora Fátima Bezerra (PT). Em entrevista a Carta Potiguar, Lindbergh e Fátima conversaram sobre as possíveis eleições indiretas em 2017, candidatura de Lula, o futuro da esquerda no Brasil e do Partido dos Trabalhadores.
Lindbergh que é líder da oposição no Senado acredita que 2017 será um ano muito difícil e é necessário que a esquerda, a militância e os movimentos sociais estejam preparados. “Teremos a batalha da Reforma da Previdência e essa crise econômica que está se tornando uma crise social grave com previsão de desemprego chegando a 14%. Não há saída para crise com um governo fraco e sem legitimidade do voto popular”.
Para o senador, Michel Temer está seguindo a cartilha do mercado financeiro e aplicando um ajuste fiscal violento, como por exemplo a PEC 55 que congela investimentos por 20 anos. “Em 2009, nós tínhamos um presidente legitimado e com força suficiente para fazer o que era preciso e não o que o mercado financeiro pede. Lula aumentou o investimento público, o gasto social, ou seja, colocou dinheiro na mão dos pobres. Temer está fazendo o contrário. E infelizmente, falo isso porque eu gostaria que tivesse outras pessoas propondo saídas para o país, somente Lula está apontando um programa de saída da crise e de proteção do emprego. Queremos lançar sua candidatura ainda em março ou abril”.
Segundo Lindbergh, o Nordeste é o que mais sofre e o que mais sofrerá com a crise. “No governo Lula, o Nordeste cresceu 3,9% do PIB, foi a região do país que mais cresceu. Um recente estudo da Tendência Consultoria Integrada mostra uma regressão de 4,3% do PIB nordestino e uma queda no comércio de 10%. Então, a região que mais cresceu é a que mais está sofrendo. Aqui, 24% da renda familiar vem de aposentadorias, pensões e bolsa família, onde o governo irá arrochar mais”.
Diretas Já
A solução apontada pelos senadores é a realização de eleições diretas para presidência. Corre no Congresso Nacional, diversas emendas constitucionais que possibilitam eleições diretas até seis meses antes do término do mandato presidencial. Porém, dependem da aprovação da maioria dos deputados. Lindbergh e Fátima não vêem problema no fato de que, hoje, a base aliada ao governo golpista é formada por 80% do Congresso Nacional. “Ele tem essa maioria, mas tem uma rejeição gigantesca, são vinte estados brasileiros quebrados. Nós temos um setor empresarial insatisfeito, que acreditou no golpe e pensava que era só tirar a Dilma que tudo estava resolvido, que aumentaria a confiança. Mas o problema não era de confiança e sim uma enorme recessão”.
Com a possível cassação da chapa Dilma-Temer, ele acredita que o Congresso Nacional não teria condições de eleger indiretamente um Presidente da República, pois falta apoio popular à Casa que até pouco tempo era presidida por Eduardo Cunha. “Se a chapa for cassada, só existe um caminho que é a construção de um pacto junto com o Congresso e chamar eleições diretas. Assim, o Presidente da República poderá aprovar seu projeto com a legitimidade do voto popular. Mesmo que a direita ganhe, o representante deles terá a aprovação do povo”.
“A implosão do governo Temer vai fazer o Brasil encher as ruas com pedido de eleições direitas, pois o povo não vai aceitar que o Congresso eleja indiretamente um presidente.” (Lindberg Farias – Senador PT/RJ)
Além do aprofundamento da crise no país de acordo com Lindbergh, o fator Eduardo Cunha pode influenciar diretamente na queda de Temer. “Em depoimento, o advogado de Cunha fez perguntas diretas a Temer, e várias o juiz Sérgio Moro não aceitou, alegando o foro privilegiado do presidente. Essas perguntas são devastadoras, que formam um roteiro de uma delação premiada e podem desmoralizar completamente Temer. Podemos chegar ao meio do ano com um presidente completamente desmoralizado”.
Esquerda
Apesar da derrota nas eleições 2016, o senador acredita que o destino da esquerda é retornar a governar o Brasil. “Esses economistas ligados ao PSDB, à direita e a centro-direita latino-americana formam uma turma que não é razoável com a população. Juntar PEC 55, Reforma Trabalhista e Reforma Previdenciária é muita pancada em cima do povo. Na minha avaliação eles terão uma enorme dificuldade de sustentar um projeto tão ‘anti-povo’ como esse”.
Para o senador, é necessário também que a esquerda aprenda com os erros passados, que esteja mais preparada e com uma formação maior para o período que está por vir. “Na última pesquisa Datafolha, Lula cresceu oito pontos percentuais. Por isso, o desespero deles de tirá-lo do jogo. Porque começa a se desenhar uma solução a curto prazo”.
Sobre a chance de uma união da esquerda Lindbergh acredita sim que é possível. “A gente tem uma relação de parceria com o PDT e com o PCdoB. Estamos conversando com Ciro Gomes. Nosso candidato é Lula, mas é preciso diálogo. É necessário manter uma relação com o PSOL nesse movimento de resistência à reforma da previdência. Mesmo que o PSOL lance seus candidatos, nós precisamo fazer essa grande frente de oposição e de defesa dos direitos dos trabalhadores”.
Erros e autocrítica
Apesar da crise ser internacional, Lindbergh também acredita que houveram erros internos também. “O que o governo Lula e Dilma fizeram de inclusão social nesse país não foi pouca coisa. Porém, em 2015 tivemos um ano que não existiu, um país parado com Eduardo Cunha e a campanha do impeachment”. Ele aponta falhas do PT também como a como a nomeação de Levi para o Ministério da Fazenda. “O ajuste fiscal de Levy levou a economia para baixo. Na época, eu votei contra porque eu sabia não daria certo. Foi uma decisão que nos fez perder parte da nossa base, que votou quatro vezes no PT. Existe essa ideia de que a economia de um país é semelhante a que fazemos na nossa casa, e não é assim. Em casa, você não emite moeda. Um corte desses leva a economia para baixo e foi o que aconteceu”.
Críticos ao PT sempre apontam a falta de autocrítica dos petistas. Porém, tanto a senadora Fátima Bezerra como o senador Lindbergh Farias não fecham os olhos para as falhas cometidas pelo partido e que afastaram parte da militância. “Houve um golpe no país que atacou diretamente os direitos dos trabalhadores. Então eu não vejo como o PT apoiar um nome como o de Rodrigo Maia para ter um espaço a mais na mesa. 2017 é um ano de mobilização, de colocar os movimentos sociais nas ruas. Se a gente fizer uma coisa como essa, vamos decepcionar muita gente dividir nossas bases”.
“O nosso processo de reconstrução passa por um respeito profundo a cada militante nosso de base”. (Lindberg Farias – Senador PT/RJ)
Para a senadora Fátima Bezerra a posição de não apoiar partidos golpistas não é sectária. “Do ponto de vista político, nós achamos que é contraditório e incoerente, diante do golpe pelo qual passamos, onde o nosso partido foi violentamente atingido, e todas as suas consequências em curso, que o PT faça parte de uma mesa diretora liderada por protagonistas do golpe parlamentar”, complementa Fátima.
Haddad
“Depois de Lula, Haddad é uma das figuras com o maior potencial eleitoral nosso”, afirma Lindbergh. Mesmo após sua derrota nas eleições 2016, o senador acredita que ele saiu com prestígio entre a juventude e outros setores. “Nosso candidato é o Lula, mas Haddad é um grande nome, que expressa renovação”, finaliza.