O pecado de perder, segundo Eduardo Galeano, é imperdoável. “O fracasso é o único pecado que não tem redenção”.
Como é injusta essa vida, essa enorme dramaturgia hiper-realista sem roteiro prévio, definida assim por Carlos Fialho. As vitórias te dão status e as derrotas as levam numa enorme ventania de agosto.
Em dias de Jogos Olímpicos do Rio, é fácil perceber. Mesmo que ninguém jogue para perder, não são raras, ainda mais nessa era tecnológica de Pókemons ultra reais e que as mídias sociais são os muros dos pobres, as críticas destrutivas contra nossos atletas olímpicos.
Às vezes é chato ser brasileiro. Acostumado a julgar fatos sem apurar as circunstâncias, cometemos injustiças quase que diariamente. E mais uma vez evoco Galeano. Ele é perfeito. “Somos porque ganhamos. Se perdemos, deixamos de ser”.
Em duas semanas de Jogos, conquistamos apenas uma medalha dourada, com a judoca jogo-duro Rafaela Silva. Aliás, ela mesma serve de exemplo reverso. Vilã em Londres 2012, foi chamada de macaca e agora é a nossa campeã. Com muito orgulho e com muito amor. É a heroína da vez, e eu concordo que seja, de todos os brasileiros.
Mas a Olimpíada vai chegar ao fim e Rafaela voltará à sua rotina diária de derramar suor a cada golpe repetido. E daqui há quatro Natais, o roteiro da sua vida pode mudar. Aconteceu com Cielo, que deixou de ser o melhor do mundo nos 50 metros, com Diego Hypólito, que caiu de bunda e de cara em duas edições anteriores, com Anderson Silva no UFC, Neymar nos últimos tempos, Messi na última Copa do Mundo e nas duas Copa Américas em que não foi decisivo nas finais, com Zico em 86 e, está acontecendo com Bruno Fratus, Marcos Mendonça, Sara Menezes, Felipe Kitadai e muitos outros. Todos, antes campeões, agora tratados como “decepções” e “amarelões”.
O bailarino dos anos 80 nos diria que é importante deixar claro que não foi de um salto, de uma braçada ou golpe que esses homens e mulheres chegaram ao êxito, mas sim trabalhando e treinando muito enquanto você, invariavelmente, dormia.
A cultura de sucesso é cruel e não julga pelo todo. Há necessidade de uma voz oposta. Nossos vencedores continuam vencedores, mesmo que sem nenhuma medalha pesada pendurada no pescoço.
Nesse momento, a mensagem de Diego Hypólito ao conquistar a medalha de prata na ginástica artística, cai como uma luva contra o exército de julgadores brasileiros. “Caí de bunda, caí de cara e agora caí de pé e conquistei essa medalha. Nunca desista dos seus sonhos”.
Para o romancista do Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, experiência não é o que aconteceu com você, mas o que você fez com o que lhe aconteceu. Já disse em outra prosa. Não depende de como cai, mas de como você se levanta. Um dia isso há de mudar e os nossos atletas serão lembrados, eternamente, não pelas medalhas, mas sim por tudo que conseguiram ser e por suas virtudes pessoais e humanas.
O atleta brasileiro é, no sentido maior da palavra, um verdadeiro herói. É herói por sair de onde sai, pelas dificuldades que enfrenta, pela falta de apoio financeiro e por todo o sacrifício que faz para se dedicar ao esporte e ao alto rendimento.
Nesse mundo onde a derrota é pecado imperdoável e que castiga o fracasso, quem sai perdendo somos nós mesmos, brasileiros, que desprezamos nossos melhores exemplos de vida.
Não tenho dúvidas, o atleta brasileiro é um campeão da vida, seja ganhando ou perdendo no jogo.