Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira (Doutor em Ciências Sociais)
_________________________________________________________________
No outro texto que eu publiquei anteriormente a este, eu traduzi o que pensei ser o essencial da matéria jornalística sobre os mandados de detenção contra centenas de militantes sociais ecologistas (boa parte deles anarquistas e pequenos agricultores orgânicos), cumpridos neste fim de semana (mais de 300 pessoas estão presas) sob a égide da Lei do Estado de Urgência na França.
Agora, lhes trago outro artigo do Jornal “Le Monde” (publicada no Domingo 29 de Novembro), desta vez, traduzindo apenas as conclusões da matéria, porque, além de estar sem tempo, fiquei demasiado chocado com a escalada de arbitrariedades e autoritarismos que está se passando na França, e confesso que isso me deixou um pouco “prostrado moralmente.”
Por favor, procurem traduzir e ler esta matéria, porque ainda no meio da leitura me veio um mal estar enorme, mas, adianto que trata-se aí de uma batida policial ocorrida Domingo passado, dia 22, na casa de um homem com idade em torno dos trinta anos, com emprego e domicílio fixos e bem estabelecido, que, ao não atender de pronto às batidas que ouviu em sua porta por volta das 23:30h da noite, teve sua porta explodida, sua casa invadida e foi obrigado, de pronto, a deitar-se no chão e logo foi algemado e colocado no banheiro, enquanto QUEBRAVAM todo o seu apartamento.
A polícia!
Detalhe: este homem é um muçulmano praticante e, durante a ação, alguns policiais fizeram chacota da sua fé, dizendo – segundo ele -: “ele não está ajoelhado na direção de Meca”.
Amig@s, é necessário q se crie uma mobilização internacional contra este estado de coisas, pois, como demonstra o filme “A Estratégia do Choque” (ver no youtube), tenho certeza que isto se trata de uma estratégia internacional do grande capital, que visa mundializar aquilo que eu tenho chamado de “democradura” (não é à toa que prenderam centenas de militantes ecologistas sob o argumento de “proteção” da cúpula da COP 21) e, portanto, se nada for feito contra isto, num futuro próximo, todos estaremos vivendo de fato o “1984” (livro de George Orwell) capitalista, e, pior, ainda por cima vendo a maior parte da sociedade gostando e pedindo mais disto.
Sem mais.
Eis a tradução da matéria:
Etat d’urgence: « S’ils sont venus chez vous, c’est qu’il y a quelque chose » – Estado de Urgência : « Se eles vão na sua casa, é porque tem alguma coisa »
“Mais l’appartement est “totalement dévasté”, déplore le locataire, photos à l’appui. “Quel est l’intérêt de casser ces choses ? Pourquoi mettre des coups de couteaux dans des habits ? Ils ont gagné quoi à arracher mes rideaux ?”
« Mas, o apartamento está « totalmente devastado », lamenta o locatário, com as fotos como prova.»
« Qual é o interesse de quebrar estas coisas ? Por que dar facadas nas roupas? Eles ganharam o quê rasgando minhas cortinas?»
« D’autant que la perquisition nocturne n’a rien donné. Lucien en résume les derniers instants : “A la fin, une dame est venue me voir. Elle m’a dit : ‘Il faut que vous signiez la feuille’. Je lui lui ai demandé : ‘Madame, je peux la lire ?’ Elle m’a dit oui. J’ai lu dans les grandes lignes, j’ai vu qu’il y avait mon nom, que ça parlait de l’état d’urgence, de suspicions terroristes et tout ça… J’ai demandé : ‘Il y a un double pour moi ?’ Elle a répondu que non. ‘Ben je ne signe pas madame’. Elle m’a dit : ‘Si vous ne signez pas, merci, au revoir.’ Je n’ai rien signé et ils sont repartis comme ils sont venus.” Il n’a même pas été interrogé. Contactée à plusieurs reprises par Le Monde, la préfecture de Seine-Saint-Denis n’a pas donné suite, pour l’instant, à nos demandes d’information concernant cette perquisition. Impossible donc de savoir précisément ce qui a justifié l’opération de police. »
« Tanto que a busca noturna não deu em nada. Lucien resume os últimos instantes: « Ao final, uma mulher veio me ver. Ela me disse: « ‘É preciso que você assine a folha’. Eu lhe perguntei: ‘Senhora, eu posso ler ?’ Ela me disse sim. Eu li nas grandes linhas (no geral), eu vi que tinha meu nome, que isso falava do estado de urgência, de suspeitos terroristas e tudo isso… Eu perguntei : ‘tem uma cópia para mim ?’ Ela respondeu que não. ‘Bem eu não assino madame.’ Ela me disse : ‘se você não assina, obrigado, até a próxima’. Eu não assinei nada e eles partiram como vieram .» Nem mesmo interrogaram. Contactada várias vezes pelo « Le Monde », a prefeitura (de polícia) de Seine-Saint-Denis não deu retorno, até agora, a nossas solicitações de informações sobre esta busca. Impossível então de saber precisamente o que justificou a operação da polícia. »
“C’est de la méchanceté pure et simple. Je l’ai ressenti comme ça. Ils m’ont laissé chez moi, ça veut dire qu’ils n’ont rien à me reprocher. S’ils avaient le moindre doute, ou trouvé la moindre chose suspecte, ils m’auraient emmené au commissariat. L’intervention qui a eu lieu ici est un manque total de respect. C’est : ‘On a les droits, vous n’en avez aucun.'”
« É maldade pura e simples. Eu senti assim. Eles me deixaram em minha casa, quer dizer que eles não tinham nada para me reprovar.Se eles tivessem a menor dúvida, ou encontrassem a menor coisa suspeita, eles teriam me levado ao comissariado. A intervenção que teve lugar aqui é uma total falta de respeito. É : ‘Nós temos os direitos, você não tem nenhum.’ »
« Même s’il ne s’y attendait pas, Lucien, qui assure n’avoir aucun antécédent judiciaire, n’est pas choqué par le principe même de la perquisition, mais la manière dont s’est passée la venue des policiers le gêne. “Ils seraient venus et m’auraient dit : ‘C’est la police, on veut vérifier’, je leur aurais répondu : ‘Rentrez, vérifiez.’ Au contraire, ça les aurait rassuré et moi je leur prouvais que je n’avais rien à cacher. Mais ils n’ont rien dit.” »
Mesmo que ele não esperasse isso, Lucien, que garante não ter nenhum antecedente judiciário, não está chocado pelo princípio mesmo da busca, mas a maneira como se passou a vinda dos policiais o incomoda. « Eles viriam e me teriam dito : ‘É a polícia, se quer verificar’, eu lhes teria respondido : ‘Entre, verifique.’ Pelo contrário, isso lhes teria assegurado e eu lhes provaria que não tinha nada a esconder. Mas eles não disseram nada.’ ».
“. Lundi 23 novembre, Lucien s’est rendu au commissariat pour se procurer un papier attestant de la perquisition. “A l’accueil un policier a osé me dire : ‘Vous êtes sûr que c’est la police qui est venue chez vous ?’ Une dame m’a dit : ‘S’ils sont venus chez vous, c’est qu’il y a quelque chose. Ils ne viennent pas pour rien’.”
« Segunda 23 de Novembro, Lucien foi ao comissariado para procurar um documento comprovando a busca. « Na recepção um policial ousou me dizer : ‘Você está certo que foi a polícia que veio na sua casa ?’ Uma senhora me disse : ‘Se eles vieram na sua casa, é porque tem alguma coisa. Eles não vêm por nada.’ »
Ballotté entre la préfecture et le commissariat, Lucien n’a pas encore réussi à se procurer le document prouvant que la police est intervenue chez lui. Il dit en avoir besoin pour pouvoir se faire rembourser la porte par l’office public HLM. Lucien n’a toujours pas d’avocat mais envisage de porter plainte. Sans se faire trop d’illusions. Il a pris une semaine de repos et compte peut-être en reprendre une autre. Difficile de reprendre ses habitudes. “Avant, je vivais normalement. Maintenant, j’ai l’impression que tout le monde me regarde. Je rentre chez moi le soir, je regarde derrière moi. Vous devenez parano.”
Entre a prefeitura (de polícia) e o comissariado, Lucien não conseguiu ainda o documento provando que a polícia interveio na sua casa. Ele disse precisar disto para poder ter reembolsado (o valor da) sua porta pelo escritório público HLM. Lucien não tem ainda advogado mas quer prestar queixa. Sem muitas ilusões. Ele tirou uma semana de repouso e espera talvez triar outra. Difícil retomar seus hábitos. « Antes, eu vivia normalmente. Agora, eu tenho a impressão que todo mundo me observa. Eu entro em minha casa à noite, eu olho atrás de mim. Você vira paranoico. »
Para terminar, traduzo apenas dois, das centenas de comentários feitos por cidadãos franceses abaixo da matéria :
– Primeiro comentário : « Combien faudra-t-il de témoignages comme celui-ci pour que le gouvernement comprenne qu’il a ouvert la boîte de pandore des pratiques fascistes ?
« La police partout, la justice nulle part », Victor Hugo… 1851
Merci pour ce travail journalistique de salut public. »
Quantas testemunhas como esta serão necessárias para que o governo compreenda que abriu a caixa de pandora das práticas fascistas ?
« A polícia por todo lado, a justiça em nenhuma parte », Victor Hugo… 1851.
Obrigado pelo trabalho jornalístico de saúde pública. »
– Segundo comentário : « Moi je refere nettement avoir mon appartement saccagé et um oeil au beurre noir, et que cela arrive à tous um voisins, si au bout du compte cette opération de grande envergure permet de choper um terroriste.
J’accepte largement les pots cassés de la politique sécuritaire si cela permet d’épargner ne serait-ce qu’une vie d’um innocent. »
« Eu prefiro sinceramente ter meu apartamento saqueado a noite, e que isto aconteça a todos os meus vizinhos, se no final das contas esta operação de grande envergadura permitir pegar um terrorista.
Eu aceito grandemente as coisas quebradas pela política de segurança se isto permitir economizar a vida de um inocente. »
P.S. : Quero lembrar que trata-se aqui de comentários de cidadãos franceses sobre o estado de seus direitos civis em pleno Século XXI, e não de comentários de cidadãos brasileiros sobre a sua polícia, muito menos de brasileiros do período do « governo militar»…
P.S.: E lembremos que a “Lei Anti Terrorismo” do Brasil já está a caminho.
Eis o link para a matéria completa: