Depois de servir como um substituto midiático a uma incompetente oposição parlamentar, agora a Globo parte para o desespero: matar ou morrer, isto é, ou o sucesso do impeachment que lhe garanta sobrevivência num mundo de hegemonia dos dispositivos de convergência tecnológica ou ser engolida pelo Google. Desde que a presidenta Dilma apareceu nas mídias dentro de uma carro automático do Google controlado por GPS no ano passado, a Globo radicalizou contra um governo que promete favorecer seus adversários tecnológicos e comerciais – Facebook e Google. Nem que seja ao custo de perder anunciantes, cada vez mais preocupados com a crescente rejeição ao Grupo Globo estampado em redes sociais e manifestações de rua. Mas a Globo vive um cenário complexo: está entre a “guerra híbrida” produzida pela estratégia geopolítica dos EUA para esfacelar os BRICS e a inevitabilidade do fim do tradicional perfil de publicidade com a entrada do Google com tudo no País.
Na semana passada o programa esportivo Globo Esporte mostrou imagens de torcedores invadindo o treino do Palmeiras com narizes de palhaço e conduzindo uma faixa louvando o juiz Sérgio Moro em uma manifestação anti-Dilma. Por outro lado, nas últimas transmissões ao vivo dos campeonatos regionais de futebol vêm ignorando faixas com mensagens “Não Vai Ter Golpe” ou “Cadê a Minha Merenda” da torcida Gaviões da Fiel – relacionado a escândalos das merendas escolares envolvendo o governo Alckmin.
O apoio das Organizações Globo ao movimento de impeachment contra a presidenta torna-se nos últimos meses cada vez mais explícito com o aumento da temperatura política que indica que se aproxima o momento final do tudo ou nada para a oposição formada pelo espectro jurídico-parlamentar-midiático.
O que mais impressiona analistas de mídia e jornalistas é que a ação política atual da Globo (capaz de politizar até mesmo a pauta do jornalismo esportivo) estaria abandonando o próprio pragmatismo que marcou a carreira do patriarca Roberto Marinho, que sempre soube, nas suas cavalgadas políticas, o momento certo de mudar de direção quando a militância prejudicava os negócios.
Foi assim quando a Globo abandonou a ditadura militar, que ajudou a mantê-la em troca da ajuda para a construção do seu monopólio, quando o movimento Diretas Já ganhou as ruas. Ou quando ajudou a derrubar Fernando Collor apoiando seu impeachment, depois que ela própria ajudou a elegê-lo presidente em 1989, quando percebeu a mudança de direção dos ventos da política nas ruas.
Sidney Rezende: anunciantes preocupados com rejeição à Globo |
Hoje, os filhos de Roberto Marinho (como diz o jornalista Paulo Henrique Amorim, “eles não têm nome próprio”) parecem mergulhar de cabeça em uma espécie de tudo ou nada, ignorando os crescentes protestos e críticas à sua parcialidade, inclusive internas de jornalistas e atores da emissora nas redes sociais.
Um tiro no pé?
Um estranhamento que parece estar chegando aos próprios anunciantes da Globo. Segundo Sidney Rezende, ex-jornalista do canal fechado Globo News, a multiplicação de palavras de ordem, faixas e a rejeição contra o Grupo Globo estampada nas redes sociais e em manifestações nas ruas estaria preocupando anunciantes.
Tanto que na semana passada ocorreu uma reunião formada por dois presidentes que representam os interesses de companhias que estão entre os 30 maiores anunciantes do Brasil, seis vice-presidentes de empresas de áreas diversas que atuam em higiene e limpeza, setor automotivo e varejo. No final do encontro foi decidido encomendar uma análise a uma agência internacional de acompanhamento de postagens na internet para avaliar a percepção dos consumidores em relação aos produtos e serviços dos patrocinadores da Globo.
Ainda segundo Rezende, o estudo será concluído em 90 dias e se restringirá a marcas anunciadas nos veículos do Grupo Globo.
Tudo levaria a crer que a Globo estaria dando um tiro no próprio pé, num mergulho kamikaze onde a Organização estaria abandonando o pragmatismo dos negócios para dedicar-se a ação política em tempo integral e mandando às favas a sua credibilidade e profissionalismo.
O primeiro momento histórico da Globo
As Organizações Globo vivem um momento histórico tão decisivo quanto foram os tempos das décadas de 1960-70 – época da implementação da primeira network brasileira enfrentando as audiências das grandes emissoras da época: Tupi e a Record.
Naquele momento Roberto Marinho equilibrava seus interesses empresariais entre o projeto político da ditadura militar e os interesses geopolíticos dos EUA em plena Guerra Fria.
Em julho de 1962 Roberto Marinho assinava acordo com o grupo norte-americano de comunicações Time-Life. Um contrato que vigoraria até 1966, período em que a emissora pagaria ao grupo norte-americano (pelo investimento financeiro e know how tecnológico e profissional) 3,5% do seu faturamento e 49% do lucro. Marinho sabia do interesse dos EUA na criação de uma primeira network no Brasil, capaz de disseminar o american way of life em um país estratégico para o xadrez geopolítico na América Latina.
Um ano após o golpe militar, Marinho inaugurava no Rio de Janeiro a TV Globo e a TV Paulista em São Paulo, praticando uma ilegalidade diante da legislação das telecomunicações que vetava a participação estrangeira.
Com apoio de um lado da norte-americana Time-Life e, do outro, dos esforços dos governos militares em pavimentar o caminho da Globo com um moderno sistema de micro-ondas via satélite, Marinho criou um incrível monopólio midiático que nesse momento começa a ser ameaçado. Uma nova recomposição de forças políticas e tecnológicas está em andamento. E dessa vez, para os filhos de Roberto Marinho, é uma questão de matar ou morrer.
Globo, Guerra Híbrida e Google
Hoje os filhos do patriarca Marinho vivem um cenário onde os interesses do Grupo estão novamente entre duas variáveis, só que dessa vez são forças que podem destruí-los: de um lado a estratégia geopolítica dos EUA de aplicar no Brasil a tática de “guerra híbrida” com o objetivo político de tornar ingovernável um país membro dos BRICS; e do outro o adversário ameaçador das tecnologias de convergência, redes sociais e, principalmente, o Google.
“Guerra Híbrida” é uma tática sutil de induzir por meio da grande mídia local, ONGs e grupos de interesses empresariais associados conflitos políticos, éticos, religiosos etc. a partir da manipulação da percepção de uma “população média não engajada”. Por meio da promoção de “primaveras” como a árabe, egípcia ou brasileira desacreditar governos através do discurso da “revolução colorida” (flash mobs, militância em redes sociais, manifestações apartidárias etc.) da “luta contra a corrupção em defesa da democracia” – sobre mais informações desse conceito clique aqui.
Com essa tática, os EUA visariam esfacelar lideranças regionais que possam confrontar a geopolítica do petróleo – onde a descoberta do Pré-sal brasileiro é uma perigosa variável.
A grande mídia brasileira liderada pela Globo e seguida pela Folha, Abril e Estado, engajaram-se nessa agenda internacional, principalmente porque viram nesse cenário a oportunidade de derrubar um governo que é francamente favorável à consolidação no Brasil dos projetos do Google e do Facebook.
Assim como a Rússia, o Brasil passou a ser alvo da guerra híbrida norte-americana a partir da primeira reunião de cúpula dos BRICS em 2009, com a intensificação das “primaveras” brasileiras nas ruas a partir do anúncio em 2013 do projeto da criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, o que significou um golpe à hegemonia do FMI.
A origem do desespero: Dilma no carro do Google
Mas a guerra da grande mídia contra o governo federal definitivamente chegou ao desespero quando, no ano passado, a presidenta Dilma fez uma visita à sede do Google e deixou-se fotografar em um passeio num carro high tech controlado por GPS. E na pauta daquela visita, um encontro com o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, e outras empresas do Vale do Silício.