Por Leonardo Dantas (Jornalista)
Primeira vereadora reeleita na Câmara Municipal de Natal, Júlia Arruda, candidata à reeleição pelo PDT, se orgulha de ter feito parte da história das mulheres na Câmara. “Apesar da bancada pequena, vi em dois mandatos esse número dobrar”. Ela também acredita que mulheres tem papel fundamental na política de base, através de movimentos sociais, mas que falta o protagonismo na política partidária.
Com um mandato voltado para a defesa dos direitos das mulheres, Júlia lembra que também sofreu preconceito por ser jovem em seu primeiro mandato no ano de 2009. “Isso nunca me desmotivou, pelo contrário. A oportunidade e responsabilidade de representar as mulheres, de ser sua voz no Legislativo Municipal sempre falou mais alto em mim e fiz do preconceito o combustível para construir um mandato voltado à defesa dos nossos direitos”.
Para Júlia, o empoderamento da mulher na sua vida pessoal é o primeiro passo para tornar a política mais acessível.
“Precisamos incentivar as mulheres a assumirem o protagonismo de suas vidas para se construir uma política mais inclusiva. Acredito que ela só vai encarar um projeto político a partir do momento em que for empoderada e tiver autonomia dentro da sua casa, na sua família e comunidade”.
Se a presença de mulheres na política ou no espaço público é muito pequena, como algumas das entrevistadas afirmaram na matéria anterior, a participação de mulheres negras é mais baixa ainda. De acordo com um levantamento divulgado nesta segunda-feira (26), pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC), apenas 13% das candidaturas a vereadores no Brasil são de mulheres negras, e para prefeitura esse percentual é de 0,13%, em valor absoluto são 652 candidatas para os 5.570 municípios brasileiros.
Entende-se por negra as candidatas que se autodeclaram preta ou parda. Levando em conta somente as mulheres autodeclaradas pretas, são 60 candidaturas à prefeita, algo em torno de 0,01%, e de candidatas a vereadora são 13.034, cerca de 2,64%.
Em Natal, são 176 candidatas a vereadoras e dessas, 57 se declararam pardas e apenas 19 são autodeclaradas pretas, ou seja 10 %. Lembrando que na capital potiguar 51% da população é negra, de acordo com o IBGE. “Como ter uma sociedade inclusiva, se a participação da mulher negra principalmente já começa desigual”? Questiona Divaneide Basílio, candidata a vereadora pelo PT.
Ela destaca que cerca de 54% do eleitorado brasileiro é formado por mulheres e isso não reflete nos espaços institucionais. “Quando as mulheres participam da política, em sua maioria já são de uma família tradicional e dão continuidade a esse espaço que já pertence ao seu sobrenome e não são defensoras de uma luta social”. Para ela, a cultura patriarcal reservou para as mulheres apenas o espaço privado como mãe e dona de casa.
Com algumas mulheres representando apenas os interesses da política tradicional, pautas importantes deixam de ser apresentadas ao legislativo e motiva candidaturas como a de Divaneide.
“A participação de nós mulheres oriundas de movimentos sociais, que representam segmentos da diversidade, que lutam pela igualdade racial, efetiva essas lutas através de lei e de debates públicos”, destaca.
Ainda de acordo com Divaneide, a atuação de mulheres negras na política facilitaria discussões como gênero nas escolas, violência urbana, economia solidária e a inclusão produtiva. “Com as mulheres negras na Câmara teremos outra realidade, pois são elas que perdem seus filhos também negros na periferia, são elas que perdem seus maridos de maneira violenta, são as que tem mais dificuldades de ocupar espaços de formação e qualificação. E de representação nem se fala”.
Vítima de um ataque machista que quebrou seu braço, a advogada e candidata a vereadora Rhanna Diógenes (PDT) comemora que a igualdade entre homens e mulheres se fixou como um ideal constitucional, apesar do processo lento.
“A lei já estabeleceu a cota de gênero para incentivar a participação da mulher, investimento de parte do fundo partidário nas campanhas femininas. Falta que nós nos apropriemos disso e que exijamos sua aplicação, de verdade”.
Rhanna enxerga com bons olhos alguns projetos em prol das mulheres tramitando na Câmara Municipal, porém poderiam existir mais pautas que facilitassem por exemplo, a vida das mulheres submetidas à violência doméstica e social, e que incentivassem o primeiro emprego das donas de casa. “Sabe por que não passam? Porque não há expressividade na representação feminina”.
A representação baixa de mulheres na Câmara tem efeito direto na vida da população feminina. Alguns levantamentos mostram que a maioria das mortes violentas de mulheres acontecem no âmbito doméstico. “As mulheres precisam entender que ninguém melhor do que elas próprias poderiam estabelecer políticas públicas que influenciem positivamente suas vidas. Somente por meio da política, poderemos desenvolver os ideais da igualdade e do bem-estar social da sociedade”, finaliza Rhanna.
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