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O homem que conquistou uma Frasqueira

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imageFoi em 31 de maio do ano passado, depois de ver, minutos antes, as imagens tristes do gado morto no solo castigado por uma das piores secas no meu semiárido, que compreendi o quanto ele foi vital para o engrandecimento do nosso futebol.

Guardei aquele jornal na esperança de que um dia a justiça fosse feita. O que fizeram com ele foi um desrespeito imensurável a honra de um povo de uma cidade e não será perdoado durante os próximos cem anos. Ele era, sem sombra de dúvidas, um respiro agradável de profissionalismo.

Quando menino tinha um sonho e não pôde, por completo, realizá-lo. Um sonho sonhado por dez entre dez naquela idade. Queria ser jogador de futebol profissional e jogar no seu time do coração.

Não conseguiu. Sua vontade de brilhar e ser craque nos gramados do Rio Grande aqui do Norte ficou no passado, nos campos improvisados nas ruas de pedra das Rocas. É, ele também é Roqueiro. Aliás, penso que todo natalense nascido naquele pedaço de chão leva consigo uma pequena, mas relevante vantagem, a arte de ser nativo das Rocas.

Mas, como está escrito naquele jornal, ele nem precisou vestir a camisa dez para ser ídolo de uma torcida. Fez muito mais. Conquistou vitórias memoráveis, colecionou glórias, alegrias e muitos, muitos títulos. Dezesseis para ser exato. Fez história sem nunca ter posto sequer uma chuteira no pé.

Tenho absoluta certeza que os que fizeram aquilo com ele não tinham a mínima noção do que são 28 anos, desde 1987, a serviço de uma paixão incondicional. De janeiro a janeiro. De domingo a domingo. Amor das tardes de futebol, das madrugadas, dos plantões e dos veraneios longe da sua família amada e perto, sempre por perto, de quem ele aprendeu a amar, o clube.

No jornal eu leio as palavras fortes de Norton Rafael. “Renomado, respeitado, qualificado, competente e demitido”. Esse último, um substantivo e adjetivo sinônimo da incoerência do ato cometido. Uma rima mal feita na poesia da sua biografia. É a prova do cúmulo da indecência da injustiça praticada. Até que provem o contrário, ele é e sempre será, e isso está escrito pra quem quiser ler, um ícone na sua área de atuação.

Hoje, 180 dias depois, após curar a ressaca do passado, e uma eleição para fazer justiça perante um engano megalomaníaco, ele reaparece, provando que uma lesão crônica é realmente uma lesão crônica e que, acima de tudo, a verdade e a razão estavam desde o início consigo.

O homem que conquistou uma Frasqueira sem nunca ter chutado uma bola está de volta. Doutor Roberto Vital, que esse sorriso, no canto superior direito da página, erguendo a taça de campeão na foto de Humberto Sales, prevaleça em seu rosto e que você prove, com muito trabalho e dedicação, o quanto és vital para o ABC Futebol Clube.

Seja bem-vindo, de volta, ao seu consultório da bola, de onde nunca deverias ter saído.