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Os porquês: Para além dos dois lados da moeda

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Por Patrícia Alburqueque (Bacharelado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – (UFRN)

Era uma vez, uma menina risonha, inquieta e inquisitiva. Antes que falassem qualquer coisa ela já soltava seu acervo de porquês: “Por que o céu é azul?”; “Por que o sol aparece durante o dia e a lua apenas à noite?”; “Por que tenho que usar rosa e João azul?”; “Por que não posso ter o carrinho dos bombeiros?. Assim desenrolava-se a mente daquela criança, um quebra cabeça de perguntas sem respostas satisfatórias.

Aos domingos, durante os tão enfadonhos almoços de família, ela fazia uma inquisição a cada garfada, a proporção era de duas perguntas para cada parente, nem a famosa Torre de Babel com seus incontáveis idiomas teria tanto a dizer quanto àquela garota de cabelo tão rebelde quanto sua lingua.

Para ajudar a manter a sanidade nossa intrépida garota tinha quatro amigos imaginários: Por que; Porque; Por quê e Porquê. Curiosamente, eles surgiram quando ela achou uma gramática perdida dentre as coisas da tia e alegrou-se com tantas variações do porque, de certa forma sempre soube que não eram apenas suas perguntas que possuíam diversidade.

Os pais pensavam que passando a famosa fase dos quatro anos de idade ela melhoria, no entanto o passar dos anos só vez enriquecer seu vocabulário e o nível de suas perguntas, os deixando cada vez mais constrangidos e limitados. Sim, limitados, pois não conseguiam acompanhar o ritmo de tempestade de verão da filha.

Entretanto, cada pergunta recebida com respostas monossilábicas e repetitivas era mais uma gota de tristeza em seu açude do conhecimento. A dor de tantas perguntas sem respostas tolheu-lhe os movimentos e ela passou a não questionar tanto, a tentar satisfazer-se com o que as pessoas permitiam em suas relações sociais: a adoção de apenas dois pólos de afirmações, onde perguntas a mais não eram permitidas, sequer cogitadas no pensamento corriqueiro.

Desde 1603 Hamlet, obra do renomado Shakespeare (que dispensa apresentações), perpetua pela história da humanidade sua famosa frase “Ser ou não ser? Eis a questão.”, dita muitas vezes em momentos dramáticos onde o dualismo de opções se faz presente.  Somos acostumados a podar uma árvore de questionamentos e opiniões até que sobrem apenas dois frutos, onde finalmente poderão ser apreciados e defendidos.

Por que temos o costume de adotar apenas dois lados em uma discussão? Por que trabalhamos sempre um maniqueísmo onde a ideia com a qual simpatizo é a correta e a opinião contraria é incoerente, sem pensarmos, além disso?

Tal ciclo é muitíssimo entediante, temos que ir além, só assim poderemos ficar com a mente atordoada de questionamentos antes de dormir e no mundo dos sonhos teremos a satisfação de respondê-los. Somente quando sairmos dos dois lados da moeda conseguiremos discutir sem medo de nos perder no horizonte.