Eu notei esses dias que quando lhe abraço daquele jeito engraçado no seu carro, me fingindo de cinto de segurança, meu medo de colidir em qualquer coisa some. Poste, árvore, animal solto no meio da pista e o caralho à 4. É como se, por um segundo, eu perdesse o medo da morte. Sem amanhã, sem ontem, só eu, você, essa certeza contínua nenhuma. Só conto com a sorte.
10:25 e você tá dormindo aqui do lado. Eu notei também que seu sono é tão leve quanto o amor que você me trouxe: a qualquer minuto a gente desperta e isso tudo foi só um cochilo.
Eu venho sempre com essa cara e esse cheiro de vira-lata ladrando outro beijo e você me afaga, me arranha as costas, sorri de volta. Se você não me fechar a porta eu prometo que dessa vez me contento até em roer seu osso, sem largar, sem marcar, sem deixar rastro nenhum.
Parece que quanto mais eu escrevo, mais insuficiente é tudo o que digo. Paixão em sol maior é mesmo inefável. Faz sentido?
O edredon assim cobrindo a gente me dá uma sensação de infinito particular, onde não há mais divisa. Fala a verdade: eu fico mil vezes melhor despida vestindo sua camisa.
A gente não é nós, mas é enlaço.
Eu aceito até dormir lá fora.
Pecado é lhe deixar sem saber o que eu penso.
Bora agora!
Tá tudo certo em silêncio.
A gente se entende em qualquer norte à sul, sem precisar parar a vida.
Você plantou raiz em mim e me deu asa.
Olha, cuidado na volta, coloca esse cinto, avisa quando chegar.
E não me manda embora não, que eu não sei mais dormir em casa, não me manda embora não, que eu prefiro dormir na rua, não me manda embora não, que eu não sei mais não ser sua.