Essa semana estive comigo pensando, o que é essa tal rivalidade que mata tanta gente por aí. Rivalidade é competir entre si? É ser inimigo ou ser rival? Os rivais têm razões para tal? A rivalidade está acampada? Ser rival é bom ou ruim?
É uma discussão quase sem fim. Confesso que me deu vontade de perguntar ao mestre Cascudo. Os que com ele puderam conviver, diziam que o velho era uma Enciclopédia em vida. Quando havia uma dúvida ou uma discussão sem fim, bastava pergunta-lo que a resposta sempre estava na ponta da língua.
Mas como Câmara Cascudo não está mais entre nós, e pior, não deixou um herdeiro intelectual para nos amparar em momentos como esse, vou tentar por minha conta e risco.
Um conceito bacana diz que rivalidade é a “disputa ou oposição entre pessoas, empresas, clubes esportivos ou quaisquer outros tipos de seres ou entidades que pode ou não envolver a busca por um mesmo objetivo”. É mesmo um embate de ideias. Pode ser a concorrência de pessoas que pretendem a mesma coisa. De pessoas que pensam diferente, mas que ao final do jogo almejam quase sempre o mesmo objetivo.
Nesse contexto, a rivalidade não tem nenhuma conotação negativa, exceto quando a paixão deriva em violência. Aí sim, você abandona a condição de rival e passa a ser um inimigo.
Mas a rivalidade pode ser sim muito positiva. Ela, muitas vezes, expõe fragilidades e aponta caminhos a serem seguidos. Dizem que as rivalidades fazem bem à alma do futebol, mesmo que as birras façam mal.
A rivalidade sempre vai existir, seja entre clubes, cidades, países. A rivalidade no futebol é esperar ansiosamente pela divulgação da tabela do campeonato e quando ela sair, a primeira coisa é ver quando será o primeiro clássico para correr no calendário e reservar com caneta vermelha a data.
Denise Fraga, atriz Global, que confessadamente não entende (quase) nada de futebol, disse que “a paixão incondicional por um time é uma coisa insana, difícil de explicar”. “Mas é bela”, completa se rendendo ao inevitável.
Os rivais se enfrentam quatro, cinco vezes seguidas e mesmo assim, não haverá consenso algum depois de tantos jogos, pois assim mesmo é a rivalidade. Sem consenso.
Tem até aquela que gera receita para os clubes, como a rivalidade corpo a corpo, centavo a centavo, clube a clube entre a Globo e o Esporte Interativo, que lutam pelos direitos de transmissão do futebol brasileiro a partir de 2019. É a concorrência que valoriza o produto. É a rivalidade sadia, a que promove.
E tem a rivalidade que mata. Aliás, a rivalidade que se transforma em guerra. As guerras das torcidas organizadas, que descambam para a violência. Tem também a rivalidade lúdica, estilo Fla-Flu, capaz de, em noventa minutos, transformar vizinhos, amigos e até mesmo parentes em inimigos mortais.
Mas há também, infelizmente, a rivalidade cega, que gera conflito. É quando a rivalidade é encarada no sentido de aversão, qualificando o adversário meramente como um inimigo.
Nesse contexto, a competição e a rivalidade agem no sentido contrário ao aumento da produtividade. No futebol, é preciso utilizá-las com sabedoria, para promover e valorizar o produto oferecido. Em outras palavras, é mais viável unir esforços no sentido colaborativo, para promover, garantir brilho e agregar valor ao espetáculo esportivo.
Nessa Terra do Elefante, nos últimos tempos, nasceu um tipo de rivalidade que limita o adversário em “dez por cento”. Uma rivalidade capaz até de criar mecanismos de boicote a torcida visitante. É a rivalidade de quem comanda protegido com uma máscara de ferro de um cavaleiro medieval. A rivalidade que empobrece e reduz nosso, já pobre, futebol.
Mas muitos não enxergam (ou não querem enxergar) o lado bom da rivalidade. Sobre isso, nada mais a dizer do que a palavra lamentável. Se você tem a intenção de prejudicar os outros, certamente estará prejudicando a si próprio¹. O egoísmo, por natureza, não tem limites².
Como dizem por aqui nesse país, desde a era colonial, não existe pecado abaixo da linha do Equador. Aqui, todo dia é dia de tudo pode.
¹ Provérbio Hindu.
² Filósofo Arthur Schopenhauer.