Há exatos dois anos e cinco meses acontecia a inauguração da Arena das Dunas, a nossa Arena para a Copa do Mundo. Há aproximadamente um ano e três meses, eu escrevia que o legado da Copa não foi pensado para o futebol potiguar.
Argumentei. Busquei dados que comprovassem que a Arena das Dunas (hoje Marinho Chagas) foi superdimensionada para o tamanho do futebol local. Descobri o custo operacional em partidas de clubes locais. Comparei e notei que usar a Arena custa mais que o dobro que jogar no Frasqueirão. Levantei que 90% das partidas do América são deficitárias. Mostrei que o padrão Fifa não é sustentável na Terra do Elefante.
Mesmo assim, recebi críticas negativas, discordâncias e questionamentos dos mais diversos sobre meus argumentos. Certa vez, um amigo que, me perdoe se ele lembrar, não entende bulhufas de futebol, retrucou ao afirmar que a Arena foi construída para a Copa e não deve mesmo servir ao minúsculo futebol local. Que absurdo! Um estádio que não serve para o futebol.
Foram tantas opiniões contrárias que eu quase senti vergonha do que escrevi. Pensei até em perguntar ao mestre Cascudo. Diziam, os mais íntimos, que o velho era uma máquina de conhecimento. Quando havia alguma discussão sem fim ou alguma dúvida intermitente, bastava pergunta-lo que a resposta estaria na ponta da língua.
Mas nem foi necessário (nem haveria como, o velho já se foi há muito tempo), porque eis que surge o excelentíssimo Rodrigo Capelo, colunista da revista Época, um Cascudo da imprensa esportiva da nova geração, com dados claros e evidentes sobre a saúde financeira da nossa Arena das Dunas (ou d’A Bruxa, como preferir).
Pra ser direto e objetivo, Rodrigo levantou que a Arena das Dunas Marinho Chagas já acumula R$ 35 milhões em prejuízos desde a sua inauguração, antes da Copa do Mundo. Em 2014, o estádio teve prejuízo operacional de R$ 16 milhões. Em 2015, pior ainda, o déficit foi de R$ 19 milhões. As receitas da Arena, considerando eventos esportivos, shows, feiras, e tudo mais que ela comporta, no seu padrão inigualável exigido pela madastra Fifa, chegaram a R$ 6,9 milhões no ano passado, mas continuam muito abaixo das despesas, de R$ 23 milhões.
E olha que não estou nem questionando os custos que o empreendimento tem gerado, em tempos de crise política e econômica, para os cofres públicos (repasses mensais de R$ 12 milhões para o Consórcio Arena das Dunas). São tantas cifras tiradas da segurança, da educação e da saúde que me deixam até constrangido.
E tem mais. Capelo vai mais longe. O meu santo salvador, a voz superior, diz que com os dois principais times locais, ABC e América, na terceira divisão, a Arena das Dunas depende de excursões de clubes da elite para conseguir receita. Inclusive, a maior renda, até hoje, saiu do jogo entre Flamengo e Avaí, em 2015. A Arena faturou R$ 439 mil da receita bruta de R$ 1,6 milhão.
Domingo tem Flamengo e Fluminense em Natal e a Arena espera superar a renda obtida no ano passado, porque, acima de qualquer paixão por clubes locais, eles precisam tornar o estádio sustentável. Porque é preciso pensar na saúde financeira do empreendimento. Porque nenhum negócio pode ser a vaca de leite do reino dando seguidos prejuízos.
Infelizmente, os números provam que construir uma arena padrão Fifa em Natal não foi nada vantajoso para o futebol potiguar. O América, infeliz, não tem sequer outra alternativa. Tem aceitar a realidade e bancar os prejuízos para “jogar em casa”.
Mais uma vez, e dessa vez com mais convicção ainda, graças a Rodrigo Capelo, digo que o legado da Copa não foi pensado para o futebol potiguar. E mais, devíamos sim, parafraseando Nelson Rodrigues, chorar lágrimas de esguicho. Essa Arena nem devia ter sido erguida. Não temos, definitivamente, como bancar tamanha insanidade.