Vai começar mais um campeonato brasileiro – desta feita da Série C – e todos os companheiros de sofrimento midiático e esportivo dessa Terra do Elefante já ligaram suas antenas e focaram as luzes duras para dar destaque à participação dos clubes natalenses na competição.
Hoje mesmo, Suerllen Marinho – bom nome pro seu filho – repórter do programa Universidade do Esporte levantou uma discussão interessante. O site Chance de Gol, famoso por apontar favoritos que quase sempre terminam rebaixados, calculou a probabilidade de cada time ser feliz ou derrotado na Série C desse ano. Surpreendentemente – ou não – nossos clubes entram na disputa para evitar, no máximo, à queda à Série D. Segundo Suerllen (assim mesmo, com dois eles), largamos como favoritos – ao rebaixamento.
Com todo respeito aos que confiam na matemática confusa dos números, cálculos, fórmulas, percentuais e probabilidades, mas notícias como essas nos levam a, no mínimo, duvidar de sua relevância.
Quais os critérios para apontar um favorito ou um rebaixado antes mesmo do jogo começar? Na matemática do Chance de Gol, são considerados os resultados dos clubes nos últimos doze meses. Não é tão simples e direto. É meio louco. Mas no final das contas, os cientistas conseguem estimar quem possui mais chances de ganhar.
É inegável que a matemática está inserida no cotidiano da humanidade. E mais, a ciência, em todas as especificidades imagináveis, principalmente nas últimas décadas, tem sido forte aliada do desenvolvimento do futebol. Mas, nem toda soma é verdadeiramente exata na vida real.
Sobre a análise matemática e os critérios adotados pelo site Chance de Gol, é prudente considerar que a maioria dos clubes brasileiros, ao fim de uma temporada e inicio de outra, reformulam quase por total seus elencos. Até Lulu Santos, que imagino nunca ter chutado uma bola de futebol na vida, sabe que tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo e que tudo muda o tempo todo no mundo. Não há como medir a força de um elenco vencedor considerando as derrotas de outro elenco perdedor há sete meses.
Eu, como razoável e modesto profissional que escolheu a área de humanas para a vida, prefiro limitar a matemática do futebol à geometria do campo. Retângulos, quadrados, losangos, triângulos, círculos e semi-círculos. No máximo, somar pontos e saldo de gols. É o bastante pra mim. O futebol é muito mais de humanas.
Prefiro acreditar nas palavras do velho matemático galês Bertrand Russell, que disse que “a matemática é a única ciência exata em que nunca se sabe do que se está a falar nem se aquilo que se diz é verdadeiro” e no mais famoso deles, Albert Einstein, que afirmou que “se as leis da matemática referem-se à realidade, elas não estão corretas; e, se estiverem corretas, não se referem à realidade”.
Nem tudo que se vê é realmente o que parece ser. Talvez não seja verdade. Talvez não seja real. Quem sabe não estejam corretos ou nem saibam do que estão falando. Nem toda soma é verdadeiramente exata na vida real.
No futebol, muitas perguntas podem e devem ser formuladas, mas quase nenhuma pode ser respondida com a exatidão de um cálculo. Talvez, com a bola rolando, conte mais a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança, a coragem, o inesperado, o improviso e a vontade de vencer. Por isso, aqui, a matemática nunca será exata.